30 de outubro de 2014

Doutor Jivago, (1965)





TRILHA ORIGINAL
Lara's Theme (Maurice Jarre)

Maurice Jarre, recentemente desaparecido aos 82 anos, foi um dos maiores gênios das trilhas sonoras para o cinema. Sua carreira musical começou nos anos 50 em curta-metragens de seu país de origem, a França. No entanto, seu primeiro grande sucesso foi em Lawrence da Arábia, o que lançou definitivamente sua parceria com o realizador David Lean. Sua música está para sempre ligada a filmes legendários como Doutor Jivago, Ghost, Shogun, Carruagens de Fogo, O Círculo dos Poetas Desaparecidos, entre outros. Recebeu várias premiações, entre elas 3 Oscars e 4 Golden Globes.



Doctor Zhivago (Doutor Jivago) - 1965

Após 40 anos de sua primeira exibição, Doutor Zhivago é uma obra-prima da cinematografia mundial. E com merecido aplausos, diga-se de passagem. Mais um grande sucesso da filmografia do premiado David Lean (o mesmo de Grandes Esperanças, Lawrence da Arábia, A Ponte do Rio Kwait, Passagem para Índia, dentre tantos outros), Doutor Zhivago narra a história de um homem que amava duas mulheres, de forma intensa e sincera, sob o cenário violento das divergências ideológicas e políticas entre o liberalismo burguês e o socialismo dos sovietes na conturbada Rússia, às vésperas da Revolução Bolchevique de 1917.

Doctor Zhivago, 1965

Inspirado no romance de Boris Pasternak, Lean levou às telas um filme que, a meu ver, pode ser considerado uma das mais fiéis adaptações da literatura para o cinema. Para escrever o roteiro, Lean convidou o excelente dramaturgo Robert Bolt, que já havia trabalhado para David Lean no filme “Lawrence da Arábia”. O que poucos sabem é que o livro que deu origem ao filme foi altamente condenado na Rússia. Boris Parternak (que recusou o Prêmio Nobel de Literatura por este livro) chegou várias vezes a ser chamado de traidor da pátria. Logo ele, que com seus 15 anos de idade vem começar a tomar nota do horror que foi a Revolução Russa, para mais tarde escrever, já com toda a experiência e sabedoria provinda de seus estudos filosóficos em Moscou e na Alemanha, um poético e sublime romance em defesa da paz. Impedido de publicar o romance na Rússia, o livro só veio a se tornar um best-seller mundial graças a intervenção de um contrabando local que levou os manuscritos até um editor em Milão, Itália. Se não fosse isso, estaríamos até hoje sem ter tido o deleite de assistir a esse filme, captado de imediato pelo olhar visionário do produtor Carlo Ponti e do presidente da MGM, Robert H. O’Brien, que juntos, levaram a história ao grande cineasta, David Lean.

Omar Sharif

Para contar uma história que se passa ao longo de 40 anos, David Lean exigia rostos novos, mas memoráveis, capazes de exprimir a juventude nas primeiras seqüências e a maturidade nas últimas cenas, de igual proporção. Através de uma criteriosa seleção de atores, Lean reuniu um elenco de promissores talentos: o egípcio Omar Sharif recebe o papel de Yuri Zhivago. “E eu pensava que seria o Pasha”, comenta o ator. Geraldine Chaplin interpreta Tonya, a doce e sempre apaixonada esposa de Yuri. A estonteante Julia Christie faz o papel de Lara, o turbulento amor de Zhivago, por quem os girassóis nascem e murcham, conforme a sua presença. Tom Courtenay é Pasha, um jovem idealista convicto, marido de Lara, que mais tarde, vem a se tornar um temido líder bolchevique. Sob os braços da Revolução, esse jovem idealista entrega sua vida sem temor nem renúncia.

Julie Christie e Omar Sharif 

Mas não só de rostos novos se faz o elenco deste filme. Nomes notáveis como o de Rod Steiger no papel de impiedoso Komarovsky, o perseguidor de Lara; o de Alec Guiness como Yevgraf, o misteriosos meio-irmão de Zhivago; além de Sir Ralph Richardson (padastro de Zhivago) e de Siobhan McKenna (mãe de Tonya), o filme garante a deliciosa harmonia necessária a um grande filme. Além do maravilhoso elenco, a equipe técnica de “Doutor Zhivago” é igualmente impecável. Desde a direção de arte (capaz de transformar um território hispânico no gélido Moscou), até a direção de fotografia, que imprimiu na película as luzes e cores das paisagens e dos interiores mais belos possíveis, em consonância com o que era narrado no romance. Acredito que em matéria técnica, a direção de fotografia chega a ofuscar os demais departamentos. As mudanças de estações do ano para determinar uma passagem no tempo, como, por exemplo, as cenas de inverno serem rodadas como num filme em preto e branco, e a alternância disso para uma tonalização ora dourada (lembrando das seqüências dos girassóis) ora prateada. A terceira grande cor presente no filme é o vermelho, capaz de exprimir todo o horror daquele momento.

A música de Maurice Jarre, também inesquecível, que contribuiu, e muito, para a colocação de “Doutor Zhivago” em um dos mais altos pedestais da Cinematografia Universal, também não pode ser desmerecida (nem poderia, pois só o “tema de Lara” é ainda lembrando como mais uma dos maravilhosos exemplos das mais belas trilhas sonora feitas pra Cinema). Tudo isso contribui para o engrandecimento de “Doutor Zhivago” ao hall dos clássicos inesquecíveis.

Geraldine Chaplin e Omar Sharif
Cada momento do filme é antológico, rico em emoções e significados. David Lean sempre foi conhecido como o grande cineasta das metáforas, e isso fica bem evidenciado no filme. As seqüências sob a lua, as folhas levadas pelo vento, as bandeiras, os trens, e, acima de tudo, dos girassóis, não são gratuitos. A vela na janela (bem recorrente na película) e a presença da balalaica (dada ao pequeno Zhivago no enterro de sua mãe, e herdado pela filha, no final do filme) são outros dos vários exemplos que poderiam ser motivos de aprofundadas análises do discurso fílmico.

De fato, é um filme profundo, poético e universal, tal qual o romance de Pasternak. Merece ser sempre revisitado e apreciado pelas novas gerações de cinéfilos, de fãs de Star Wars a fãs de Ridley Scott. “Dr. Zhivago” é uma das mais felizes provas de como um épico deve ser feito. De forma viva e humana, tal qual o personagem Jivago (que em russo significa “aquele que vive”), consequentemente, passível de falhas, mas imortal por seus feitos e impressões. É assim que deve ser.
CRÉDITOS DO TEXTO: inemacomrapadura.com.br





CARTAZES DO FILME




Doctor Zhivago - 1965

Sinopse 
Considerado um dos cem mais importantes filmes da história do cinema mundial, chega agora a versão definitiva de um verdadeiro clássico: Dr. Jivago. Vencedor de cinco Oscar® incluindo o de Melhor Trilha Sonora composta por Maurice Jarre, Dr. Jivago é um dos mais belos filmes dirigidos por David Lean (Lawrence da Arábia ), contando a história de um amor impossível entre o jovem médico Iury Jivago (Omar Sharif) e a bela Lara (Julie Christie), uma paixão que atravessa uma revolução e uma guerra mundial. Um filme apaixonante, com imagens memoráveis, como a da revolução russa nas ruas de San Petersburg, a travessia de trem pelos Montes Urais, e as incontáveis cenas de batalhas pela Europa durante a Segunda Guerra Mundial.



ELENCO E FICHA TÉCNICA 
Elenco: Omar Sharif, Julie Christie, Alec Guinness,
Geraldine Chaplin, Rod Steiger,
Tom Courtenay e Siobhan McKenna
Diretor: David Lean.
Roteiro: Robert Bolt, baseado em
romance de Boris Pasternak.
Produção: Carlo Ponti.
Música: Maurice Jarre
Gênero: Drama/Romance/Guerra
País e Ano: EUA - 1965





CURIOSIDADES

O filme foi proibido na Rússia até 1994.

Omar Sharif tinha pedido ao diretor David Lean para fazer o papel de "Pasha" e ficou surpreso quando ele o convidou para o papel título.

O ator que fez o papel de jovem Yuri é o filho de Omar Sharif na vida real.

David Lean originalmente queria Marlon Brando no papel de "Victor Komarovsky" e lhe enviou o roteiro, mas Marlon Brando jamais lhe respondeu.

As filmagens foram realizadas na Espanha, durante o regime do general Francisco Franco.




PRÊMIOS E INDICAÇÕES
Oscar 1966 (EUA)
Ganhou cinco prêmios, nas categorias de Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Direção de Arte - Melhor Fotografia - Melhor Figurino - Melhor Trilha Sonora.
Foi ainda indicado nas categorias de Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator Coadjuvante (Tom Courtenay), Melhor Edição e Melhor Som.

Globo de Ouro 1966 (EUA)
Ganhou nas categorias de Melhor Filme -  Melhor Diretor, Melhor Ator - (Omar Sharif), Melhor Roteiro e Melhor Trilha Sonora.
Recebeu ainda uma indicação na categoria de Melhor Revelação Feminina (Geraldine Chaplin).

BAFTA 1967 (Reino Unido)
Recebeu três indicações, nas categorias de Melhor Filme, Melhor Ator Britânico (Ralph Richardson) 
e Melhor Atriz Britânica (Julie Christie).

Grammy 1967 (EUA)
Ganhou na categoria de Melhor Trilha Sonora Composta Para um Filme.

Festival de Cannes 1966 (França)
Indicado à Palma de Ouro.

Prêmio David di Donatello 1967 (Itália)
Venceu na categoria de Melhor Filme Estrangeiro.

Vencedor de 5 Golden Globes
 Filme, Diretor (David Lean), Ator/(Omar Sharif)
Roteiro, Trilha Sonora



28 de outubro de 2014

O Pássaro das Plumas de Cristal, (1970)





O Pássaro das Plumas de Cristal (The Bird with the Crystal Plumage) - 1970

O suspense policial conhecido dentro da indústria cinematográfica como “whodunit” é um subgênero que cativa muitos cinéfilos. Os filmes desse estilo invariavelmente mostram uma investigação com o objetivo de revelar a identidade de um criminoso. Na Itália, o “whodunit” ganhou características particulares que proporcionaram o surgimento de um dos tipos de filmes mais populares do país: o “giallo”. O diretor Dario Argento fez os filmes fundamentais do “giallo”. Um desses filmes, que marcou a estréia de Argento, é o engenhoso “O Pássaro das Plumas de Cristal” (L’Uccello dalle Piume di Cristallo, Itália/Alemanha, 1970).


Visualmente caprichado, com uma narrativa simples e eficiente, o longa-metragem já lançava as sementes do estilo delirante e operístico que o diretor desenvolveria nos anos seguintes, mas de maneira contida, com influências visíveis do estilo de Alfred Hitchcock. “O Pássaro das Plumas de Cristal” deve ser visto, aliás, como o elo perdido que liga a obra de Hitchcock ao cinema de Brian De Palma. Também não é exagero ver ecos do filme de Argento em várias superproduções que mostram investigações em buscas de assassinos seriais, como “Seven”.


Suzy Kendall e Tony Musante 

O roteiro do filme, escrito com a ajuda do escritor de mistério Edgar Wallace, é centrado em um escritor norte-americano de passagem por Roma. Sam Dalmas (Tony Musante) presencia, sem querer, a tentativa de assassinato de uma mulher em uma galeria de arte. Certo de que viu algo importante na cena do crime que não consegue lembrar, ele passa a ajudar o inspetor Morosini (Enrico Maria Salerno) nas investigações, ao mesmo tempo em que começa a ser perseguido pelo assassino.

O enredo básico não é muito original, mas Argento o trabalho de maneira criativa, usando todos os recursos cinematográficos disponíveis para criar um trabalho de impacto. O cineasta abusa, por exemplo, da câmera subjetiva, sempre ilustrando através dela o olhar do assassino à espreita de algum personagem, o que cria tensão e excitação. Além disso, a imagem do criminoso – casaco, luvas e chapéu de couro negro – é tão forte e evocativa que ecoaria em vários outros filmes do gênero “giallo”.


A influencia do trabalho de Hitchcock é evidente em “O Pássaro das Plumas de Cristal”. A própria situação básica do protagonista, que começa a investigar o crime para não ser considerado suspeito dele, é uma das favoritas do mestre do suspense. Além disso, há referências visuais a “Janela Indiscreta” (o final, com um dos personagens caindo de uma varanda, é idêntico), “O Homem Que Sabia Demais” (o ator que interpreta um matador de aluguel contratado para eliminar Dalmas é o mesmo que tenta cometer o assassinato na ópera do filme de Hitchcock) e principalmente “Psicose”.

Tony Musante na Cena do Filme
Ainda tímido na exibição de cenas violentas, em que se tornaria especialista nos anos seguintes, Argento filma as mortes cometidas pelo assassino usando truques de montagem, para não ser muito explícito. Em um deles, por exemplo, há uma tomada de uma mão enluvada que segura uma navalha e vai se aproximando do rosto de uma mulher aos gritos. Há um corte, e a tomada seguinte mostra um jato de sangue molhando o chão. A montagem lembra uma versão simplificada da famosa morte de Janet Leigh, no chuveiro, em “Psicose”.

Por outro lado, Dario Argento encontra espaço também para desenvolver uma de suas marcas registradas, verdadeira obsessão que estará presente em quase todos os filmes seguintes dele: a maneira como uma cena pode ser distorcida quando interpretada através dos filtros da memória. Esse é precisamente o motivo que impede Sam Dalmas de resolver o caso logo no início. O escritor tem certeza de que havia algo singular no crime que viu, e repassa a cena mentalmente inúmeras vezes, mas não consegue descobrir qual o detalhe misterioso (no final do filme, é claro, ele consegue lembrar). Essa situação – uma cena que precisa ser revisada várias vezes na memória para que revele seu verdadeiro significado – se repete em quase todos os filmes de Argento.


Suzy Kendall

Talvez essa obsessão tenha nascido em “Blow Up”, o suspense existencialista de Michelangelo Antonioni, diretor sempre citado por Argento como forte influência. Mas o cineasta o levaria um passo à frente, promovendo repetidas investigações sobre o uso da memória para reinterpretar eventos, atribuindo-lhes novos significados. É também esse o detalhe que liga “O Pássaro das Plumas de Cristal” à obra de Brian De Palma, especialmente “Um Tiro Na Noite”, em que o protagonista interpretado por John Travolta se encontra em situação idêntica à de Sam Dalmas, e usa a mesma técnica de investigação para reconstituir o momento que lhe interessa.


The Bird with the Crystal Plumage

Embora pouco citada quando se fala dos filmes de Argento, a montagem de Franco Fraticelli é muito importante para o resultado final. Seja imprimindo tensão através de imagens sugestivas associadas com a trilha sonora quase minimalista (como na seqüência de abertura, que mostra o assassino selecionando uma vítima), seja realizando elipses inteligentes. Uma delas é antológica: a tomada mostra o escritor olhando para a fotografia de um quadro que, ele suspeita, está com o assassino; a câmera se aproxima do quadro, que ganha cores, e então volta a se afastar, mostrando agora o vulto do assassino em frente à pintura original.

Por fim, é importante destacar o excelente time de colaboradores que Argento conseguiu reunir na sua estréia no cinema. A trilha sonora, por exemplo, fica a cargo do maestro Ennio Morricone, que se afasta por completo do tipo de música compunha para os western spaghetti e faz pequenos solos de jazz com repetições constantes de notas, trazendo uma sensação de desconforto. Já o responsável por trazer à vida os cuidadosos enquadramentos bolados por Argento é o mestre Vittorio Storaro, que faria depois “Apocalypse Now” e “O Último Imperador”, entre outros clássicos. Nada como começar em grande estilo, não? 
CRÉDITOS DO TEXTO: Rodrigo Carreiro/CinereporterBlog




CARTAZES DO FILME 
CRÉDITO























O Pássaro das Plumas de Cristal (The Bird with the Crystal Plumage) - 1970

SINOPSE
Sam é um escritor americano que vive em Roma. Sofrendo de um bloqueio criativo, ele pretende retornar em breve aos Estados Unidos com sua namorada, Giulia. Uma noite, ele testemunha uma tentativa de assassinato de uma mulher por um misterioso homem vestido de preto. A mulher sobrevive, mas o criminoso, que Sam descobre se tratar de um serial killer perseguido há tempos pela polícia, acaba fugindo. Assombrado por este ataque, ele começa a investigar o assassino sozinho, até tornar-se um de seus alvos. 




 ELENCO E FICHA TÉCNICA
Elenco:  Tony Musante, Suzy Kendall
 Enrico Maria Salerno,  Eva Renzi, Umberto Raho
 Renato Romano,  Giuseppe Castellano
 Mario Adorf
Título original: L'uccello dalle Piume di Cristallo
Origem e Ano: Itália/Alemanha - 1970
Gênero: Suspense, terror
Direção: Dario Argento
Roteiro: Dario Argento, Bryan Edgar Wallace
Música: Ennio Morricone





26 de outubro de 2014

Bonequinha de Luxo, (1961)




Trilha Sonora Original - Moon River (Henry Mancini)




BONEQUINHA DE LUXO (Breakfast at Tiffany's) - 1961

Quando Trumam Capote vendeu os direitos de seu romance Breakfast at Tiffany´s por uma singela quantia para a Paramount Pictures ele não imaginava o sucesso que o filme estrelado por Audrey Hepburn iria alcançar, se tornando, posteriormente, um ícone de moda e estilo; não imaginava também que sua obra mudaria o rumo das mulheres dos anos 50.

Capote finalizou Bonequinha de Luxo em 1958 e esperava publicá-lo na Harper´s Bazaar que, ironicamente, recusou o manuscrito. Segundo o próprio, Holly foi inspirada em todas “essas moças chegam a NY, voejam ao sol como siriris e depois desaparecem. Eu queria resgatar uma garota desse anonimato e preservá-la para a posteridade”.

Na trama cinematográfica Holly Golightly (Audrey Hepburn) é uma acompanhante de luxo que sonha em se casar com um milionário e tornar-se uma atriz de Hollywood, motivos que a fizeram abandonar seu passado e se mudar para Nova York. Na cidade, ela passa a receber a ajuda financeira de Sally Tomato, um mafioso preso em Sing-Sing, onde os dois se encontram semanalmente. Holly nutre um carinho enorme pelo seu irmão Fred e quando conhece seu novo vizinho, o escritor Paul Varjak (George Peppard), passa a chamá-lo de Fred. A amizade entre os dois se desenvolve conforme vão descobrindo afinidades entre si, ela confia em Paul, por acreditar que ele é o único homem que não quer dela o mesmo que os outros.

Holly poderia ser considerada um resultado da junção das mulheres que marcaram de alguma forma a vida de Capote, sobretudo, sua mãe, Lillie Mae, e seus “cisnes”, como costumava chamar suas amigas da alta sociedade que lhe confiavam seus segredos mais íntimos. Sua mãe tinha o hábito de abandonar o filho ainda pequeno para pular de cama em cama (literalmente) de homens bem sucedidos que pudessem proporcionar a vida que sonhava, para isso trocava a calmaria do Alabama pelas suítes de NYC, vivendo, a cada dia, os dramas e jogos de poder da elite nova-iorquina.

Audrey Hepburn em Breakfast at Tiffany´s, 1961
Voltemos ao filme. A trama do longa é toda baseada em insinuações e jogos de linguagem inteligentemente construídas pelo roteirista George Axelrod e supervisionadas pelos produtores Martin Jurow e Richard Shepherd. Algumas informações como a homossexualidade de Paul e a bissexualidade de Holly foram omitidas a fim de tornar a história mais adequada aos olhos de Audrey e de driblar os censores da Production Code Administration, órgão que regulava as produções delimitando assuntos e abordagens. Axelrod já tinha passado por uma experiência parecida quando transformou O Pecado mora ao lado em uma comédia ‘sobre o adultério sem o adultério’ e ainda fazer as pessoas rirem disso. Acostumado com peças da Broadway, onde sua liberdade artística era preservada, Bonequinha de Luxo se tornou um desafio enorme. Havia muito o que se perder em jogo.

Naquele momento havia padrões de mulheres na indústria cinematográfica exemplificados por estilos bastante distintos, Audrey Hepburn não se encaixava em nenhum desses estereótipos. De um lado, estava Doris Day, sinônimo de pureza e castidade, e do outro, Marilyn Monroe, loira fatal. O cinema tinha um papel julgador, sexo somente depois do casamento, as mulheres deveriam ser castas, as que ousavam se divertir pagavam o preço, sofriam, se arrependiam e casavam. Holly era diferente, ela morava sozinha, ficava bêbada e se sentia bem com isso, não parecia envergonhá-la.

A escolha da “boazinha” Audrey para o papel de Holly foi inusitada. Em Bonequinha de Luxo, ela redefiniu o novo papel da mulher; ela transpirava independência e liberdade individual e sexual. Com roupas acessíveis, ela parecia sofisticada, o glamour estava ao alcance de qualquer um, independente de origem (lembre-se que Holly veio de Tulip, Texas), classe social, era mais democrático e se afastava de padrões como Grace Kelly, Marilyn Monroe e Elizabeth Taylor, por exemplo. Com a explosão demográfica em curso surge um novo grupo denominado teenagers e com eles o cool, nesse momento, Audrey corta seu cabelo curtíssimo contrariando o padrão estético vigente, dizendo, indiretamente, que as mulheres poderiam ser donas do própria destino.

Audrey imortalizou o pretinho básico, ao mesmo tempo que temia a exigência que o filme faria dela. Dividida entre a vida de atriz e da esposa, ela vivia em constante dúvida sobre qual caminho seguir, insegurança e questionamentos reforçados pelo seu marido, Mel Ferrer. Controlador e machista, exigia que a mulher fosse perfeita e não se importava em reprendê-la em público, Mel era um ator frustrado e não suportava, assumidamente, o fato de que a fama de mulher o ofuscava.

Há três pontos importantes na construção de Bonequinha de Luxo que merecem destaque: figurino, direção e trilha sonora. Vamos lá!

Quem vê Hepburn desfilar na tela com seus vestidos e chapéus não imagina a guerra de que foi travada nos bastidores entre Edith Head e Hubert De Givenchy. Edith era uma famosa e respeitada figurinista da Paramount, indicada ao Oscar 35 vezes em toda a carreira, era uma mulher rígida de poucas palavras e detestava as tendências. Seu poder e preferência foi questionado quando Audrey fez valer uma claúsula inegociável no seu contrato, desde Cinderela em Paris (1957) que estipulava que Givenchy desenharia seus figurinos. Hubert De Givenchy, designer, estilista parisiense, costurava para a pessoa e não para o estilo, passou a ser a escolha de confiança de Audrey, não era funcional ao contrário de Edith, fez a atriz brilhar em Sabrina, foi indicada ao Oscar, junto com Billy Wilder, mas a única que ganhou foi Edith, era seu sexto Oscar.

Dono de gags sofisticadas, o diretor Blake Edwards tinha na bagagem uma vasta experiência em televisão, o que o ajudou no timing para muitas das cenas, como a da festa na casa de Holly. Idealizada por ele, a engraçada cena  foi o resultado de muito ensaio, de uma seleta escolha de personagens, que se diferenciavam por não serem figurantes, e sim atores de verdade. Essa cena demonstrou a habilidade de Edwards em alcançar um ótimo resultado num curto espaço de tempo e na escolha de sua equipe, aqui inclui-se o que conquistou mais prêmios com Bonequinha de Luxo, Henry Mancini.

Debruçado sob um piano durante semanas para estudar o tom de Audrey e elaborar uma música que fosse capaz de interpretar com segurança, o compositor Mancini, ao ver Cinderela em Paris, descobriu qual seria o alcance vocal da atriz.  Compôs “Moon River”, que teve “Blue River” como título provisório, e na voz de Jhonny Mercer foi imortalizada. O sucesso da canção proporcionou a re-estreia da carreria de Mercer como compositor, ganhador de diversos Grammy´s, inclusive o de reconhecimento, em 1995. Mancini é conhecido por sua ousadia e vanguarda, ele quebrou paradigmas ao colocar jazz nas trilhas sonoras de cinema, antes, predominantemente sinfônica, a escolha de Mercer para “Moon River” não poderia ter sido melhor.

VOCÊ NÃO SABIA QUE…

- Inicialmente cogitou-se que Bonequinha de Luxo fosse dirigido por John Frankenheimer e estrelado por Marilyn Monroe. A musa loira, orientada por seu mentor Lee Strasberg não aceitos o papel alegando que interpretar uma prostitura não seria positivo para sua imagem.

- As filmagens de Bonequinha de Luxo ocorreram apenas 3 meses após o nascimento do primeiro filho de Audrey Hepburn, Sean Ferrer.

- A canção “Moon River” foi escrita especialmente para Audrey Hepburn, considerando o fato de que a atriz não possuía treinamento para canto na época. A canção na versão tocada no longa, a pedido da atriz, não entrou no LP da trilha sonora.

- A Tiffany’s abriu pela primeira vez em um domingo desde o século XIX, para que as filmagens dentro da loja pudessem ser realizadas.

- Audrey Hepburn recebeu um salário de US$ 750 mil por sua atuação em Bonequinha de Luxo, o que a tornou o 2º maior salário pago até então a uma atriz. O 1º era o de Elizabeth Taylor em Cleópatra, de US$ 1 milhão. Fora os gastos com elenco, o orçamento do filme foi de US$ 2,5 milhões e teve a receita de U$14 milhões.

- Prêmios: Oscar de Melhor Trilha Sonora (Comédia/Drama), Melhor Canção Original (“Moon River”), Grammy de Melhor Trilha Sonora – Cinema/TV. Indicações: de Melhor Atriz – Audrey Hepburn, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Direção de Arte – Colorido.

- Em 2011, a Paramount Pictures lançou um Box com um DVD, um livro com os bastidores do filme e uma carta assinada pelo diretor Blake Edwards para comemorar o quinquagésimo aniversário do longa.




CARTAZES DO FILME 
CRÉDITOS





Bonequinha de Luxo (Breakfast at Tiffany's) - 1961

SINOPSE
Holly Golightly (Audrey Hepburn) é uma garota de programa nova-iorquina que está decidida a casar-se com um milionário. Perdida entre a inocência, ambição e futilidade, ela toma seus cafés da manhã em frente à famosa joalheria Tiffany`s, na intenção de fugir dos problemas. Seus planos mudam quando conhece Paul Varjak (George Peppard), um jovem escritor bancado pela amante que se torna seu vizinho, com quem se envolve. Apesar do interesse em Paul, Holly reluta em se entregar a um amor que contraria seus objetivos de tornar-se rica.


ELENCO E FICHA TÉCNICA 
Elenco: Audrey Hepburn, George Peppard, 
Alan Reed, Beverly Powers, Buddy Ebsen, 
Dorothy Whitney, Martin Balsam, 
Mickey Rooney, Patricia Neal
Gênero: Comédia, Romance
Direção: Blake Edwards
Roteiro: George Axelrod
Produção: Martin Jurow, Richard Shepherd
Fotografia: Franz Planer
Música: Henry Mancini
País: USA





Prêmios e Indicações:

Oscar (1962)

Melhor Roteiro adaptado - George Axelrod - Indicado

Melhor Direção de Arte - Hal Pereira, Roland Anderson, Samuel M. Comer, Ray Moyer - Indicado

Melhor Atriz Audrey Hepburn - Indicado

Melhor Trilha Sonora Original Henry Mancini - Venceu

Melhor Canção "Moon River", por Henry Mancini - Venceu

Globo de Ouro (1962)

Melhor Filme - Comédia ou Musical Blake Edwards - Indicado

Melhor Atriz - Comédia ou Musical Audrey Hepburn - Indicado

Grammy (1962)
Melhor Canção do Ano - "Moon River", por Henry Mancini e Johnny Mercer - Venceu
Melhor Arranjo - "Moon River", por Henry Mancini - Venceu
Melhor Gravação do Ano - "Moon River", por Henry Mancini - Venceu
Melhor Álbum de Trilha Sonora ou gravação/Cinema ou Televisão - Henry Mancini - Venceu
Melhor Performance de uma Orquestra - Henry Mancini - Venceu
Fonte: Wikipédia







Um Homem, Uma Mulher, (1966)





TRILHA ORIGINAL
 Un Homme Et Une Femme
Vocal (Original Soundtrack 1967) (Francis Lai)




Um Homem, Uma Mulher, (Un Homme et Une Femme) - 1966
Um homem e seu cachorro caminhando pelo cais sob um tempo feio, o mar cinza, a névoa escondendo o céu, valorizam tremendamente uma cena… de amor. É que Anne e Jean-Louis estão de tal forma apaixonados, que vêem uma beleza muito especial no andar daquele homem, com seu cão.

Claude Lelouch disse que o mau tempo é um dos atores do filme. Mas há outro, se assim se pode dizer: a recorrência das cenas em preto-e-branco. Com estes dois elementos, o diretor consegue criar uma atmosfera intimista, em cenas de grande sensibilidade, durante vários momentos do filme. Não em todos, porque ele joga também com a cor, para mostrar a realidade crua, sem nenhum enquadramento ou recurso especiais, em situações de flashback – quando revela o passado do casal da trama. É verdade que na cor estão também cenas inesquecíveis, com o mar como cenário. Mas é só no preto-e-branco que a magia acontece.


Anouk Aimée


Anouk Amée talvez esteja perfeita em qualquer outro filme, mas neste, além disso, o papel lhe cai à medida. Deu uma Anne sóbria, um pouco ensismemada, mas sobretudo bela. Ela perde o trem para Paris, quando visita sua filha pequena num internato de Deauville (não por acaso uma cidade costeira). Ocorre que Jean-Louis (também muito bem feito por Jean-Louis Trintignant), veio visitar o filho no mesmo internato, e está voltando para a capital, em seu carro – um Mustang vermelho, ícone da geração dos anos 1960, quando o filme foi rodado. A diretora do internato ajeita uma carona…

Duas pessoas – um homem e uma mulher – iniciam, no carro em movimento, o diálogo reticente dos que acabam de se conhecer. O que eles dizem, nesse primeiro momento, não é passado para o espectador. Em lugar das vozes, surgem os primeiros acordes – mas só eles – da música tema. É uma promessa do que vai acontecer, e já está no ar.


Un Homme Et Une Femme


O Mustang vermelho segue pela estrada molhada, e a conversa (agora audível) evolui. Assistimos a tudo através do pára-brisa, em muitos momentos com o rosto dos personagens borrados pela chuva e pelo movimento do limpador. Anne é roteirista de cinema. E Jean-Luis, o que faz? Piloto de carro de corrida. A atmosfera intimista é invadida pela cor, pelo ronco dos motores e a alta velocidade do carro que ele está testando. Voltam o preto-e-branco, a chuva no pára-brisa. Anne é casada? Sim. O marido surge em cor, se arriscando como dublê de cinema.


Presente, passado, preto-e-branco, cor. Vemos que o marido morre na filmagem de uma explosão. Anne afinal não é casada, mas viúva. À porta da casa dela, os dois recém conhecidos se despedem (preto-e-branco…) e marcam novo encontro, para visitar os filhos.

Na nova visita às crianças, o diretor cria momentos enternecedores para mostrar a paixão envolvendo crescentemente os pais delas. Um almoço “em família”, as crianças correndo pela praia, de cores desbotadas pelo mau tempo. Um passeio de barco embalado pela atmosfera nostálgica do dia chuvoso e pela bela música de Francis Lai, o autor da trilha sonora.

Jean-Louis Trintignant e Anouk Aimée
Mas eis o carro de novo na estrada para Paris. Desta vez estamos dentro dele, e vemos Jean-Louis mudar a marcha e pousar sua mão sobre a de Anne – o primeiro gesto explícito do romance. Ela reage. “Você não me falou sobre sua mulher”. Cor: uma loira (em tudo diferente de Anne) preocupada com o marido, que vai correr as 24 Horas de Le Mans. Ele se acidenta gravemente. Ela se desespera, se suicida. Preto-e-branco: Jean-Louis se despede de Anne. Conta-lhe que vai disputar o rally de Monte Carlo.

Claude Lelouch participou da corrida para gravar cenas reais. Anne espera ansiosamente, em Paris. Mas desta vez, nada acontece a Jean-Louis. Ele recebe um telegrama dela (“Eu te amo”), viaja uma noite inteira no carro do rally (um Mustang branco, sujo e com seu número de corredor na porta) e chega de surpresa à praia, onde Anne e as duas crianças passeiam. Nestes momentos, o tema Um Homem, Uma Mulher toca inteiro…

Jean-Louis Trintignant

Num documentário sobre o filme, o diretor diz que sua obra é “entrecortada”, pois filmou cerca de 3.500 planos. A modernização da película permitiu-lhe agilidade para gravar até cem planos em um dia. Algo inteiramente novo, distante da realidade anterior, em que se levavam horas para ajustar um plano. Em Um Homem, Uma Mulher, o ajuste durava 15 minutos e começavam a filmar. “Filmamos direto, somos mais repórteres do que um equipe de cineastas”, disse Lelouch durante a filmagem. Prova disso é que em muitos momentos ele próprio empunhou a câmera.


O filme ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro e melhor roteiro original, e a Palma de Ouro em Cannes. A música tema ficou conhecida no mundo todo.





CARTAZES DO FILME 






TRILHA ORIGINAL 2
Samba Saravah - Pierre Barouh (Vinícius de Moraes/Baden Powell)




Um Homem, Uma Mulher (Un Homme et Une Femme) - 1966

SINOPSE
Um Homem, Uma Mulher despertou os olhares do mundo para a obra do premiado diretor Claude Lelouch. Vencedor dos Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Roteiro Original, além da Palma de Ouro em Cannes, o filme faz uso de uma fotografia belíssima, e da música dos brasileiros Vinícius de Moraes e Baden Powell, para mostrar o despertar do amor entre um solitário convicto e uma mulhar precocemente viúva. Ele, um piloto de corridas de automóveis (Jean-Louis Trintignant); ela, roteirista de cinema (Anouk Aimée), tentam conduzir um relacionamento sincero e bem humorado em meio às insistentes demandas familiares e profissionais. Uma linda história de amor à francesa que conquistou o mundo, mas que poderia muito bem acontecer com você.



ELENCO E FICHA TÉCNICA
Elenco: Anouk Aimée, Jean-Louis Trintignant
Pierre Barouh, Valérie Lagrange 
Direção: Claude Lelouch
Fotografia: Claude Lelouch
Música Original: Francis Lai,
Vinícius de Moraes e Baden Powell
Pais e Ano: França, 1966
Gênero: Drama, Romance
Roteiro: Pierre Uytterhoeven, Claude Lelouch
Produção: Claude Lelouch
Design Produção: Robert Luchaire
Fotografia: Claude Lelouch



24 de outubro de 2014

Woodstock, (1970)





WOODSTOCK - 3 DIAS DE PAZ, MÚSICA E AMOR - 1970


Faz este fim-de-semana 40 anos que vi pela primeira vez o filme do concerto histórico de "Woodstock": três dias de paz, música e amor, em que cerca de 500.000 pessoas se reuniram no Verão de 69 numa área de 600 acres de terreno (a fazenda de Max Yasgur, na cidade rural de Bethel, Nova Iorque) para, com um único espírito colectivo, ouvirem alguns dos seus heróis predilectos: Joan Baez, Crosby Stills and Nash, Santana, Joe Cocker, The Who, Janis Joplin, Ten Years After, Canned Heat, Jefferson Airplane, Melanie, Country Joe & The Fish, John Sebastian, Jimi Hendrix...


Vale a pena relembrar. Afinal, nenhum outro festival de música teve tanta repercussão e tanta importância como este. Para entender o fenómeno é preciso voltar atrás no tempo. O mundo, e especialmente os Estados Unidos, passava por tempos difíceis de guerra, violência e desilusão. A década de 60, a mais conturbada do século, chegava ao fim, com uma sensação reinante de “e agora ?” no ar. E é nesse clima de final de festa, no último ano da década, que o maior evento de música já realizado encontra terreno fértil para se consolidar.


O festival foi idealizado e levado a cabo por quatro jovens: John Roberts, Joel Rosenman, Artie Kornfeld e Michael Lang. John era o mais velho dos quatro, tinha 26 anos, e era o herdeiro da fortuna de uma farmácia e de uma fábrica de pasta de dentes. Ele e o seu amigo Joel possuiam um capital para investir e colocaram um anúncio no Wall Street Journal e no New York Times: «Jovens com capital ilimitado procuram oportunidades de investimento legítimas e propostas de negócios interessantes e originais.» Lang e Kornfeld tInham as ideias interessantes e originais, mas não tinham o dinheiro. Os dois pensavam fundar uma gravadora independente especializada em rock, localizada numa cidade afastada de Manhattan chamada Woodstock ou em realizar um festival misto de exposições e música ao vivo. Esta última foi a ideia que acabou por vingar.


Woodstock – 3 Dias de Paz, Amor e Música
Vieram de Norte a Sul do Pais. Durante três dias viveram, comeram, dormiram lado a lado para ouvirem a música rock de um geração perdida no tempo - os hippies, uma cultura de gente que apregoava Paz e Amor, no final da «sua» década. O filme "Woodstock", realizado por Michael Wadleigh (com Martin Scorsese como adjunto) e estreado apenas em 1970, apresenta-nos os preparativos para o grande concerto histórico: as torres de som, o palco, helicópteros trazendo músicos, as reacções dos habitantes locais bem como a declaração de Woodstock como concerto grátis quando se concluiu que era impossível controlar aquela multidão habituada a não pagar para ouvir música. "Woodstock" mostra-nos a tempestade que alagou os campos mas que não fez desistir aquelas centenas de milhares de espectadores à espera daquele que foi o maior concerto da história. "Woodstock" é um dos pontos altos da tomada de consciência da geração dos anos sessenta nos EUA e, principalmente do movimento de contestação à Guerra do Vietname que viria a culminar na marcha sobre Washington.


A música começou na tarde de 15 de Agosto, sexta-feira, às 17:07h e continuou até a metade da manhã do dia 18 de Agosto, segunda-feira. O festival fechou a via expressa do Estado de Nova Iorque e criou um dos piores engarrafamentos da nação. Também inspirou um monte de leis locais e estatais para assegurar que nada como aquilo jamais aconteceria novamente. "Woodstock", como poucos eventos históricos, tornou-se uma espécie de herança cultural, para os EUA e para o mundo. Assim como “Watergate” representa a crise nacional americana, “Woodstock” é hoje sinónimo do poder dos jovens e dos excessos dos anos 60. «O que nós tivemos aqui foi algo que ocorre uma vez na vida», diz o historiador Bert Feldman. Dickens disse isto primeiro: «Foi o melhor dos tempos. Foi o pior dos tempos.» É uma mistura que nunca será reproduzida novamente.


O evento tornou-se um verdadeiro ícone da contracultura. A força jovem e a liberdade assustaram os mais velhos e conservadores. Muitos dizem que "Woodstock" foi o fim de toda a ingenuidade e utopia que cercavam os anos 60. Outros dizem que foi o apogeu de todas as mudanças e desenvolvimento na sociedade. Mas todos concordam que o festival foi um marco incontornável na história da música. 

CRÉDITOS DO TEXTO: O Rato Cinéfilo Blog (21/04/2011)   




CARTAZES DO FILME






















Woodstock - 1970

SINOPSE
1969... Martin Luther King e Robert Kennedy são mortos a tiros. A guerra do Vietnã estava apenas começando... Em agosto desse mesmo ano, mais de 500.000 pessoas se reuniram em uma pequena fazenda, nos arredores de Nova York para celebrar, em três dias de muito rock and roll, paz e amor, o maior festival da música do planeta! No ano seguinte, o mundo pôde assistir ao primeiro e único filme sobre esse encontro mágico, grande vencedor do Oscar de Melhor Documentário em 1994. Agora, o diretor Michael Waldleigh selecionou o que havia de melhor em seu arquivo de imagens inéditas para apresentar uma nova versão desse aclamado sucesso. São cenas nunca antes vistas de alguns dos maiores mitos da música. Woodstock foi o maior evento musical de todos os tempos e suas lembranças ficarão vivas para sempre na memória de várias gerações!




ELENCO E FICHA TÉCNICA 
PARTICIPAÇÃO:
Richie Havens,  Joan Baez,  Joe Cocker,   Arlo Guthrie,  John Sebastian,  Jimi Hendrix, Janis Joplin ,  Roger Daltrey,  John Entwistle,  Jerry Garcia,  Keith Moon,  Graham Nash, Carlos Santana, Stephen Stills,  Pete Townshend,  Sly Stone, Johnny Winter
Produção: Bob Maurice
Dirigido: Michael Wadleigh
Gênero: Musical , Documentário , História
País e Ano: EUA, 1970



22 de outubro de 2014

Os Reis do Iê Iê Iê, (1964)





A Hard Day's Night (Os Reis do iê iê iê) - 1964

"Esta noite foi um dia duro". Numa tradução aproximada, era este o título que anunciava o primeiro filme realizado com os Beatles. A expressão, em inglês A Hard Day’s Night, fora criada pelo baterista Ringo Starr, e não permitia correspondências lingüísticas. Os versionistas decidiram, então, esquecê-la. Na Itália, inspiraram-se em Alexandre Dumas e sacaram Tutti per uno (todos por um) para nominar a obra. Na França, chegaram a Quatre garçons dans le vent (algo como "quatro rapazes da onda"), que entusiasmou Paul McCartney. No Brasil, onde vanguarda é intuição, os Beatles se tornaram "Os Reis do Iê Iê Iê".



A dificuldade em verter a titulação de um mero filme para adolescentes expõe o que significou, para o mundo de então, esta obra que agora chega restaurada aos cinemas. A Hard Day’s Night era uma ousada comédia do absurdo para fãs incondicionais. Richard Lester, americano, usou as armas de um bom diretor. Foi inteligente e sofisticado. Estudou seu objeto de trabalho. Fez um trato com a irreverência e excluiu o que fosse sentimental. Em resumo, respeitou um público composto majoritariamente por meninas histéricas de 13 anos. Mas como lhe permitiram tamanha ousadia?

Um exército de interesses favoreceu Richard, a quem a banda insistentemente chamava Dick. Eram todos jovens - diretor, atores, roterista - e relativamente baratos, o que favorecia o risco. Endeusados na Inglaterra, naquele ano de 1964 os Beatles ainda não haviam fulminado o coração americano. Quem precisa de ingleses, se Elvis está vivo? A United Artists percebeu que a gravadora da banda, a EMI, não registrara como seu o direito de distribuir trilhas sonoras. Num golpe de mestre, resolveu fazer primeiro um filme para então apresentar um disco inédito contendo as músicas de cena, e então ganhar o mundo.



A Hard Day’s Night foi produzido em preto e branco porque saía mais barato, embora Walter Shenson, o produtor nascido na Califórnia, afirme, num making of realizado há sete anos, a opção artística pela ausência de colorido. O filme custou 175 mil libras, cerca de 350 mil dólares, e só na primeira semana de distribuição faturou US$ 8 milhões, o que o tornou um dos mais lucrativos produtos cinematográficos de todos os tempos, conforme narra Barry Miles em Many Years From Now, a biografia autorizada de Paul.

As razões para o sucesso de Lester, gênio da Filadélfia que aos 2 anos de idade, contam, soletrava 250 palavras, empolgam qualquer principiante. Ele tinha alguma experiência cômica, é verdade, advinda de seriados de tevê, e dirigira o impiedoso Peter Sellers no filme experimental The Running, Jumping and Standing Still Film. Mas nunca se arriscara em música, com exceção de uma sofrível passagem adolescente por aulas de clarinete e piano. O que o fazia um candidato ideal para os Beatles, e Shenson soube perceber isto muito bem, era sua irreverência, rebeldia e rapidez - em suma, seus 32 anos espertos.


A Hard Day's Night, 1964

Lester quis saber como os Beatles eram, para então devolvê-los ao público. Sua concepção era a de um estranho realismo social. A Hard Day’s Night é um filme-verdade, embora banhado em nonsense. Jovem, o diretor conhecia o ingrediente que movia os novos rebeldes. O combustível de John, Paul, Ringo e George era a ironia. Ironia desmedida. Ironia dos homens secos de Liverpool. Ironia contra a sociedade, mas também contra si mesmos, contra a vontade de se dar bem. Em seguidas seqüências do filme, o que se vê é um John de 24 anos exibindo os dentes (os de Ringo estavam em melhor estado).

A Hard Day’s Night é feito de frases curtas, combinadas com a edição disparada, porque os Beatles não eram atores, nem tinham tempo, ou disposição, para decorar falas. Há também onomatopéias à moda de Três Patetas, embora o tom dominante do texto seja o de Irmãos Marx. O diretor de tevê de suéter empedernido se aproxima, diz que sua parede está lotada de prêmios e que eles, músicos, terão de obedecê-lo, e então John lhe sorri, dizendo "Eu poderia ouvi-lo por horas", numa das melhores tiradas do filme.

Alun Owen, um galês, foi chamado por Lester para escrever o roteiro. Era originário do império das ilhas (um deles deveria ser, pelo menos) e um craque da revolução televisiva britânica, quando a principal moeda corrente, naquele momento, parecia ser a mudança. Owen fez George Harrison usar a expressão "grotty", significando grotesco, que se tornou gíria a partir do filme, embora Owen insista em dizer que aprendeu a expressão em Liverpool, onde morava. Como sugeriu Harrison certa vez, Owen e Lester ditaram aos Beatles a melhor maneira de eles se apresentarem como eram.


E como eram os meninos de Liverpool? No filme, não muito diferentes de bebês hiperativos confinados no cercadinho. Num minuto, a mamãe não está e eles pulam fora, alegremente, sujando tudo. Mesmo no clima claustrofóbico de entrevistas à imprensa sempre medíocre, mesmo espremidos entre as fãs no trem e nas ruas, sim, mesmo assim eles riam de todos.

Exemplos disso são as seqüências musicais, sempre joviais e estimulantes, atadas à experiência do filme (não é verdade que ele tenha inspirado os velozes clipes atuais, pobre filme). Numa delas, inicial, os quatro executam ironicamente a canção "I Should Have Known Better" num bagageiro de trem, na companhia de animais e cercados por grades. Em outra, final, no teatro Scala de Londres, para uma platéia de 350 figurantes entusiasmados (o compositor Phil Collins, aos 13 anos, era um deles), tocam "She Loves You", que não constará da trilha. Enquanto as pequenas fãs choram e se descabelam ao vê-los e ouvi-los, a letra da canção nos lembra que "com um amor desses você sabe que seria feliz" ("with a love like that you know you should be glad").



O filme não erra ao mostrar a infelicidade do inebriante estado prisional. O personagem do velho "muito limpo", avô de Paul, interpretado por Wilfrid Brambel, ator de sucesso da tevê inglesa então com 52 anos, está ali para ensinar os meninos a usar a juventude que lhes resta e a jogar os livros fora. É um conselho e tanto, que favorece a entrada de Ringo Starr na trama. Ele é o melhor ator do filme, a grande surpresa, em que pese a participação demolidora de John (é especial vê-lo na banheira espumante afundando naviozinhos da Grande Inglaterra). Paul, reconhece o próprio Lester, orgulhava-se em demasia da arte de interpretar, e George, um sujeito sensato, fazia o que lhe pediam, mas Ringo foi decisivo.

Numa coletiva de imprensa simulada, jornalistas são utilizados (o filme foi rodado em sete semanas e Lester improvisou a participação de figurantes, em alguns casos fãs reais correndo atrás dos quatro músicos no caminho da estação de Paddington). Ringo, levado por uma repórter a definir se se sentia um "mod" ou um "rocker", designações para as tribos roqueiras do período, responde: "Um mocker". Na expressão, está um jogo de palavras característico do filme. Ringo é o pensador involuntário que sintetiza a inspiração irônico-surreal da banda. Não é um rocker, não é um mod. É só um músico fazendo história, e também o alvo predileto das chacotas.



O baterista tem talento para o mínimo, embora muitos acreditem que mínimo é apenas seu talento. Por ele, passam as aspirações da juventude da época. Ele está pouco ligando para o status quo, tampouco o status quo está ligando para ele. Sua revolução tem um quê de distraída. A melhor parte do filme é vê-lo ler "Anatomia de um Crime" num bandejão e, estimulado pelo parente de Paul, sair para viver a vida depois de perceber que os vovôs perdem muito tempo sendo velhos. E o que faz Ringo para viver a vida? Fotografa o rio, mas a máquina cai na água. Vai ao pub, e lá acerta um papagaio. Compra um casacão, mas esbarra na moça que passa, e ela xinga. O talento de Ringo simula uma inconsciência divertida. Dizem que ele passou o filme todo com dor de barriga, mas não dizem o que ele andou comendo. 

CRÉDITOS DO TEXTO: Rosane Pavam/Gazeta Mercantil





CARTAZES DO FILME
CRÉDITOS


























A Hard Day's Night (Os Reis do Iê Iê Iê) - 1964


SINOPSE

O ano é 1964 e a Beatlemania está no seu auge. Os quatro rapazes de Liverpool estão a ponto de mudar o mundo da música - se conseguirem deixar o quarto do hotel onde estão hospedados. Enfrentando produtores nervosos, fãs histéricos e parentes problemáticos, Paul, John, George e Ringo buscam de todas as maneiras se divertir e ao mesmo tempo cumprir seus compromissos firmados.


TRAILER 



ELENCO E FICHA TÉCNICA  
Título: Os Reis do Iê Iê Iê / A Hard Day’s Night
Elenco: John Lennon, Paul McCartney,
George Harrison, Ringo Starr,
Wilfrid Brambell, Norman Rossington,
John Junkin
Diretor: Richard Lester
Roteiro: Alun Owen
Cinematografia: Gilbert Taylor
Edição: John Jympson
Produção: United Artists
País e Ano: Inglaterra, 1964
Gênero: Comédia, Musical