TRILHA ORIGINAL
Johnny Guitar (Peggy Lee)
A trilha sonora é um outro ponto alto desse faroeste, com ênfase para a bela canção-título, composta pelo famoso maestro Victor Young e por Peggy Lee, uma das maiores cantoras americanas dos anos 50, que também a interpreta.
Johnny Guitar - 1954
O Oeste das mulheres!
Não se engane com o título deste longa-metragem de 1954 dirigido por Nicholas Ray, hoje um dos mais cultuados cineastas da Hollywood dos anos 50. O filme não tem como personagem central o pistoleiro-violonista interpretado por Sterling Hayden que chega a um lugarejo esquecido por Deus em que nem mesmo existe ainda uma estação de trem. O centro da narrativa encontra-se em Vienna (a estrela Joan Crawford), ex-namorada de Johnny e agora dona de um misto de saloon e cassino quase entregue às moscas, tendo a esperança de ver os negócios melhorarem com a possível chegada da ferrovia. Para se manter estabelecida na localidade, contudo, ela tem de enfrentar a oposição de Emma Small (Mercedes McCambridge), uma fazendeira manda-chuva cheia de ódio e ressentimento porque o homem que ama, Dancin' Kid (Scott Brady), não retribui seu sentimento e é, em verdade, apaixonado por Vienna. Enquanto esta é admirada e desejada pelos homens da cidade, Emma sente-se a rejeitada e nutre desejos de vingança. Vienna então contrata o antigo amor, Johnny “Guitar” Logan, para ajudá-la a enfrentar os obstáculos que surgirão para continuar com seu empreendimento.
Joan Crawford
Vê-se, já de antemão, que esta é uma obra bastante passional, em que as ações dos personagens são norteadas por amores e ciúmes, uma espécie de western-romance-tragédia singular e talvez nunca repetido na história da Sétima Arte. Não por acaso, era um dos filmes preferidos de François Truffaut e Ray foi um dos cineastas mais amados pelos nomes da Nouvelle Vague. E não impunemente. Afinal, uma das medidas do talento e da genialidade de um artista é a capacidade que tem a sua obra de manter-se atual mesmo depois de décadas de sua confecção. No caso, “Johnny Guitar” não somente se manteve atual como também esteve mesmo à frente do seu tempo, apresentando um modelo de comportamento feminino que só iria se tornar mais comum umas três décadas depois. Tanto Vienna quanto Emma são mulheres fortes e independentes ao redor das quais giram os tipos masculinos da narrativa, os quais parecem estar ali apenas para servi-las. A diferença entre as duas está no bom coração da primeira. Ou seja, o filme não envelheceu absolutamente nada. Pelo contrário, é até mais verossímil hoje do que quando do seu lançamento. Por outro lado, além desse seu lado “feminista”, digamos assim, há um subtexto político anti-Macarthismo presente na trama, mormente por meio do personagem de Turkey (Ben Cooper) que é obrigado à delação diante de uma verdadeira caça às bruxas promovida por Emma e asseclas. Situação similar foi vivida realmente pelo ator Hayden diante do malfadado comitê de atividades anti-americanas que aterrorizava artistas e intelectuais à época.
Mercedes McCambridge
Scott Brady, Joan Crawford e Sterling Hayden
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Outra vertente em que Ray subverte o gênero é na utilização das cores. Normalmente, o Western privilegia as paisagens como foco da fotografia, destacando a imensidão da natureza frente à insignificância dos homens como forma de acentuar ainda mais a coragem e persistência destes (John Ford foi um mestre nesse quesito). Aqui, entretanto, Ray, usando da tecnologia denominada Trucolor (que dava mais destaque ao colorido na captação das imagens), privilegiou as cores dos figurinos, geralmente fortes e contrastantes, os quais, em boa medida, traduzem os sentimentos dos personagens. Memorável a cena em que Emma e seu grupo, todos trajando preto, invadem o saloon como abutres procurando uma presa e encontram Vienna com um vestido inteiramente branco em contraste com a parede rochosa e vermelha ao fundo. Uma cena de acabamento barroco belíssima e memorável. Além disso, Ray privilegia aqui os cenários interiores, com longas sequências se passando em ambientes fechados – logo nos primeiros momentos, inclusive, temos uma bastante extensa (mas jamais cansativa) em que somos apresentados a todos os personagens e tomamos pé das situações, em um verdadeiro show de concisão e clareza de roteiro e edição.
Joan Crawford e Sterling Hayden
Realizado com orçamento limitado pelos
estúdios Republic (que iriam à falência 4 anos depois), “Johnny Guitar”
revela-se um dos faroestes mais atípicos já filmados, tanto na forma
como no conteúdo, estando bastante à frente do seu tempo, como já
salientado, o que inevitavelmente já o coloca entre os melhores
representantes do gênero. Seu resultado é tão belo quanto sua canção
tema, composta por Victor Young e Peggy Lee (esta também intérprete),
música que põe a cereja no bolo desta obra impecável do fantástico
Nicholas Ray, um diretor que hoje costuma ser muito lembrado por seu
trabalho em“Juventude Transviada” (Rebel Without a Cause, 1955). Eu,
particularmente, considero este western não tão famoso até superior ao
drama protagonizado pelo mítico James Dean, longa que hoje me parece um
pouco datado. “Johnny Guitar”, inversamente, com suas mulheres fortes e
homens apaixonados, parece ter sido feito ontem.
CRÉDITO DO TEXTO: Cinema com Pimenta
CRÉDITO DO TEXTO: Cinema com Pimenta
Vienna é a dona do saloon, constantemente ameaçada pelos rancheiros que
querem sua propriedade por causa da passagem da ferrovia. O minerador
Dancin'Kid é acusado de matar num assalto à diligência um dos
rancheiros, irmão de Emma. Vienna chama seu ex-amante e pistoleiro
Johnny Guitar, para ajudá-la a manter os rancheiros afastados. Emma, que
ama Dancin'Kid, tem ciúmes dele com Vienna e quer enforcá-la,
acusando-a de participar do crime que matou seu irmão. As duas se
confrontam numa última luta inusitada e mortal.
Elenco e Ficha Técnica:
Elenco: Joan Crawford, Sterling Hayden,
Mercedes McCambridge, Scott Brady,
Ernest Borgnine, Ward Bond,
John Carradine,
Direção: Nicholas Ray
Musica: Peggy Lee and Victor Young
Produtor: Herbert J Yates
Roteiro: Roy Chanslor (romance)
Philip Yordan (roteiro)
Ben Maddow, Nicholas Ray
Produtor: Herbert J Yates
Roteiro: Roy Chanslor (romance)
Philip Yordan (roteiro)
Ben Maddow, Nicholas Ray
Gênero: Faroeste
Origem e Ano: EUA - 1970
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