Triste coincidência, hoje, após publicar o tópico deste post, soube do falecimento desse grande diretor Mike Nichols, aos 83 anos, fica aqui a singela homenagem ao grande mestre - 06/11/1931 - 20/11/2014
TRILHA ORIGINAL
The Sound of Silence - (Simon & Garfunkel)
A trilha sonora é de Simon&Garfunkel. Suas músicas pontuam e definem todos os momentos do filme. A primeira música a ser tocada é The Sound of Silence. Outra que fez muito sucesso foi Mrs. Robinson, que se encontra na 6ª posição entre as 100 melhores músicas do cinema.
A Primeira Noite de um Homem (The Graduate, 1967)
Há muito que eu queria assistir
ao filme A Primeira Noite de um Homem. Sempre lia comentários acerca das
interpretações dos atores, da trilha sonora, da direção eficiente de Nichols – diretor que trouxe às telas um
dos filmes mais devastadores que eu conheço: Quem Tem Medo de Virginia Woolf? (1966) –, além das sempre
comentadas cenas antológicas, principalmente aquele momento no começo, quando o
protagonista pergunta a uma mulher mais velha – Mrs. Robinson, a que irá
iniciá-lo – se ela está, afinal, tentando seduzi-lo. Se o filme fala sobre uma
iniciação, não me furto a brincadeira: é também uma iniciação para o espectador
que, como eu, conhecia pouco sobre o universo cômico-romântico já ofertado por
esse diretor.
Katharine Ross e Dustin Hoffman
Conhecer os títulos mais
dramáticos de Mike Nichols – além da
obra já citada de 1966, também Silkwood –
Retrato de uma Coragem (1983) e Closer
– Perto Demais (2005) – e gostar deles fez com que eu o admirasse ainda
mais, sobretudo por compreender a sua eficácia em dominar também o humor
elogiável e o romance adequado que são misturados com equilíbrio em sua
narrativa aqui. A história de Ben Braddock, rapaz recém-formado da faculdade,
registra algum drama, mas é, sobretudo, na dissolução desse drama que o enredo
se apresenta – o rapaz mal chega em casa e já é recepcionado por inúmeros parentes
e amigos dos seus pais que há muito ele não vê e de quem pouco se lembra, todos
festejando algo que ele próprio parece não entender muito bem – ele, afinal,
apenas se graduou e rever tantos rostos semi-conhecidos não é de fato algo que
lhe interessa agora. Uma mulher, no entanto, lhe desperta a atenção, porém não
sem pouco esforço por parte dela: ela começa a seduzi-lo, a inseri-lo num mundo
que até então lhe era bastante desconhecido – o do desejo e da sexualidade.
Anne Bancroft
O título que o filme recebeu no Brasil
é bastante impreciso e, mais do que isso, extremamente equivocado. A vida de Ben
Braddock não nos é narrada com enfoque na sua primeira vez – o que encerraria o
enredo num momento bastante específico de sua jornada. O foco do filme está
justamente no seu aprendizado, no modo como o jovem se transforma de rapaz
ingênuo em obstinado, naquilo que ele aprende ao longo da tutoria de Mrs.
Robinson, mulher que fará de sua vida um prazer e um inferno, ao mesmo tempo. A
dualidade dela é bastante visível, exercendo nele um poder bastante ferrenho,
criando nele uma série de dúvidas em relação à figura da mulher cuja idade se
equipara à de sua mãe. Se, logo no começo, ela se despe com intensidade – seja
literalmente, seja nas conversas (ela inclusive lhe conta que era alcoólatra)
–, mais tarde ela se afasta dele, mantendo-se despida fisicamente, mas
impedindo que seus diálogos tanjam uma intimidade mais profunda que aquilo que
o sexo permite. Uma grande amostra do processo de amadurecimento do rapaz: ela
o ensina a sorver o sexo sem a insegurança e o afobamento de adolescente, mas,
em contrapartida, ensina-o a frieza do sexo descompromissado. Ela é, afinal, a graduação a que o título original se
refere; ela é a escola da vida pela qual Ben precisava passar antes de verdadeiramente
graduar-se.
Provavelmente – além da
fantástica trilha sonora, a qual retomarei em breve – o que mais gosto nesse
filme é da edição rápida e da câmera adotada por Nichols que sempre insere o espectador na visão do personagem. Dois
momentos são fundamentais para a compreensão dos elementos que citei: primeiro quando
Ben vê Mrs. Robinson nua pela primeira vez e depois quando os seus pais o
obrigam a entrar na piscina vestindo traje de mergulho a fim de exibi-los – o
filho e as suas habilidades – aos amigos. A primeira cena nos apresenta a
perturbação de Ben ante a visão daquela nudez, tão assustadora quanto
voluptuosa: não à toa, ele observa todo o corpo, a edição nos ajudando a
acompanhar o furor, o desajeitamento e velocidade com a qual o rapaz lança
olhadelas para Mrs. Robinson, que não hesita em perturbá-lo cada vez mais. Não
fosse aquela edição fantástica, que nos permite ver exatamente o que o
personagem vê – isto é, sentir o que ele sente também, compactuar com seu
conflito –, decerto todo o efeito desejado se perderia. E digo o mesmo acerca
das escolhas de Nichols, como no caso da segunda cena que citei: o rapaz se vê
tão aprisionado naquela bobagem a que os pais o submetem que sua visão
periférica se vê totalmente retalhada, restando-o apenas olhar pra frente
(provavelmente devido à vergonha que sente por estar ali) e enxerga apenas
através de um pequeno círculo, o que intensifica a nossa sensação de agonia e,
mais uma vez, faz com que saibamos efetivamente o que o rapaz sente naquela
situação.
Dustin Hoffman e Anne Bancroft
O filme potencialmente perderia
seu grande charme se não fosse essa magnífica trilha sonora, que acompanha a
trajetória da trama do começo ao fim, sempre apresentando canções que parecem
combinar perfeitamente com aquilo que é mostrado. Sem falar, é claro, numa
música especial – especialíssima –, chamada “Mrs. Robinson”, escrita por Paul
Simon e exaltando todas as características que orbitam o universo próprio que
Mrs. Robinson é – when you’ve got to
choose, every way you look at it, you lose. E penso que nenhuma personagem
da trama poderia fazer mais jus a uma música em homenagem a si do que Mrs.
Robinson e isso acontece justamente porque Anne
Bancroft tem uma interpretação tão magistral que ela faz com que sua
personagem coadjuvante se torne protagonista da trama – seus olhares, sua
postura desafiadora e inabalável, seu tom de voz sedutor, seu humor
aristocrático, sua beleza que, fugindo do fulgor da juventude, parece se
reafirmar ainda mais na segurança da meia-idade. Linda, inesquecível! Tão
potente é a interpretação de Bancroft que
nem mesmo reparamos em Dustin Hoffman , o
verdadeiro protagonista do longa-metragem, quando ele e ela dividem cenas. Um
dos melhores momentos da trama, a meu ver, no que concerne à realização de Nichols, acontece na primeira noite de
Ben. O embate entre os personagens é maravilhoso, mostrando a dicotomia das
experiências de mundo dos dois: ele, ingênuo, afoito, agarra-lhe o seio
enquanto ela se despe tranquilamente; depois, na crise de consciência que ele
tem, advinda também por causa de sua insegurança – embora ele não revele a ela,
aquela é, afinal, sua primeira vez –, os dois dialogam rapidamente antes de,
por fim, transarem. Não vemos a cena, mas tudo o que a antecede é justamente um
delicioso prólogo de extremo bom gosto estético para aquilo que nossa mente irá
criar logo em seguida.
É evidente que a direção
de Mike Nichols não se sustenta por si só, nem é a trilha sonora apenas
que garante a total atenção do espectador. Anne Bancroft, a alma do
filme, decerto seria diminuída não fosse o roteiro que lhe favorece, bem
como favorece a Hoffman e a Katharine Ross – linda! –, que interpreta a
filha de Mrs. Robinson, com quem Ben Braddock evidentemente acabará
envolvido, o que acrescenta tom dramático à fita. O filme funciona como
um todo, uma série de elementos muito bem posicionados e usados em prol
do resultado final, que se mostra extremamente valoroso. Não se trata de
uma obra vazia que discute as relações sexuais de um jovem, mas uma
produção que, nas suas proporções, apresenta propostas ontológicas,
percorrendo o reconhecimento de um rapaz que primeiro se vê sem
propósito para, gradualmente – the graduate – compreender aquilo de que
verdadeiramente gosta e pelo que vale lutar. E não vejo como o filme
possa abster-se de uma abordagem sociológica: para mim, ele parece
percorrer bastante as metáforas que se fazem úteis ao longo de toda a
trama, num roteiro que claramente apresenta a juventude em oposição
àquilo que os mais velhos apregoam, e não é apenas o final do filme que
mostra isso com clareza – ao longo de toda a obra podemos ver a
distinção entre os jovens – Ben Braddock, Elaine Robinson, Carl Smith – e
seus pais, sempre indicados pela omissão do primeiro nome, dando-lhes
um caráter mais formal – Mr. e Mrs. Braddock, Mr. e Mrs. Robinson e Mr. e
Mrs. Smith. O filme se registra como uma excelente obra, havendo nela
relevância cinematográfica para que perdure por muitos anos como um
título inesquecível, tanto pelo seu conteúdo em si quanto pelo modo como
ele foi concebido – The Graduate, afinal, é um dos precursores do
movimento artístico que se denominaria New Hollywood e que consagraria
grandes outros títulos, como Sem Destino (1969), Cada um Vive como Quer
(1970), O Exorcista (1973) e Taxi Driver (1976), só para citar alguns.
CRÉDITO DO TEXTO: Luís Adriano Lima/espectadorvoraz
TRILHA ORIGINAL 2
Mrs. Robinson - (Simon & Garfunkel)
Mrs. Robinson, a canção de Simon & Garfunkel se tornou uma referência quando o assunto são trilhas de destaque. Quando foi lançada como single em 1968, chegou ao primeiro lugar da parada Billboard Hot 100, nos Estados Unidos, e ainda ajudou a dupla a ganhar o Grammy de Melhor Disco do Ano, em 1969. A faixa estava sendo composta por Simon para contar a história de Mrs. Roosevelt e a princípio não tinha nada a ver com a produção. Mas acabou se adaptando para se tornar o hino da Mrs. Robinson de Bancroft.
• Hoffman foi datilógrafo, zelador, garçom e vendedor de brinquedos. Alega que viveu abaixo da linha oficial da pobreza até os 31 anos. O sucesso de A Primeira Noite de Um Homem transformou sua carreira. Recebeu, inclusive, uma indicação ao Oscar. Anos depois ganhou o Oscar por sua participação em Kramer versus Kramer e Rain Man.
• Anne Bancroft recebeu a terceira indicação ao Oscar por sua atuação em A Primeira Noite de Um Homem. Ela quase recusou o papel, pois alguns amigos tentaram convencê-la de que a personagem era perigosa. Ela acabou imortalizada como Mrs. Robinson. Sua personagem foi o ponto alto do filme.
• Katharine Ross (Elaine) foi a professora de Butch Cassidy. Ela é hoje escritora de livros infantis.
• A trilha sonora é de Simon&Garfunkel. Suas músicas pontuam e definem todos os momentos do filme. A primeira música a ser tocada é The Sound of Silence. Outra que fez muito sucesso foi Mrs. Robinson, que se encontra na 6ª posição entre as 100 melhores músicas do cinema.
• Dizem que Doris Day rejeitou o papel de Mrs. Robinson alegando: – Isso ofende os meus valores morais.
• Robert Redford não foi escolhido porque não passava a imagem de um bobinho que nunca houvesse dado bem com uma garota.
• A perna que aparece nos cartazes promocionais do filme não pertence a Anne Bancroft, e sim a uma então desconhecida modelo, Linda Gray.
• Apesar de no filme parecer bem mais velha, na época das filmagens a atriz Anne Bancroft tinha 37 anos, apenas seis a mais que Dustin Hoffman.
• O carro utilizado por Dustin Hoffman, um Alfa Romeo Spider, teve com o sucesso do filme uma série especial nos Estados Unidos chamado de The Graduate (nome do filme em inglês).
• O sucesso do filme transformou a carreira de Dustin Hoffman e abriu as portas para todos os atores étnicos de Nova Iorque.
• Na época em que o filme concorreu ao Oscar, a competição configurava-se como: A Nova Hollywood com Bonnie e Clyde e A Primeira Noite de um Homem contra a Velha Hollywood com No Calor da Noite e Advinhe Quem Vem para Jantar.
• Em 2005, a Warner Bros. Pictures lançou o filme Dizem por aí…, que conta a história de A Primeira Noite de um Homem como se fosse verdadeira, através da personagem Sarah Huttinger (Jennifer Aniston) que acredita que sua família seja os Robinson de Pasadena descritos no livro de Charles Webb e no filme de Mike Nichols.
A Primeira Noite de um Homem (The Graduate) - 1967
SINOPSE
Benjamin Braddock acaba de retornar formado da faculdade. Meio perdido na vida, é seduzido pela mulher do melhor amigo de seu pai, bem mais velha. Não resistindo à tentação, Benjamin começa a viver a vida de uma maneira diferente do que seus pais desejavam, mas é a filha de Mrs. Robinson quem rouba o coração do rapaz. O filme prima pela sua trilha sonora e lança um certo Dustin Hoffman para o mundo. Oscar de Melhor Direção.
ELENCO E FICHA TÉCNICA
Título Original: The Graduate
Elenco: Dustin Hoffman, Anne Bancroft,
Katharine Ross, William Daniels,
Murray Hamilton, Elizabeth Wilson, Brian Avery.
Diretor: Mike Nichols.
Produção: Mike Nichols e Lawrence Turman
Fotografia: Robert Surtees
Música: Dave Grusin e Paul Simon
Roteiro: Calder Willingham, Buck Henry.
Origem e Ano: EUA - 1967
PRÊMIOS
Oscar 1968 (EUA)
Vencedor na categoria de melhor direção (Mike Nichols)
Indicado nas categorias de melhor ator (Dustin Hoffman), melhor atriz (Anne Bancroft), melhor atriz coadjuvante (Katharine Ross), melhor filme, melhor fotografia e melhor roteiro adaptado.
Globo de Ouro 1968 (EUA)
Vencedor nas categorias de melhor filme para cinema - comédia/musical, melhor atriz de cinema - comédia/musical (Anne Bancroft), melhor diretor de cinema - comédia/musical (Mike Nichols), melhor atriz estreante (Katharine Ross) e melhor ator estreante (Dustin Hoffman).
Grammy 1968 (EUA)
Vencedores: Dave Grusin e Paul Simon na categoria de melhor trilha sonora original escrita para cinema/TV/mídia. Título: The Graduate. Artistas: Simon and Garfunkel.
BAFTA 1969 (Reino Unido)
Vencedor na categoria de melhor direção, melhor filme, melhor edição, melhor ator estreante (Dustin Hoffman), melhor roteiro.
Indicado nas categorias de melhor atriz (Anne Bancroft) e melhor atriz estreante (Katharine Ross).
Este é um filme para ser visto de vez em quando. Sempre quando sentirmos saudades de nós mesmos. Quem nunca?
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