3 de novembro de 2014

Assim Caminha a Humanidade, (1956)





Trilha Original
Giant - (Dimitri Tiomkin) 


Assim Caminha a Humanidade (Giant ) - 1956

O Criador estava em alfa (ou haveria de ter andado fumando coisas e “viajado”) lá pelo sexto dia, momento em que sublimou a espécie. Produziu linhas e tonalidades de formas a consagrar sua mania de perfeição, e simplesmente descartou a fórmula.  Por certo que naquelas horas de fastio e soberba, consolidada a magnífica obra, garganteou seu bordão à eternidade sobre imagem e semelhança.

Da obra minimizada restaram céu e mar, em dias de incompreensível tom de azul encravados em lousa de alabastro, a fomentar e inquietar sonhos juvenis. Serenos, sombreados de cílios foram ter comigo, certa vez, durante três horas e meia. Flutuei à deriva sobre aquelas águas translúcidas, que simploriamente os mortais chamavam de olhos violeta. A época e a idade propiciavam navegar ao limite (que limite?) da fantasia e produzir roteiros imundos no sono adolescente.

Sonhava com ela, e eu pergunto: quem não sonhava com Elizabeth Taylor? Ok. Tem gente que sonhava com o Rock Hudson, como a própria Liz, que soube depois e para sua decepção, tratar-se de alguém da “irmandade”.Pobre Rock, que anjos varões o tenham (*)

Giant é o titulo original do longa metragem Assim Caminha a Humanidade. Sem redundância, gigantesca produção dos anos cinquenta estrelada pelos dois bonitões acima, e a terceira e última aparição em tela do meteórico James Dean, que nem chegou a ver o filme concluído. Morreu antes. (Sobre este, teria dito o feioso Humphrey Bogart, dolorido com o sucesso post morten do colega: ‘’a melhor coisa que aconteceu a ele foi ter morrido cedo’’).

A história gira em torno de uma família texana tradicional comandada pelo Bick (Hudson), de um humilde empregado Jett (Dean), e uma esposa Leslie (Taylor) que foi ‘’achada’’ pelo futuro marido após uma viagem de negócios. Foi comprar cavalos, imaginem. A história é fantástica, recheada de sentimentos adversos: amor, ódio, preconceitos, com fotografia, figurino e música maravilhosos, tendo recebido dez indicações ao Oscar (levou um, secundário). Jett, além de mim e todos os homens que apreciam cerveja, apaixonou-se pela Leslie, mas não levou, e por isso foi para a porrada com o marido afortunado. O Inconformado Jett, entretanto, enriqueceu quando tratou de subverter a ordem da terra, vigente até então, (terra que estranhamente herdara da invejosa irmã do Bick, morta a coices de cavalo) passando a explorar petróleo.  E em se tornando rico, houve por bem novamente tentar furar os nossos olhos, e tomar na “mão grande” a nossa mulher - minha e do Bick. De novo não levou. Ele, que já “bebia todas”, com o novo fracasso foi domiciliar-se em definitivo na garrafa.

Nesse filme o olhar da Liz estava uma estupidez. Talvez porque o início da produção tenha ocorrido pouco depois dela ter se tornado mãe pela primeira vez e a maternidade tenha conseguido dar ainda mais luminosidade à luz; o céu tenha perdido para sempre as nuvens, e Atlântico e Pacífico tenham se dessalinizado.  E que me perdoe a finada pelas modestíssimas comparações.

Elizabeth Taylor
Elizabeth Taylor é dona de vários suspiros que todos demos. Não era, entretanto, de namorar no banheiro, lugar cativo da senhorita Brigitte Anne-Marie Bardot, além de outras trinta e cinco menos votadas. Liz não deveria ter as pernas da Marlene Dietrich; o corpo da Sophia Loren; certamente não tinha os seios da UschiDigard (Ah, não sabe quem é UschiDigard. Melhor, mais me sobra); E nem era cachorra como a senhorita Margarita Carmen Cansino, que quando se apresentou a nós já fumava muito e se chamava Rita Hayworth; Não era o "mais belo animal do mundo", como disse certa vez da piriguete-retrô Ava Gardner, o poeta Jean Cocteau, aquele animal. Não. Liz era um raio de luz, sequer deveria pertencer a este mundo. E duvido que alguém, além de seus vários maridos tenha contemplado seu corpo. Não deveria ser lá essas coisas, mas isso não importa.

Liz gostava mesmo era de casar e isso fez bastante. “A felicidade está em colecionar amores”, repetia (mas também colecionava brilhantes). Com Richard Burton, no entanto, foi reincidente específica.

Também casei bastante, nenhuma vez com ela. Mas sabe-se lá o que haveria de ter acontecido conosco caso ela frequentasse os bailes da Reitoria. 

(*) Rock Hudson e Liz Taylor tornaram-se muito amigos, depois da descoberta por ela da homossexualidade do galã, que morreu em decorrência de complicações com a Aids, em 1985. A partir de então, a musa mostrou que não basta ser bela nem boa atriz para ser musa. Passou a auxiliar a (American Foundation for AIDS .




CARTAZES DO FILME 

  




Giant (Assim Caminha a Humanidade) - 1956

SINOPSE
Uma grandiosa saga no coração de um dos maiores estados norte-americanos. Assim Caminha a Humanidade conta a história de três gerações de influentes texanos e seus conflitos familiares, amorosos, raciais e as disputas econômicas entre os tradicionais pecuaristas e os novos ricos magnatas do petróleo do Novo Oeste. Com um elenco composto por nomes da grandeza de Elizabeth Taylor, Rock Hudson e Rod Taylor, o filme marca a derradeira atuação de James Dean no cinema - o ator jamais assitiria ao filme concluído, já que faleceu antes de a produção terminar. Indicado a dez prêmios Oscar, vencedor na categoria Melhor Diretor com George Stevens, Assim Caminha a Humanidade, adaptado do romance de Edna Ferber, foi considerado pela revista TIME o mais contundente legado anti-intolerância racial jamais levado à telas, o retrato de uma era.


ELENCO E FICHA TÉCNICA 
Elenco: Carroll Baker, Dennis Hopper,
Elizabeth Taylor,James Dean, Jane Withers,
Mercedes McCambridge, Rock Hudson
Gênero: Drama
Direção: George Stevens
Roteiro: Fred Guiol, Ivan Moffat
Produção: George Stevens, Henry Ginsberg
Fotografia: William Mellor
Trilha Sonora: Dimitri Tiomkin
Origem e Ano: EUA, 1956

2 de novembro de 2014

Johnny Guitar, (1954)





TRILHA ORIGINAL

Johnny Guitar (Peggy Lee)
A trilha sonora é um outro ponto alto desse faroeste, com ênfase para a bela canção-título, composta pelo famoso maestro Victor Young e por Peggy Lee, uma das maiores cantoras americanas dos anos 50, que também a interpreta.


Johnny Guitar - 1954

O Oeste das mulheres!
Não se engane com o título deste longa-metragem de 1954 dirigido por Nicholas Ray, hoje um dos mais cultuados cineastas da Hollywood dos anos 50. O filme não tem como personagem central o pistoleiro-violonista interpretado por Sterling Hayden que chega a um lugarejo esquecido por Deus em que nem mesmo existe ainda uma estação de trem. O centro da narrativa encontra-se em Vienna (a estrela Joan Crawford), ex-namorada de Johnny e agora dona de um misto de saloon e cassino quase entregue às moscas, tendo a esperança de ver os negócios melhorarem com a possível chegada da ferrovia. Para se manter estabelecida na localidade, contudo, ela tem de enfrentar a oposição de Emma Small (Mercedes McCambridge), uma fazendeira manda-chuva cheia de ódio e ressentimento porque o homem que ama, Dancin' Kid (Scott Brady), não retribui seu sentimento e é, em verdade, apaixonado por Vienna. Enquanto esta é admirada e desejada pelos homens da cidade, Emma sente-se a rejeitada e nutre desejos de vingança. Vienna então contrata o antigo amor, Johnny “Guitar” Logan, para ajudá-la a enfrentar os obstáculos que surgirão para continuar com seu empreendimento.

Joan Crawford


Vê-se, já de antemão, que esta é uma obra bastante passional, em que as ações dos personagens são norteadas por amores e ciúmes, uma espécie de western-romance-tragédia singular e talvez nunca repetido na história da Sétima Arte. Não por acaso, era um dos filmes preferidos de François Truffaut e Ray foi um dos cineastas mais amados pelos nomes da Nouvelle Vague. E não impunemente. Afinal, uma das medidas do talento e da genialidade de um artista é a capacidade que tem a sua obra de manter-se atual mesmo depois de décadas de sua confecção. No caso, “Johnny Guitar” não somente se manteve atual como também esteve mesmo à frente do seu tempo, apresentando um modelo de comportamento feminino que só iria se tornar mais comum umas três décadas depois. Tanto Vienna quanto Emma são mulheres fortes e independentes ao redor das quais giram os tipos masculinos da narrativa, os quais parecem estar ali apenas para servi-las. A diferença entre as duas está no bom coração da primeira. Ou seja, o filme não envelheceu absolutamente nada. Pelo contrário, é até mais verossímil hoje do que quando do seu lançamento. Por outro lado, além desse seu lado “feminista”, digamos assim, há um subtexto político anti-Macarthismo presente na trama, mormente por meio do personagem de Turkey (Ben Cooper) que é obrigado à delação diante de uma verdadeira caça às bruxas promovida por Emma e asseclas. Situação similar foi vivida realmente pelo ator Hayden diante do malfadado comitê de atividades anti-americanas que aterrorizava artistas e intelectuais à época.


Mercedes McCambridge

Outro aspecto marcante da película são os seus diálogos (aliás, uma constante nas obras de Ray), que atingem os personagens e os espetadores de maneira bem mais certeira que os tiros dos rifles e revólveres. Várias são as frases antológicas do longa, como a de que “um homem precisa apenas de um bom cigarro e um copo de café” ou “depois do incêndio costumam restar somente as cinzas” (proferida por Vienna ao se reportar ao seu antigo amor por Johnny). Escrito por Philip Yordan baseado no romance de Roy Chanslor - e com a participação não creditada de Ben Maddow, que fazia parte da lista negra do FBI (reforçando a perspectiva de crítica à perseguição dos comunistas) - o roteiro realmente é ímpar e capaz de levar os espectadores a passar horas apenas apreciando o brilhante jogo de palavras (como hoje muitos costumam fazer com os filmes de Quentin Tarantino). É claro que para o texto fluir de maneira eficiente é necessário um elenco competente e é isso que se vê na tela. Nem parece que ocorreram tantos atritos nos bastidores da filmagens, uma vez que Crawford e McCambridge também não se davam bem na vida real e tal circunstância fez com que elas se evitassem ao máximo nas gravações. Pensando bem, talvez seja até por essa antipatia mútua que tenha resultado uma rivalidade tão verossímil na projeção, com as duas atrizes entregando ótimas interpretações.


Scott Brady, Joan Crawford e Sterling Hayden
Outra vertente em que Ray subverte o gênero é na utilização das cores. Normalmente, o Western privilegia as paisagens como foco da fotografia, destacando a imensidão da natureza frente à insignificância dos homens como forma de acentuar ainda mais a coragem e persistência destes (John Ford foi um mestre nesse quesito). Aqui, entretanto, Ray, usando da tecnologia denominada Trucolor (que dava mais destaque ao colorido na captação das imagens), privilegiou as cores dos figurinos, geralmente fortes e contrastantes, os quais, em boa medida, traduzem os sentimentos dos personagens. Memorável a cena em que Emma e seu grupo, todos trajando preto, invadem o saloon como abutres procurando uma presa e encontram Vienna com um vestido inteiramente branco em contraste com a parede rochosa e vermelha ao fundo. Uma cena de acabamento barroco belíssima e memorável. Além disso, Ray privilegia aqui os cenários interiores, com longas sequências se passando em ambientes fechados – logo nos primeiros momentos, inclusive, temos uma bastante extensa (mas jamais cansativa) em que somos apresentados a todos os personagens e tomamos pé das situações, em um verdadeiro show de concisão e clareza de roteiro e edição.

Joan Crawford e Sterling Hayden

Realizado com orçamento limitado pelos estúdios Republic (que iriam à falência 4 anos depois), “Johnny Guitar” revela-se um dos faroestes mais atípicos já filmados, tanto na forma como no conteúdo, estando bastante à frente do seu tempo, como já salientado, o que inevitavelmente já o coloca entre os melhores representantes do gênero. Seu resultado é tão belo quanto sua canção tema, composta por Victor Young e Peggy Lee (esta também intérprete), música que põe a cereja no bolo desta obra impecável do fantástico Nicholas Ray, um diretor que hoje costuma ser muito lembrado por seu trabalho em“Juventude Transviada” (Rebel Without a Cause, 1955). Eu, particularmente, considero este western não tão famoso até superior ao drama protagonizado pelo mítico James Dean, longa que hoje me parece um pouco datado. “Johnny Guitar”, inversamente, com suas mulheres fortes e homens apaixonados, parece ter sido feito ontem.
               CRÉDITO DO TEXTO: Cinema com Pimenta




CARTAZES DO FILME
CRÉDITO







Johnny Guitar - 1954

Sinopse
Vienna é a dona do saloon, constantemente ameaçada pelos rancheiros que querem sua propriedade por causa da passagem da ferrovia. O minerador Dancin'Kid é acusado de matar num assalto à diligência um dos rancheiros, irmão de Emma. Vienna chama seu ex-amante e pistoleiro Johnny Guitar, para ajudá-la a manter os rancheiros afastados. Emma, que ama Dancin'Kid, tem ciúmes dele com Vienna e quer enforcá-la, acusando-a de participar do crime que matou seu irmão. As duas se confrontam numa última luta inusitada e mortal.



Elenco e Ficha Técnica:
Elenco: Joan Crawford, Sterling Hayden, 
Mercedes McCambridge, Scott Brady, 
Ernest Borgnine, Ward Bond, 
John Carradine, 
Direção: Nicholas Ray
Musica: Peggy Lee and Victor Young
Produtor: Herbert J Yates
Roteiro: Roy Chanslor (romance) 
Philip Yordan (roteiro) 
Ben Maddow, Nicholas Ray
Gênero: Faroeste
Origem e Ano: EUA - 1970






Anônimo Veneziano, (1970)





TRILHA ORIGINAL
Anônimo Veneziano/Stelvio Cipriani

A magistral trilha sonora de Stelvio Cipriani é, sem dúvida, um dos pontos mais altos deste melodrama italiano. A partir do “Adágio do Concerto para Oboé e Cordas”, de Benedetto Marcello, compositor italiano do século XVIII, Cipriani criou uma romântica melodia para o filme.



ANÔNIMO VENEZIANO - 1970

É. A beleza é o anteparo da Morte e da Loucura. Ela nos poupa a entrada num mundo onde ou desconhecemos a fala – onde a comunicação não é possível, ou é muito difícil o entendimento.
Anônimo Veneziano – baseado no romance homônimo do escritor Giuseppe Beto, tem roteiro magistralmente desenvolvido pelo diretor Enrico Salerno.
A beleza feminina de Veneza nos dá a mão para atravessarmos esta história de perda. Morte da vida, morte do amor.
A decadência de Veneza – hoje em dia já bem mais restaurada – nos ensina que o tempo destrói porém a memória se mantém intacta – lembranças, sítios arqueológicos e sem data definida que incomodam o presente de forma invasiva e surpreendente.
Um casal nunca é desfeito quando as lembranças ainda se apresentam despudoradamente.
Sempre formamos par com alguém para rodopiarmos na dança da Vida.

Tony Musante e Florinda Bolkan

Um casal se desfaz. Não importa de quem foi o corte – nesse caso não gosto de usar o termo ‘culpa’. Têm um filho dessa união da juventude, vivida com amor e desejo. Agora, separados, vivem em cidades quase vizinhas; ela em outra união e ele ainda só.

O reencontro ocorre por um chamado desse ex-marido para (pressupomos) um derradeiro encontro. Ele está com pouco tempo de vida e esse pouco que lhe resta será extremamente penoso – um tumor inoperável no cérebro. Tragédia na medida certa!

Florinda Bolkan

A paisagem da Veneza decadente é a metáfora…ora bolas, mas que metáfora… é o belo, sedutor e apaixonado amor vivido num passado da gloriosa juventude – como todas as juventudes…

E o filme é um excelente parcour por Veneza enquanto rememoram a paixão que, numa noite, volta insistente e atrevida a unir o casal. A cama – leito de carícias ou arena de indiferenças – naquele último e lamentoso encontro, passou a ser um leito de morte: da vida e do amor. Nada mais resta a fazer senão um doloroso adeus.
Mas, Ó vós, homens de fé apoucada, o filme é lindo e ao final temos vontade de sair amando não importa quem. Porque si l’important c’est la rose, o importante é amar!
 Tony Musante

A música é enlouquecedoramente romântica. Do Concerto para oboé de Marcello, compositor italiano do século XVIII, peça belíssima e rara de ser encontrada em CD, o maestro Stelvio Cipriani recriou terna melodia para a música incidental do filme.

Florinda Bolkan, pasmem, trabalha direitinho e até ganhou um Donatello! Superior desempenho vai para seu parceiro Tony Musante, ítalo-americano que sumiu no tempo e no espaço mas jamais da minha memória. Dizem que trabalha em seriados. Pecatto!
Enrico Maria Salerno  é o personagem Zenone do “Exército de Brancaleone”; sua voz tão insinuante e carismática é a dublagem de Jesus Cristo no “Evangelho Segundo São Mateus”, de Pasolini.

Anônimo Veneziano. Non dimenticare mai!
Vale a pena uma ida à locadora de sua preferência. E se apaixonem, caso tenham tempo.
 CRÉDITO DO TEXTO: Edith Sarmento Dutra. Blog: Bloguices-ect.





Versão da Trilha com Cenas do Filme
Anonimo Veneziano - Fred Bongusto (Stelvio Cipriani)




CARTAZES DO FILME 






ANÔNIMO VENEZIANO - 1970

SINOPSE
Enrico (Tony Musante), um músico de renome, está muito doente e chama sua ex-mulher, Valeria (Florinda Bolkan), para visitá-lo em Veneza. Ao som da belíssima trilha sonora de Stelvio Cipriani, eles passeiam pelas ruas da cidade e conversam sobre o antigo relacionamento, o filho em comum, o amor e a vida.
Baseado no romance homônimo do escritor Giuseppe Beto, “Anônimo Veneziano” tem roteiro magistralmente desenvolvido pelo diretor Enrico Maria Salerno, com participação do escritor. Totalmente rodado em Veneza, talvez os roteiristas tenham querido fazer um paralelo entre uma cidade decadente e a vida de um homem condenado à morte por conta de uma terrível doença no cérebro. Para tanto, a fotografia de Marcello Gatti evita capturar locais nobres e vistos por milhões de turistas que visitam a cidade todo ano como, por exemplo, as Piazza e Basilica di San Marco, os Palácios, suas Pontes, etc



ELENCO E FICHA TÉCNICA 
Elenco: Tony Musante, Florinda Bolkan
Toti Dal Monte, Sandro Grinfan
Direção: Enrico Maria Salermo 
Roteiro: Enrico Maria Salermo e Giuseppe Berto 
Música Original: Stelvio Cipriani
Fotografia: Marcello Gatti
Produção: Turi Vasile

30 de outubro de 2014

Doutor Jivago, (1965)





TRILHA ORIGINAL
Lara's Theme (Maurice Jarre)

Maurice Jarre, recentemente desaparecido aos 82 anos, foi um dos maiores gênios das trilhas sonoras para o cinema. Sua carreira musical começou nos anos 50 em curta-metragens de seu país de origem, a França. No entanto, seu primeiro grande sucesso foi em Lawrence da Arábia, o que lançou definitivamente sua parceria com o realizador David Lean. Sua música está para sempre ligada a filmes legendários como Doutor Jivago, Ghost, Shogun, Carruagens de Fogo, O Círculo dos Poetas Desaparecidos, entre outros. Recebeu várias premiações, entre elas 3 Oscars e 4 Golden Globes.



Doctor Zhivago (Doutor Jivago) - 1965

Após 40 anos de sua primeira exibição, Doutor Zhivago é uma obra-prima da cinematografia mundial. E com merecido aplausos, diga-se de passagem. Mais um grande sucesso da filmografia do premiado David Lean (o mesmo de Grandes Esperanças, Lawrence da Arábia, A Ponte do Rio Kwait, Passagem para Índia, dentre tantos outros), Doutor Zhivago narra a história de um homem que amava duas mulheres, de forma intensa e sincera, sob o cenário violento das divergências ideológicas e políticas entre o liberalismo burguês e o socialismo dos sovietes na conturbada Rússia, às vésperas da Revolução Bolchevique de 1917.

Doctor Zhivago, 1965

Inspirado no romance de Boris Pasternak, Lean levou às telas um filme que, a meu ver, pode ser considerado uma das mais fiéis adaptações da literatura para o cinema. Para escrever o roteiro, Lean convidou o excelente dramaturgo Robert Bolt, que já havia trabalhado para David Lean no filme “Lawrence da Arábia”. O que poucos sabem é que o livro que deu origem ao filme foi altamente condenado na Rússia. Boris Parternak (que recusou o Prêmio Nobel de Literatura por este livro) chegou várias vezes a ser chamado de traidor da pátria. Logo ele, que com seus 15 anos de idade vem começar a tomar nota do horror que foi a Revolução Russa, para mais tarde escrever, já com toda a experiência e sabedoria provinda de seus estudos filosóficos em Moscou e na Alemanha, um poético e sublime romance em defesa da paz. Impedido de publicar o romance na Rússia, o livro só veio a se tornar um best-seller mundial graças a intervenção de um contrabando local que levou os manuscritos até um editor em Milão, Itália. Se não fosse isso, estaríamos até hoje sem ter tido o deleite de assistir a esse filme, captado de imediato pelo olhar visionário do produtor Carlo Ponti e do presidente da MGM, Robert H. O’Brien, que juntos, levaram a história ao grande cineasta, David Lean.

Omar Sharif

Para contar uma história que se passa ao longo de 40 anos, David Lean exigia rostos novos, mas memoráveis, capazes de exprimir a juventude nas primeiras seqüências e a maturidade nas últimas cenas, de igual proporção. Através de uma criteriosa seleção de atores, Lean reuniu um elenco de promissores talentos: o egípcio Omar Sharif recebe o papel de Yuri Zhivago. “E eu pensava que seria o Pasha”, comenta o ator. Geraldine Chaplin interpreta Tonya, a doce e sempre apaixonada esposa de Yuri. A estonteante Julia Christie faz o papel de Lara, o turbulento amor de Zhivago, por quem os girassóis nascem e murcham, conforme a sua presença. Tom Courtenay é Pasha, um jovem idealista convicto, marido de Lara, que mais tarde, vem a se tornar um temido líder bolchevique. Sob os braços da Revolução, esse jovem idealista entrega sua vida sem temor nem renúncia.

Julie Christie e Omar Sharif 

Mas não só de rostos novos se faz o elenco deste filme. Nomes notáveis como o de Rod Steiger no papel de impiedoso Komarovsky, o perseguidor de Lara; o de Alec Guiness como Yevgraf, o misteriosos meio-irmão de Zhivago; além de Sir Ralph Richardson (padastro de Zhivago) e de Siobhan McKenna (mãe de Tonya), o filme garante a deliciosa harmonia necessária a um grande filme. Além do maravilhoso elenco, a equipe técnica de “Doutor Zhivago” é igualmente impecável. Desde a direção de arte (capaz de transformar um território hispânico no gélido Moscou), até a direção de fotografia, que imprimiu na película as luzes e cores das paisagens e dos interiores mais belos possíveis, em consonância com o que era narrado no romance. Acredito que em matéria técnica, a direção de fotografia chega a ofuscar os demais departamentos. As mudanças de estações do ano para determinar uma passagem no tempo, como, por exemplo, as cenas de inverno serem rodadas como num filme em preto e branco, e a alternância disso para uma tonalização ora dourada (lembrando das seqüências dos girassóis) ora prateada. A terceira grande cor presente no filme é o vermelho, capaz de exprimir todo o horror daquele momento.

A música de Maurice Jarre, também inesquecível, que contribuiu, e muito, para a colocação de “Doutor Zhivago” em um dos mais altos pedestais da Cinematografia Universal, também não pode ser desmerecida (nem poderia, pois só o “tema de Lara” é ainda lembrando como mais uma dos maravilhosos exemplos das mais belas trilhas sonora feitas pra Cinema). Tudo isso contribui para o engrandecimento de “Doutor Zhivago” ao hall dos clássicos inesquecíveis.

Geraldine Chaplin e Omar Sharif
Cada momento do filme é antológico, rico em emoções e significados. David Lean sempre foi conhecido como o grande cineasta das metáforas, e isso fica bem evidenciado no filme. As seqüências sob a lua, as folhas levadas pelo vento, as bandeiras, os trens, e, acima de tudo, dos girassóis, não são gratuitos. A vela na janela (bem recorrente na película) e a presença da balalaica (dada ao pequeno Zhivago no enterro de sua mãe, e herdado pela filha, no final do filme) são outros dos vários exemplos que poderiam ser motivos de aprofundadas análises do discurso fílmico.

De fato, é um filme profundo, poético e universal, tal qual o romance de Pasternak. Merece ser sempre revisitado e apreciado pelas novas gerações de cinéfilos, de fãs de Star Wars a fãs de Ridley Scott. “Dr. Zhivago” é uma das mais felizes provas de como um épico deve ser feito. De forma viva e humana, tal qual o personagem Jivago (que em russo significa “aquele que vive”), consequentemente, passível de falhas, mas imortal por seus feitos e impressões. É assim que deve ser.
CRÉDITOS DO TEXTO: inemacomrapadura.com.br





CARTAZES DO FILME




Doctor Zhivago - 1965

Sinopse 
Considerado um dos cem mais importantes filmes da história do cinema mundial, chega agora a versão definitiva de um verdadeiro clássico: Dr. Jivago. Vencedor de cinco Oscar® incluindo o de Melhor Trilha Sonora composta por Maurice Jarre, Dr. Jivago é um dos mais belos filmes dirigidos por David Lean (Lawrence da Arábia ), contando a história de um amor impossível entre o jovem médico Iury Jivago (Omar Sharif) e a bela Lara (Julie Christie), uma paixão que atravessa uma revolução e uma guerra mundial. Um filme apaixonante, com imagens memoráveis, como a da revolução russa nas ruas de San Petersburg, a travessia de trem pelos Montes Urais, e as incontáveis cenas de batalhas pela Europa durante a Segunda Guerra Mundial.



ELENCO E FICHA TÉCNICA 
Elenco: Omar Sharif, Julie Christie, Alec Guinness,
Geraldine Chaplin, Rod Steiger,
Tom Courtenay e Siobhan McKenna
Diretor: David Lean.
Roteiro: Robert Bolt, baseado em
romance de Boris Pasternak.
Produção: Carlo Ponti.
Música: Maurice Jarre
Gênero: Drama/Romance/Guerra
País e Ano: EUA - 1965





CURIOSIDADES

O filme foi proibido na Rússia até 1994.

Omar Sharif tinha pedido ao diretor David Lean para fazer o papel de "Pasha" e ficou surpreso quando ele o convidou para o papel título.

O ator que fez o papel de jovem Yuri é o filho de Omar Sharif na vida real.

David Lean originalmente queria Marlon Brando no papel de "Victor Komarovsky" e lhe enviou o roteiro, mas Marlon Brando jamais lhe respondeu.

As filmagens foram realizadas na Espanha, durante o regime do general Francisco Franco.




PRÊMIOS E INDICAÇÕES
Oscar 1966 (EUA)
Ganhou cinco prêmios, nas categorias de Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Direção de Arte - Melhor Fotografia - Melhor Figurino - Melhor Trilha Sonora.
Foi ainda indicado nas categorias de Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator Coadjuvante (Tom Courtenay), Melhor Edição e Melhor Som.

Globo de Ouro 1966 (EUA)
Ganhou nas categorias de Melhor Filme -  Melhor Diretor, Melhor Ator - (Omar Sharif), Melhor Roteiro e Melhor Trilha Sonora.
Recebeu ainda uma indicação na categoria de Melhor Revelação Feminina (Geraldine Chaplin).

BAFTA 1967 (Reino Unido)
Recebeu três indicações, nas categorias de Melhor Filme, Melhor Ator Britânico (Ralph Richardson) 
e Melhor Atriz Britânica (Julie Christie).

Grammy 1967 (EUA)
Ganhou na categoria de Melhor Trilha Sonora Composta Para um Filme.

Festival de Cannes 1966 (França)
Indicado à Palma de Ouro.

Prêmio David di Donatello 1967 (Itália)
Venceu na categoria de Melhor Filme Estrangeiro.

Vencedor de 5 Golden Globes
 Filme, Diretor (David Lean), Ator/(Omar Sharif)
Roteiro, Trilha Sonora



28 de outubro de 2014

O Pássaro das Plumas de Cristal, (1970)





O Pássaro das Plumas de Cristal (The Bird with the Crystal Plumage) - 1970

O suspense policial conhecido dentro da indústria cinematográfica como “whodunit” é um subgênero que cativa muitos cinéfilos. Os filmes desse estilo invariavelmente mostram uma investigação com o objetivo de revelar a identidade de um criminoso. Na Itália, o “whodunit” ganhou características particulares que proporcionaram o surgimento de um dos tipos de filmes mais populares do país: o “giallo”. O diretor Dario Argento fez os filmes fundamentais do “giallo”. Um desses filmes, que marcou a estréia de Argento, é o engenhoso “O Pássaro das Plumas de Cristal” (L’Uccello dalle Piume di Cristallo, Itália/Alemanha, 1970).


Visualmente caprichado, com uma narrativa simples e eficiente, o longa-metragem já lançava as sementes do estilo delirante e operístico que o diretor desenvolveria nos anos seguintes, mas de maneira contida, com influências visíveis do estilo de Alfred Hitchcock. “O Pássaro das Plumas de Cristal” deve ser visto, aliás, como o elo perdido que liga a obra de Hitchcock ao cinema de Brian De Palma. Também não é exagero ver ecos do filme de Argento em várias superproduções que mostram investigações em buscas de assassinos seriais, como “Seven”.


Suzy Kendall e Tony Musante 

O roteiro do filme, escrito com a ajuda do escritor de mistério Edgar Wallace, é centrado em um escritor norte-americano de passagem por Roma. Sam Dalmas (Tony Musante) presencia, sem querer, a tentativa de assassinato de uma mulher em uma galeria de arte. Certo de que viu algo importante na cena do crime que não consegue lembrar, ele passa a ajudar o inspetor Morosini (Enrico Maria Salerno) nas investigações, ao mesmo tempo em que começa a ser perseguido pelo assassino.

O enredo básico não é muito original, mas Argento o trabalho de maneira criativa, usando todos os recursos cinematográficos disponíveis para criar um trabalho de impacto. O cineasta abusa, por exemplo, da câmera subjetiva, sempre ilustrando através dela o olhar do assassino à espreita de algum personagem, o que cria tensão e excitação. Além disso, a imagem do criminoso – casaco, luvas e chapéu de couro negro – é tão forte e evocativa que ecoaria em vários outros filmes do gênero “giallo”.


A influencia do trabalho de Hitchcock é evidente em “O Pássaro das Plumas de Cristal”. A própria situação básica do protagonista, que começa a investigar o crime para não ser considerado suspeito dele, é uma das favoritas do mestre do suspense. Além disso, há referências visuais a “Janela Indiscreta” (o final, com um dos personagens caindo de uma varanda, é idêntico), “O Homem Que Sabia Demais” (o ator que interpreta um matador de aluguel contratado para eliminar Dalmas é o mesmo que tenta cometer o assassinato na ópera do filme de Hitchcock) e principalmente “Psicose”.

Tony Musante na Cena do Filme
Ainda tímido na exibição de cenas violentas, em que se tornaria especialista nos anos seguintes, Argento filma as mortes cometidas pelo assassino usando truques de montagem, para não ser muito explícito. Em um deles, por exemplo, há uma tomada de uma mão enluvada que segura uma navalha e vai se aproximando do rosto de uma mulher aos gritos. Há um corte, e a tomada seguinte mostra um jato de sangue molhando o chão. A montagem lembra uma versão simplificada da famosa morte de Janet Leigh, no chuveiro, em “Psicose”.

Por outro lado, Dario Argento encontra espaço também para desenvolver uma de suas marcas registradas, verdadeira obsessão que estará presente em quase todos os filmes seguintes dele: a maneira como uma cena pode ser distorcida quando interpretada através dos filtros da memória. Esse é precisamente o motivo que impede Sam Dalmas de resolver o caso logo no início. O escritor tem certeza de que havia algo singular no crime que viu, e repassa a cena mentalmente inúmeras vezes, mas não consegue descobrir qual o detalhe misterioso (no final do filme, é claro, ele consegue lembrar). Essa situação – uma cena que precisa ser revisada várias vezes na memória para que revele seu verdadeiro significado – se repete em quase todos os filmes de Argento.


Suzy Kendall

Talvez essa obsessão tenha nascido em “Blow Up”, o suspense existencialista de Michelangelo Antonioni, diretor sempre citado por Argento como forte influência. Mas o cineasta o levaria um passo à frente, promovendo repetidas investigações sobre o uso da memória para reinterpretar eventos, atribuindo-lhes novos significados. É também esse o detalhe que liga “O Pássaro das Plumas de Cristal” à obra de Brian De Palma, especialmente “Um Tiro Na Noite”, em que o protagonista interpretado por John Travolta se encontra em situação idêntica à de Sam Dalmas, e usa a mesma técnica de investigação para reconstituir o momento que lhe interessa.


The Bird with the Crystal Plumage

Embora pouco citada quando se fala dos filmes de Argento, a montagem de Franco Fraticelli é muito importante para o resultado final. Seja imprimindo tensão através de imagens sugestivas associadas com a trilha sonora quase minimalista (como na seqüência de abertura, que mostra o assassino selecionando uma vítima), seja realizando elipses inteligentes. Uma delas é antológica: a tomada mostra o escritor olhando para a fotografia de um quadro que, ele suspeita, está com o assassino; a câmera se aproxima do quadro, que ganha cores, e então volta a se afastar, mostrando agora o vulto do assassino em frente à pintura original.

Por fim, é importante destacar o excelente time de colaboradores que Argento conseguiu reunir na sua estréia no cinema. A trilha sonora, por exemplo, fica a cargo do maestro Ennio Morricone, que se afasta por completo do tipo de música compunha para os western spaghetti e faz pequenos solos de jazz com repetições constantes de notas, trazendo uma sensação de desconforto. Já o responsável por trazer à vida os cuidadosos enquadramentos bolados por Argento é o mestre Vittorio Storaro, que faria depois “Apocalypse Now” e “O Último Imperador”, entre outros clássicos. Nada como começar em grande estilo, não? 
CRÉDITOS DO TEXTO: Rodrigo Carreiro/CinereporterBlog




CARTAZES DO FILME 
CRÉDITO























O Pássaro das Plumas de Cristal (The Bird with the Crystal Plumage) - 1970

SINOPSE
Sam é um escritor americano que vive em Roma. Sofrendo de um bloqueio criativo, ele pretende retornar em breve aos Estados Unidos com sua namorada, Giulia. Uma noite, ele testemunha uma tentativa de assassinato de uma mulher por um misterioso homem vestido de preto. A mulher sobrevive, mas o criminoso, que Sam descobre se tratar de um serial killer perseguido há tempos pela polícia, acaba fugindo. Assombrado por este ataque, ele começa a investigar o assassino sozinho, até tornar-se um de seus alvos. 




 ELENCO E FICHA TÉCNICA
Elenco:  Tony Musante, Suzy Kendall
 Enrico Maria Salerno,  Eva Renzi, Umberto Raho
 Renato Romano,  Giuseppe Castellano
 Mario Adorf
Título original: L'uccello dalle Piume di Cristallo
Origem e Ano: Itália/Alemanha - 1970
Gênero: Suspense, terror
Direção: Dario Argento
Roteiro: Dario Argento, Bryan Edgar Wallace
Música: Ennio Morricone





26 de outubro de 2014

Bonequinha de Luxo, (1961)




Trilha Sonora Original - Moon River (Henry Mancini)




BONEQUINHA DE LUXO (Breakfast at Tiffany's) - 1961

Quando Trumam Capote vendeu os direitos de seu romance Breakfast at Tiffany´s por uma singela quantia para a Paramount Pictures ele não imaginava o sucesso que o filme estrelado por Audrey Hepburn iria alcançar, se tornando, posteriormente, um ícone de moda e estilo; não imaginava também que sua obra mudaria o rumo das mulheres dos anos 50.

Capote finalizou Bonequinha de Luxo em 1958 e esperava publicá-lo na Harper´s Bazaar que, ironicamente, recusou o manuscrito. Segundo o próprio, Holly foi inspirada em todas “essas moças chegam a NY, voejam ao sol como siriris e depois desaparecem. Eu queria resgatar uma garota desse anonimato e preservá-la para a posteridade”.

Na trama cinematográfica Holly Golightly (Audrey Hepburn) é uma acompanhante de luxo que sonha em se casar com um milionário e tornar-se uma atriz de Hollywood, motivos que a fizeram abandonar seu passado e se mudar para Nova York. Na cidade, ela passa a receber a ajuda financeira de Sally Tomato, um mafioso preso em Sing-Sing, onde os dois se encontram semanalmente. Holly nutre um carinho enorme pelo seu irmão Fred e quando conhece seu novo vizinho, o escritor Paul Varjak (George Peppard), passa a chamá-lo de Fred. A amizade entre os dois se desenvolve conforme vão descobrindo afinidades entre si, ela confia em Paul, por acreditar que ele é o único homem que não quer dela o mesmo que os outros.

Holly poderia ser considerada um resultado da junção das mulheres que marcaram de alguma forma a vida de Capote, sobretudo, sua mãe, Lillie Mae, e seus “cisnes”, como costumava chamar suas amigas da alta sociedade que lhe confiavam seus segredos mais íntimos. Sua mãe tinha o hábito de abandonar o filho ainda pequeno para pular de cama em cama (literalmente) de homens bem sucedidos que pudessem proporcionar a vida que sonhava, para isso trocava a calmaria do Alabama pelas suítes de NYC, vivendo, a cada dia, os dramas e jogos de poder da elite nova-iorquina.

Audrey Hepburn em Breakfast at Tiffany´s, 1961
Voltemos ao filme. A trama do longa é toda baseada em insinuações e jogos de linguagem inteligentemente construídas pelo roteirista George Axelrod e supervisionadas pelos produtores Martin Jurow e Richard Shepherd. Algumas informações como a homossexualidade de Paul e a bissexualidade de Holly foram omitidas a fim de tornar a história mais adequada aos olhos de Audrey e de driblar os censores da Production Code Administration, órgão que regulava as produções delimitando assuntos e abordagens. Axelrod já tinha passado por uma experiência parecida quando transformou O Pecado mora ao lado em uma comédia ‘sobre o adultério sem o adultério’ e ainda fazer as pessoas rirem disso. Acostumado com peças da Broadway, onde sua liberdade artística era preservada, Bonequinha de Luxo se tornou um desafio enorme. Havia muito o que se perder em jogo.

Naquele momento havia padrões de mulheres na indústria cinematográfica exemplificados por estilos bastante distintos, Audrey Hepburn não se encaixava em nenhum desses estereótipos. De um lado, estava Doris Day, sinônimo de pureza e castidade, e do outro, Marilyn Monroe, loira fatal. O cinema tinha um papel julgador, sexo somente depois do casamento, as mulheres deveriam ser castas, as que ousavam se divertir pagavam o preço, sofriam, se arrependiam e casavam. Holly era diferente, ela morava sozinha, ficava bêbada e se sentia bem com isso, não parecia envergonhá-la.

A escolha da “boazinha” Audrey para o papel de Holly foi inusitada. Em Bonequinha de Luxo, ela redefiniu o novo papel da mulher; ela transpirava independência e liberdade individual e sexual. Com roupas acessíveis, ela parecia sofisticada, o glamour estava ao alcance de qualquer um, independente de origem (lembre-se que Holly veio de Tulip, Texas), classe social, era mais democrático e se afastava de padrões como Grace Kelly, Marilyn Monroe e Elizabeth Taylor, por exemplo. Com a explosão demográfica em curso surge um novo grupo denominado teenagers e com eles o cool, nesse momento, Audrey corta seu cabelo curtíssimo contrariando o padrão estético vigente, dizendo, indiretamente, que as mulheres poderiam ser donas do própria destino.

Audrey imortalizou o pretinho básico, ao mesmo tempo que temia a exigência que o filme faria dela. Dividida entre a vida de atriz e da esposa, ela vivia em constante dúvida sobre qual caminho seguir, insegurança e questionamentos reforçados pelo seu marido, Mel Ferrer. Controlador e machista, exigia que a mulher fosse perfeita e não se importava em reprendê-la em público, Mel era um ator frustrado e não suportava, assumidamente, o fato de que a fama de mulher o ofuscava.

Há três pontos importantes na construção de Bonequinha de Luxo que merecem destaque: figurino, direção e trilha sonora. Vamos lá!

Quem vê Hepburn desfilar na tela com seus vestidos e chapéus não imagina a guerra de que foi travada nos bastidores entre Edith Head e Hubert De Givenchy. Edith era uma famosa e respeitada figurinista da Paramount, indicada ao Oscar 35 vezes em toda a carreira, era uma mulher rígida de poucas palavras e detestava as tendências. Seu poder e preferência foi questionado quando Audrey fez valer uma claúsula inegociável no seu contrato, desde Cinderela em Paris (1957) que estipulava que Givenchy desenharia seus figurinos. Hubert De Givenchy, designer, estilista parisiense, costurava para a pessoa e não para o estilo, passou a ser a escolha de confiança de Audrey, não era funcional ao contrário de Edith, fez a atriz brilhar em Sabrina, foi indicada ao Oscar, junto com Billy Wilder, mas a única que ganhou foi Edith, era seu sexto Oscar.

Dono de gags sofisticadas, o diretor Blake Edwards tinha na bagagem uma vasta experiência em televisão, o que o ajudou no timing para muitas das cenas, como a da festa na casa de Holly. Idealizada por ele, a engraçada cena  foi o resultado de muito ensaio, de uma seleta escolha de personagens, que se diferenciavam por não serem figurantes, e sim atores de verdade. Essa cena demonstrou a habilidade de Edwards em alcançar um ótimo resultado num curto espaço de tempo e na escolha de sua equipe, aqui inclui-se o que conquistou mais prêmios com Bonequinha de Luxo, Henry Mancini.

Debruçado sob um piano durante semanas para estudar o tom de Audrey e elaborar uma música que fosse capaz de interpretar com segurança, o compositor Mancini, ao ver Cinderela em Paris, descobriu qual seria o alcance vocal da atriz.  Compôs “Moon River”, que teve “Blue River” como título provisório, e na voz de Jhonny Mercer foi imortalizada. O sucesso da canção proporcionou a re-estreia da carreria de Mercer como compositor, ganhador de diversos Grammy´s, inclusive o de reconhecimento, em 1995. Mancini é conhecido por sua ousadia e vanguarda, ele quebrou paradigmas ao colocar jazz nas trilhas sonoras de cinema, antes, predominantemente sinfônica, a escolha de Mercer para “Moon River” não poderia ter sido melhor.

VOCÊ NÃO SABIA QUE…

- Inicialmente cogitou-se que Bonequinha de Luxo fosse dirigido por John Frankenheimer e estrelado por Marilyn Monroe. A musa loira, orientada por seu mentor Lee Strasberg não aceitos o papel alegando que interpretar uma prostitura não seria positivo para sua imagem.

- As filmagens de Bonequinha de Luxo ocorreram apenas 3 meses após o nascimento do primeiro filho de Audrey Hepburn, Sean Ferrer.

- A canção “Moon River” foi escrita especialmente para Audrey Hepburn, considerando o fato de que a atriz não possuía treinamento para canto na época. A canção na versão tocada no longa, a pedido da atriz, não entrou no LP da trilha sonora.

- A Tiffany’s abriu pela primeira vez em um domingo desde o século XIX, para que as filmagens dentro da loja pudessem ser realizadas.

- Audrey Hepburn recebeu um salário de US$ 750 mil por sua atuação em Bonequinha de Luxo, o que a tornou o 2º maior salário pago até então a uma atriz. O 1º era o de Elizabeth Taylor em Cleópatra, de US$ 1 milhão. Fora os gastos com elenco, o orçamento do filme foi de US$ 2,5 milhões e teve a receita de U$14 milhões.

- Prêmios: Oscar de Melhor Trilha Sonora (Comédia/Drama), Melhor Canção Original (“Moon River”), Grammy de Melhor Trilha Sonora – Cinema/TV. Indicações: de Melhor Atriz – Audrey Hepburn, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Direção de Arte – Colorido.

- Em 2011, a Paramount Pictures lançou um Box com um DVD, um livro com os bastidores do filme e uma carta assinada pelo diretor Blake Edwards para comemorar o quinquagésimo aniversário do longa.




CARTAZES DO FILME 
CRÉDITOS





Bonequinha de Luxo (Breakfast at Tiffany's) - 1961

SINOPSE
Holly Golightly (Audrey Hepburn) é uma garota de programa nova-iorquina que está decidida a casar-se com um milionário. Perdida entre a inocência, ambição e futilidade, ela toma seus cafés da manhã em frente à famosa joalheria Tiffany`s, na intenção de fugir dos problemas. Seus planos mudam quando conhece Paul Varjak (George Peppard), um jovem escritor bancado pela amante que se torna seu vizinho, com quem se envolve. Apesar do interesse em Paul, Holly reluta em se entregar a um amor que contraria seus objetivos de tornar-se rica.


ELENCO E FICHA TÉCNICA 
Elenco: Audrey Hepburn, George Peppard, 
Alan Reed, Beverly Powers, Buddy Ebsen, 
Dorothy Whitney, Martin Balsam, 
Mickey Rooney, Patricia Neal
Gênero: Comédia, Romance
Direção: Blake Edwards
Roteiro: George Axelrod
Produção: Martin Jurow, Richard Shepherd
Fotografia: Franz Planer
Música: Henry Mancini
País: USA





Prêmios e Indicações:

Oscar (1962)

Melhor Roteiro adaptado - George Axelrod - Indicado

Melhor Direção de Arte - Hal Pereira, Roland Anderson, Samuel M. Comer, Ray Moyer - Indicado

Melhor Atriz Audrey Hepburn - Indicado

Melhor Trilha Sonora Original Henry Mancini - Venceu

Melhor Canção "Moon River", por Henry Mancini - Venceu

Globo de Ouro (1962)

Melhor Filme - Comédia ou Musical Blake Edwards - Indicado

Melhor Atriz - Comédia ou Musical Audrey Hepburn - Indicado

Grammy (1962)
Melhor Canção do Ano - "Moon River", por Henry Mancini e Johnny Mercer - Venceu
Melhor Arranjo - "Moon River", por Henry Mancini - Venceu
Melhor Gravação do Ano - "Moon River", por Henry Mancini - Venceu
Melhor Álbum de Trilha Sonora ou gravação/Cinema ou Televisão - Henry Mancini - Venceu
Melhor Performance de uma Orquestra - Henry Mancini - Venceu
Fonte: Wikipédia