Claro que foi uma licença artistica usar "Midnight, The Stars And You" de Al Bowlly & Ray Noble Orchestra cantando em um ballroom na swinging London, e quando termina o filme mostrando a foto no hotel datada de 1921, mas a música originalmente tem como data de sua gravação o ano de 1932. Bowlly só chegou a Londres em 1928, era moçambicano, nasceu em Lourenço Marques, então colonia portuguesa. Mas a maioria das musicas foram feitas por Krzysztof Penderecki, na época foi considerada a trilha sonora mais assustadora de filme de terror, dando uma sensação de ação e terror nos gestos dos atores e nos sons. Assim aumentando mais o terror psicológico do filme. As Musicas Utrenja - Ewangelia e Utrenja - Kanon Paschy (sabe aquelas do final onde Wendy se encontra com o cara e o urso no quarto...) na verdade eles cantam sobre a procissão de Cristo em holandês, de uma forma bem sinistra...
O Iluminado (The Shining) - 1980
Stanley Kubrick, figura rara dentro da
história do cinema, teve a carreira marcada pela sua postura cética a
respeito do ser humano, e por ser dono de uma estilística incomparável,
que sempre buscava a perfeição em cada take. Visto pela crítica como um
diretor extremamente intelectual, Kubrick tinha um tema recorrente em
suas produções: a guerra. Com o passar dos anos, a fórmula pesada que o
diretor utilizava, começou a criar um certo desgosto por parte do
público, fazendo com que o diretor deixasse os EUA, e caminhasse para a
Inglaterra, onde trabalhou até seus últimos anos de vida.
Depois
de realizar alguns trabalhos na fase britânica, dentre eles: "2001 -
Uma Odisseia no Espaço" e "Laranja Mecânica", obras que consagraram a
filmografia do diretor, Kubrick parte para uma temática que, até então,
era incompatível com o seu perfil intelectual. Como já era de se
esperar, a crítica apedrejou "O Iluminado". O diretor chegou a ser
criticado pelo próprio Stephen King, autor do livro no qual o filme foi
baseado, que considerava Kubrick como um homem muito frio, incapaz de
trazer uma abordagem agradável, para um tema tão impactante. Anos
depois, após toda essa resistência, "O Iluminado" começava a ganhar seu
verdadeiro reconhecimento, provando que Kubrick era dono de uma
versatilidade invejável, e que estava pronto para deixar o espectador
boquiaberto, a cada filme que fosse produzido.
Início do rigoroso
inverno americano. Jack Torrance (Jack Nicholson) é contratado para
passar alguns meses, dentro de um hotel, juntamente com a sua esposa
(Shelley Duvall) e seu filho (Danny Lloyd), para cuidar das dependências
do local, durante essa estação do ano. O que parecia ser uma boa
experiência para o pai de família, que buscava mais tranquilidade para
escrever o seu livro, acaba virando um pesadelo terrível, quando a
solidão acaba afetando o convívio dos três. Cercados de neve por todos
os cantos, o hotel vira palco de acontecimentos inexplicáveis, onde a
loucura perambula pelos longos corredores. Deslumbrante em cada take.
Uma atmosfera tão pesada, que o espectador fica tenso, vendo apenas uma
tela preta, com as seguintes palavras: Terça-Feira. Belíssima observação
de Janet Maslin, crítica do New York Times, que defendia o trabalho do
diretor americano, e, principalmente, sua mudança de estilo.
Com
um roteiro sólido, e com certas modificações, em relação ao material que
deu origem ao filme, Kubrick consegue conduzir o filme da maneira mais
correta possível, acertando em cheio, ao utilizar certa ambiguidade no
desenvolvimento da estória. Até um determinado ponto crucial do filme, o
espectador não consegue saber se tudo aquilo que acontece pode ser
justificado pela insanidade do personagem de Jack Nicholson, ou se o
hotel é palco de atividades sobrenaturais. Essa dúvida é solucionada,
entretanto, no belo desfecho, o diretor dá espaço para outras abordagens
possíveis. Kubrick termina o seu filme, mas deixa o espectador pensando
por horas. Para uma pessoa tão fria, como Stephen King comentou, o
americano conseguiu criar um universo de proporções indescritíveis.
O trabalho de câmera é fundamental para aprimorar a atmosfera soturna. Com o uso predominante da steadicam,
que proporciona uma filmagem sem os trancos gerados pelos movimentos do
corpo, além de facilitar o movimento entre os cenários, sem a
utilização de cortes, o diretor opta por uma filmagem com planos
abertos, para aumentar o sentimento de solidão, dentro de cada cena. As
proporções dos cenários e dos personagens, colaboram para esse vazio
aterrorizante. Outra técnica utilizada, é a de filmar os personagens de
costas, como se os mesmos estivessem sendo perseguidos. O espectador,
devido ao clima criado, encara a filmagem de forma subjetiva, sempre
esperando alguém aparecer, mas não, Kubrick apenas vai preparando o
espectador para os próximos minutos.
Costumam dizer que o papel
de Jack Nicholson, em "O Iluminado", marcou a sua carreira. Quem diz
isso, está coberto de razão. Kubrick se preocupava muito com os atores
que escalava para os seus filmes, e quando escolheu Jack Nicholson para
viver o personagem Jack Torrance, o diretor disse que encontrou a pessoa
mais apropriada, afinal de contas, sua aparência já trazia um
diferencial assustador. Por mais que um ator tente trabalhar suas
feições, jamais vai superar algo que é natural. O profissionalismo do
ator acabou encantando o diretor, durante o período das gravações.
Nicholson foi além do que o roteiro dizia, improvisando em certos takes,
e trazendo um charme a mais, para a produção.
Na antológica cena em que
o seu personagem quebra a porta com um machado, e Jack aproxima o rosto
do vão, dizendo: "Here's Johnny!", notamos uma ligação com a abertura
do programa de Johnny Carson, que era bem famoso, na TV americana. Em
outro momento que Jack extravasa os limites do roteiro, é a cena em que
ele joga a bola de tênis contra as paredes do saguão. Neste caso, o
roteiro apenas anunciava: Jack não está trabalhando. Uma atuação brilhante. É impossível imaginar outro profissional na pele de Jack Torrance.
A
escolha de Shelley Duvall também seguiu o padrão supracitado. O diretor
dizia que sua aparência era a mais pura representação da impotência, e
ele precisava de uma atriz que demonstrasse uma degradação psicológica
extremamente verossímil. Por causa do seu perfeccionismo, e da sua
intenção de buscar a espontaneidade do seu elenco, Kubrick fazia questão
de gravar os mesmo takes, por mais de 30 vezes. Essa atitude do
diretor, acabava frustrando os atores. Em certa cena em que Scatman
Crothers - interpretando o personagem Dick Hallorann - participa, o
americano fez com que ela fosse rodada mais de 40 vezes, fazendo com que
o ator veterano começasse a chorar, devido ao imenso desgaste. Outro
grande atrativo do elenco era o jovem Danny Lloyd. Como a estória de "O
Iluminado" tinha um forte tom macabro, o diretor organizou as cenas em
que ele aparecia, para serem gravadas de forma rápida, e sempre com a
presença dos pais. Como o garoto tinha apenas 7 anos, Kubrick fazia
questão de protegê-lo contra qualquer choque que ele pudesse ter, por
perceber a verdadeira temática de sua produção. Essa ligação dos dois,
acabou gerando um grande companheirismo entre eles.
A
cenografia de "O Iluminado" é mais um dos grandes atrativos da obra.
Para decidir os melhores ambientes possíveis, o desenhista de produção,
Roy Walker, entrou em cena, pedindo para que diversos fotógrafos
tirassem fotos dos mais diversos hotéis que conheciam. Com base nessas
fotos, começaram a montar os cenários do filme. Elogiar esse quesito, é
fundamental. O clima não seria o mesmo, sem a combinação da direção de
arte, com a fotografia. A caracterização de cada ambiente é minuciosa, e
conquista o público pelo trabalho apurado. Da cena do luxuoso baile, às
tomadas exteriores. O perfeccionismo de Kubrick é uma grande qualidade,
sem dúvida alguma. Sobre a fotografia, ressalto o incrível jogo de
luzes. Adotam uma tonalidade que remete ao fantasmagórico, dando
destaque para as cenas do labirinto. Tudo é friamente calculado para
causar um verdadeiro efeito pertubador, no espectador. Por mais que os
ambientes sejam espaçosos, acabamos presenciando algo de caráter
claustrofóbico, mediante ao produto de imagem e som, trabalhando juntos.
Formada por composições de vários músicos, como por exemplo: Krzysztof
Penderecki, que também contribuiu para "O Exorcista", de William
Friedkin, a trilha sonora acompanha o ritmo do filme, com suas notas que
alternam entre o depressivo e o lúgubre.
Uma experiência
cinematográfica divina. Um passeio marcante entre a insanidade e o
sobrenatural, protagonizado por personagens que beiram a loucura,
amedrontando e fascinando o espectador, ao mesmo tempo. A resistência da
crítica não passava de um mero protesto contra a mudança repentina do
diretor, entretanto, quando estamos falando de uma obra-prima, nada
consegue ofuscar os seus lampejos. O americano, começando pelos quesitos
básicos, consegue levantar mais uma das produções que marcaram sua
carreira. Por mais que o seu perfeccionismo, por vezes, fosse encarado
de forma negativa, não dá pra negar que outro diretor dificilmente teria
o mesmo apreço, seja com a filmagem, com a estética, ou até mesmo, com a
escolha a dedo, do seu elenco. Pela frente das câmeras, brilhou Jack
Nicholson, por trás das câmeras, brilhou um gênio, chamado: Stanley
Kubrick.
CARTAZES DO FILME
CURIOSIDADES
Quando ainda estava em busca de um novo projeto para o cinema, Stanley Kubrick pesquisou vários livros até achar um que o interessasse. Foi quando, ao pesquisar nos livros que estavam em seu próprio escritório, ele encontrou "The Shining", de Stephen King, resolveu lê-lo e, posteriormente, transformá-lo em filme.
No livro "The Shining" o apartamento onde o filme se desenrolava era o
de número 217. Atendendo a um pedido do dono do hotel onde O Iluminado
foi filmado, que temia que as pessoas não alugassem o quarto 217 por
causa do filme, o número do apartamento foi alterado para 237,
inexistente no hotel em que o filme fora rodado.
Stanley Kubrick rodou nada mais nada menos do que 127 vezes uma cena com a atriz Shelley Duvall, até que ela ficasse do jeito como o diretor queria.
Durante o making of de O Iluminado era comum o diretor ligar de madrugada para o escritor Stephen King e fazer-lhe perguntas tipo se ele acreditava em Deus.
Sempre que o personagem Jack Torrance falava com um "fantasma" no filme havia um espelho em cena.
O fato quase não é mencionado no filme, mas o hotel Overlook havia sido construído em cima de um cemitério indígena. Na época das obras, muitos índios foram mortos. Há quem interprete o filme como a história da extermínio dos índios americanos .
O diretor, famoso por sua compulsividade e perfecionismo, conseguiu filmar a cena do sangue no elevador em apenas três tomadas. Fácil? Que nada! Foram nove dias só para preparar a cena. Ele teria dito várias vezes: “não parece sangue”. Segundo o livro dos recordes, “O Iluminado” é imbatível no quesito número de tomadas por uma cena. Na cena em que Wendy foge de Jack pela escada, foram 125 tomadas.
As cenas de Danny
andando de velocípede foram feitas com steadicam (um aparelho usado na
cintura do cinegrafista onde é acoplada a câmera para que ela não
trepide). O longa foi o primeiro a utilizar o equipamento.
A trilha sonora
do filme de 1980, a maioria das musicas foram feitas por Krzysztof
Penderecki, na época foi considerada a trilha sonora mais assustadora de
filme de terror, dando uma sensação de ação e terror nos gestos dos
atores e nos sons. Assim aumentando mais o terror psicológico do filme.
As Musicas
Utrenja - Ewangelia e Utrenja - Kanon Paschy (sabe aquelas do final
onde Wendy se encontra com o cara e o urso no quarto...) na verdade
eles cantam sobre a procissão de Cristo em holandês, de uma forma bem sinistra...
Here's Johnny! (The Shining)
O Iluminado (The Shining) - 1980
SINOPSE
Jack Nicholson é o escritor que se muda
com a família para um hotel que permanece fechado durante o inverno. Ele
só quer um lugar tranquilo para escrever. Mas tranquilidade é a última
coisa que ele e o espectador vão encontrar. Com a direção precisa de
Stanley Kubrick, que gera medo só de passear com a câmara pelos
corredores e espaços vazios do hotel este clássico do terror se baseia
em uma história de outro mestre, Stephen king. É impossível ficar imune à
interpretação alucinada e arrepiante de Nicholson e à delirante
transformação de seu personagem.
ELENCO E FICHA TÉCNICA
Elenco: Jack Nicholson, Shelley Duvall,
Danny Lloyd, Scatman Crothers,
Barry Nelson, Philip Stone, Joe Turkel
Barry Nelson, Philip Stone, Joe Turkel
Direção: Stanley Kubrick
Produção: Stanley Kubrick
Roteiro: Stanley Kubrick,
Diane Johnson
País e Ano - EUA - 1980
Gênero: Terror psicológico
Baseado em: O Iluminado de Stephen King
Montagem: Ray Lovejoy
Música: Wendy Carlos e Rachel Elkind
Fotografia: John Alcott
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