9 de novembro de 2014

Último Tango em Paris, (1972)




TRILHA ORIGINAL
The Tango (Gato Barbieri)
Gato Barbieri, nascido em 1934 numa família de músicos Argentinos, só em 1972 que realmente experimentou a fama ao compor a trilha para o filme , "Último Tango em Paris". O disco da trilha ganhou um Grammy e rendeu convites para os festivais de Montreux, Bologna, Berlin, Newport e outros.


Último Tango em Paris (Last Tango in Paris) - 1972

Um filme no museu de arte.
A sequência mais famosa de “Último Tango em Paris”, conhecida mundialmente como “cena da manteiga”, poderá deixar aqueles que virem a obra de Bernardo Bertolucci pela primeira vez um tanto decepcionados. Sim, pois se estiverem esperando uma cena de alta voltagem erótica, como muito se alardeia por aí, não será exatamente isso que verão. Ao assistir dita sequência a sensação que me veio foi a de estar presenciando um ato de violência sexual, passando até longe de nuances verdadeiramente sensuais que estimulem o espectador a desejos eróticos ou algo que o valha. Ou seja, muito mais do que sexo, o que vemos é uma agressão. E é possível que somente nos tempos de hoje, onde sexualidade e erotismo estão cada vez mais explícitos até mesmo na televisão, tenhamos uma compreensão melhor, mais apurada, deste longa de 1972 que se tornou um dos mais influentes do cinema ao longo das últimas décadas.

Maria Schneider e Marlon Brando 

Quando foi lançado, vendo com os olhos contemporâneos, observo que “Ultimo Tango a Parigi” chamou a atenção mais pela superfície do que pela sua essência. Afinal, as cenas de nudez e sexo, banais para os padrões atuais, eram fortes para os anos 70. Pelo menos no cinema mainstream, contando com um astro do porte de Marlon Brando, jamais havia sido visto algo tão voluptuoso e escancarado, tanto que lhe rendeu proibição em vários países, entre eles o Brasil, onde só foi liberado pela censura em 1979, sete anos após seu lançamento na Europa. Mesmo em países como Itália e EUA, sua vida não foi fácil, sendo frequentemente exibido apenas depois de passar por uma severa tesourada. Esse “auê” todo teve como resultado a impressão de que o filme de Bertolucci é sobre sexo, mas não é. É antes de tudo um ensaio sobre solidão, vazio existencial e a violência que permeia as relações humanas.


O filme também representa um guinada na carreira de Bertolucci, até então com a imagem muito associada a cinema político em decorrência de obras como “Antes da Revolução” (Prima Della Rivoluzione, 1964) e “O Conformista” (Il Conformista, 1970). Aqui, ele expande seus horizontes para abordagens mais intimistas, pessoais, muito embora não se possa deixar de vislumbrar em “Último Tango em Paris” um manifesto da contracultura e da revolução sexual iniciada nos anos 60. Bertolucci consegue, ademais, aprimorar a sua mise-en-scène, a qual resulta em uma espécie de barroco modernista, principalmente quando lembramos da fotografia de Vittorio Storaro. Colaborador habitual de Bertolucci (foram parceiros em 8 longas), Storaro realizou uma fotografia declaradamente inspirada na arte do britânico Francis Bacon (algumas de suas obras, inclusive, são exibidas durante os créditos iniciais), atribuindo à imagens uma saturação em tons de sépia que influenciaria ao longo dos anos a imagética do chamado “cinema de arte” europeu. Aliás, a própria ideia de “cinema de arte” existente atualmente foi em boa parte criada a partir deste filme. Não é por acaso que uma parcela significativa do cinema dessa vertente no velho continente invista tanto no erotismo (obtendo maior ou menor sucesso) como forma de investigar as relações humanas (o ápice dessa tendência ocorreu no fim dos anos 80/início dos 90). Outro elemento memorável é a música de Gato Barbieri, responsável pelos tangos que dão o título ao longa-metragem. A associação bem acabada de imagem e sons é mesmo um dos seus trunfos e também influenciaria toda uma geração posterior de diretores.

Maria Schneider

O roteiro, concebido pelo próprio Bertolucci, teve colaborações do escritor Alberto Moravia e da também cineasta Agnès Varda, apresentando-se de antemão como inovador por narrar uma história que se passa em Paris sem quase mostrar nada da Cidade Luz. Pelo contrário. Sua ambientação é claustrofóbica, com a maior parcela das ações transcorrendo em interiores, principalmente o apartamento onde os personagens de Brando e Maria Schneider se encontram. Ele interpreta Paul, um norte-americano de meia idade que acaba de se tornar viúvo devido ao suicídio de sua esposa. Casualmente ele conhece Jeanne (Schneider), uma jovem atriz que se encontra noiva de um diretor de cinema (Jean-Pierre Léaud, o alter-ego de François Truffaut e uma das figuras mais queridas da Nouvelle Vague) e procura um apartamento. Sem resistirem à atração mútua, eles passam a se encontrar regularmente em um apartamento sombrio onde, sem jamais dizerem os próprios nomes, mantêm relações sexuais como forma de preencher seu vazio e de expurgar suas culpas e medos.

Marlon Brando e Maria Schneider 

Como é possível perceber, Bertolucci empreende uma jornada de confronto entre Eros e Tânatos, entre a morte e a força pulsante da vida traduzida na forma do sexo. Mas esta é somente um das possíveis leituras dentre as várias possibilidades oferecidas por esta obra de múltiplas camadas, onde cada sequência se mostra como essencial à sua compreensão. Nada nele é gratuito. Até mesmo a frequente nudez de Maria Schneider não surge como uma maneira barata de atrair a atenção do espectador, pois que o seu contraste com um Brando quase sempre vestido parece sugerir que Jeanne está muito mais aberta, exposta e desejosa de novas vivências do que Paul, um homem que se encontra na permanente fuga de uma vida permeada por traumas, alguns explícitos (o suicídio da esposa) e outros apenas sugeridos (teria sido vítima de abuso sexual no passado?). Vale dizer aqui que, para a composição de personagens tão densos a presença de atores de peso seria fundamental e a escolha de Brando não poderia ser mais perfeita. Só mesmo ele, com sua famosa postura de ator-autor, para alcançar tanta entrega a um personagem responsável por algumas da cenas mais densas da história do cinema, tais como o famoso monólogo que realiza diante do corpo de sua falecida esposa. Uma sequência que chega a ser constrangedora para o público, tamanha a carga de sentimentos jogados ao ar, como se estivéssemos diante de uma confissão íntima a que, na verdade, não deveríamos estar assistindo. Schneider também está ótima com a sua aura juvenil, responsável pelo lado “eros” do casal, em contraposição ao “tânatos” de Paul. É uma pena que, de certa forma, sua carreira tenha sido excessivamente marcada por este papel, permanecendo ao longo das décadas posteriores quase apenas lembrada por ter realizado a tal “cena da manteiga”.


Alguns afirmam que Bertolucci teria usado até mesmo teorias de Georges Bataille e outros estudiosos para a elaboração dos diálogos e personagens. Verdade ou não, é impossível negar um fato: ele conseguiu criar um película que realmente atinge o status de “arte”, um longa perturbador, mas fundamental na mesma medida. Jean-Luc Godard já dizia que “cultura é a regra, a arte é a exceção”, sendo que “Último Tango em Paris” indubitavelmente figura entre tais “exceções”. Uma obra cinematográfica que nos atinge tal como uma pintura, afetando o nosso inconsciente, mesmo que no plano consciente possamos eventualmente rejeitar a sua forma. Em outras palavras: um filme digno de ser exposto no museu de arte moderna., ao lado de obras de outros grandes artistas.



CURIOSIDADE
Marlon Brando não usava maquiagem e praticamente improvisou todas as suas falas, fazendo com que o personagem se confundisse com o ator real. Lançado em 1972, o filme teve sua exibição proibida no Brasil até 1979 pelas cenas consideradas, na época, muito chocantes.



CARTAZES DO FILME
CRÉDITO






OUTRA VERSÃO PARA O TEMA 
Last Tango In Paris (Marlena Shaw)


Último Tango em Paris (Ultimo Tango a Parigi) - 1972

SINOPSE
Enquanto procura um apartamento em Paris, uma bela jovem (Maria Schneider) conhece um americano (Marlon Brando), cuja esposa recentemente cometeu suicídio. Instantaneamente um deseja o outro ardentemente e iniciam naquele momento um tórrido affair. Eles combinam que não revelariam nada de suas vidas, nem mesmo seus nomes, sendo que o objetivo dos encontros seria basicamente sexo. Mas gradativamente os acontecimentos vão fugindo do controle de ambos.


ELENCO E FICHA TÉCNICA 
Elenco: Marlon Brando, Maria Schneider,
Jean-Pierre Léaud, Maria Michi
Direção: Bernardo Bertolucci
Roteiro: Bernardo Bertolucci e Franco Arcalli
Produção: Alberto Grimaldi
Fotografia: Vittorio Storaro
Trilha Sonora: Gato Barbieri
Gênero: Drama/Romance
Origem/Ano: França/Itália - 1972 



PRÊMIOS
OSCAR 1974
Indicado:
Melhor Ator - Marlon Brando
Melhor Diretor - Bernardo Bertolucci

GLOBO DE OURO 1974
Indicado:
Melhor Diretor - Bernardo Bertolucci
Melhor Filme - Drama

BAFTA Awards 1974
Indicado:
Melhor Ator - Marlon Brando

– Sindicato Italiano dos Jornalistas de Filmes: Diretor.
– Crítica de Nova York: Ator (Marlon Brando).
– David di Donatello Awards: Prêmio Especial (Maria Schneider).



Bertolucci revela bastidores da 'cena da manteiga' de 'O último tango em Paris'
Maria Schneider teria se sentido usada pelo diretor

O cineasta italiano Bernardo Bertolucci fez uma declaração chocante em Paris, na qual admite sua culpa em relação à mágoa da atriz Maria Schneider, protagonista de "O Ultimo Tango em Paris" (1972).
O cineasta se referiu a "cena da manteiga" entre Schneider e [o ator norte-americano] Marlon Brando, censurada na época por ser muito escandalosa, que foi o motivo da ruptura da atriz com Bertolucci.
"A idéia de como gravar esta cena aconteceu comigo e Marlon Brando enquanto estávamos tomando café da manhã sentados no carpete do apartamento parisiense e em determinado momento ele começou a passar manteiga em uma baguete, logo nos demos uma olhada de cúmplices. Decidimos não dizer nada para Maria para ter uma cena mais realística", confessou Bertolucci. Ao ser questionado se não seria "imoral nos dias de hoje" se comportar desta forma com seus atores, o diretor respondeu irônico "não ser um homem de hoje".
"Maria queria fazer cinema a qualquer custo, era muito nova, tinha apenas vinte anos na época do filme. Em toda a sua vida ficou muito rancorosa em relação a mim e a este filme. Rancorosa porque se sentiu usada. Infelizmente é o que normalmente acontece quando se está dentro de uma aventura que não se compreende. Ela tinha uma inteligência instintiva. Não tinha meios para filtrar aquilo que lhe aconteceu", disse ele.
"Talvez tenha sido culpado por Maria Schneider, mas não poderão me condenar por isso", concluiu o cineasta.
Apesar do sucesso mundial que a atriz conseguiu com o filme, Schneider declarou que o filme fora o único arrependimento de sua vida e várias vezes disse que a famosa cena de sexo anal não estava no roteiro e se pudesse não a teria gravado porque a considerou uma manipulação, uma violência e uma humilhação.
A atriz sofreu problemas psicológicos e anos de dependência química, e nunca mais gravou cenas de nudez em toda a sua carreira. Apenas após sua morte, em 2011, com 58 anos, depois de uma grave doença, Bertolucci admitiu, pela primeira vez, que gostaria de ter "lhe pedido desculpas".(Agência ANSA - 17/09/2013)




Perdidos na Noite, (1969)




TRILHA ORIGINAL
Midnight Cowboy (John Barry)
(Famous Harmonica:Toots Thielemans)


Perdidos na Noite (Midnight Cowboy) - 1969

Filme de 1969, do diretor inglês John Schlessinger, “Perdidos na Noite” mudou a história do cinema para sempre. Na época havia certa luta entre a Velha Hollywood – dos filmes de John Wayne, Bob Hope, Frank Sinatra, com seus roteiros de ‘heróis americanos’- e a Nova Hollywood – que queria mostrar a América como ela era, dura, fria, egoísta, com seus roteiros modernos e desafiadores. John Schlessinger, inglês culto, queria fazer o filme, baseado em romance que lera recentemente, mas não havia clima para se fazer um filme desses. Um estúdio, mais eclético e aberto, que poderia topar seria a United Artists, onde havia um diretor de produção jovem, mas considerado de grande visão. Pudera, ele havia adquirido os direitos dos filmes dos Beatles, da série A Pantera Cor de Rosa e da série James Bond... Chamava-se David Picker e era, ainda por cima, sobrinho de um dos donos do estúdio a quem dera fortunas da renda desses filmes citados. Picker admirava o diretor por um filme anterior - Darling, A Que Amou Demais, com Julie Christie, que ganhou o Oscar de melhor atriz (um grande filme!)- e acabaram conversando sobre a possibilidade de realizar o projeto difícil na visão de quase todo mundo em Hollywood.

Jon Voight e Dustin Hoffman

Detalhes: Hellman, o principal produtor, havia se separado da mulher e perdera o direito de visitar os filhos; Schlessinger fez um filme (Longe Desse Insensato Mundo, excelente!) que, na época, foi recebido como um fracasso; e Waldo Salt, o roteirista final, havia se afastado da família, vítima do Comitê de Investigação de Atividades Antiamericanas, proibido de trabalhar por mais de dez anos, se trancara num hotel onde se afogava na vodka todos os dias... E Midnight Cowboy foi o resultado do esforço desses três seres humanos em absoluta decadência momentânea. Pode-se dizer que uma “tempestade perfeita” gerou o filme.


Mesmo com o “toque de Midas” de David Picker, e a garantia que o filme seria de grande impacto, a produção conseguiu apenas um milhão de dólares, que era pouco dinheiro mesmo há 40 anos. Mas eles toparam, era melhor do que nada. Um dos produtores que se associaram falou de um jovem ator que fazia uma peça off-off-off-Broadway e chamava-se Dustin Hoffman. Apresentado ao projeto, o ator aceitou no ato. Mas o projeto se arrastava por falta de dinheiro. Não convencido a fazer o texto inteiro do livro, o diretor e o roteirista procuraram uma forma de fazer com que o passado do jovem texano fosse mostrado (ele explica muita coisa no filme, não poderia ser simplesmente ignorado e nem cortado fora). Então inventaram algo que chamaram de ‘flash present’, ou seja, o passado viria à memória do cowboy, assim permitindo que o filme fluísse.

Dustin Hoffman e Jon Voight

Com a demora, Dustin Hoffman recebeu o convite para fazer outro filme: A Primeira Noite de Um Homem, de Mike Nichols, que foi um tremendo sucesso. Então, aquele ator off-off-off Broadway não era mais um qualquer, mas sim uma estrela de grandeza ascendente e o seu salário não custaria o que haviam tratado antes... Mas Hoffman, que queria fazer teatro e só teatro, mas condescendia em fazer cinema para ganhar bom dinheiro e ficar conhecido, manteve a sua palavra e não alterou o seu cachê. Ele mesmo conta que ele, Gene Hackman, Robert Duvall, Marlon Brando e outros eram “totalmente contra o sucesso”, rs.

Mas o diretor, ao ver Hoffman como o engomadinho mauricinho de A Primeira Noite de Um Homem, não queria mais o ator para fazer o vagabundo sujo e doente. Então Hoffman o convidou para um café, no final da tarde, num bar que era frequentado pelas pessoas mais esquisitas de New York. Dustin Hoffman ficou dois dias sem fazer a barba e tomar banho, arrumou uma capa suja, calçou sapatos sujos e velhos, penteou os cabelos sebosos para trás e apareceu na frente de Schlessinger... O diretor disse “já entendi, o personagem é seu.” Hoffman prometeu perder peso e ficar sem tomar sol por muitas semanas.

Jon Voight
Um filme que conta a história de um garoto de programa, de sexualidade ambígua, que sai do Texas para New York a fim de viver à custa das mulheres nova-iorquinas mal amadas, carentes de atenção e de sexo, e que se junta a um vagabundo doente, morador de rua, que vive de pequenos golpes, com uma leve sugestão de amor entre os dois, mostrando orgias da alta roda, do mundo artístico. Não poderia ser aceito facilmente...

Para o papel do cowboy texano a diretora de elenco (profissão que engatinhava na época) sugeriu um jovem bonito, alto, louro e bom ator, que vira numa premiada montagem off-Broadway. Tratava-se do jovem Jon Voight (pai de Angelina Jolie). Quando se reuniram pela primeira vez, Dustin Hoffman morreu de inveja do garotão bonitão, e Jon Voight morreu de inveja da carreira já sólida do jovem Hoffman.  Mas a escolha do diretor para o papel do texano foi Michael Sarrazin, que resolveu endurecer e pediu o triplo do dinheiro oferecido... Desligaram o telefone na cara dele e se viraram para Jon Voight.


O diretor de fotografia precisava ser alguém livre dos vícios e manias dos profissionais de então. Certa noite Roman Polanski ligou para Schlessinger e sugeriu um amigo, diretor de fotografia dos seus primeiros filmes, que viera fugido da Polônia para os EUA. Adam Hollender, o amigo de Polanski, imprimiu ao filme um caráter quase experimental. É de se notar o seu trabalho filmando as multidões nas ruas de NY. Não parece um filme, mas sim um documentário. O diretor, o roteirista e o produtor estavam trabalhando há três anos no filme, e ainda não haviam filmado uma única tomada. Pediram aumento do orçamento de um milhão para três milhões, mas o estúdio só autorizou dois milhões e trezentos mil, o que foi uma festa para eles. Devido a demora, eles passaram a incorporar no filme algumas cenas estranhas e malucas que viam todos os dias nas ruas de NY.

 
Houve quem reclamasse da cena onde aparece um vagabundo bêbado deitado na frente da joalheria Thiffany’s, mas eles haviam filmado a cena real, depois incluída no filme, pois sabiam que iriam achar que era alguma crítica de costumes contra a joalheria. A cena da mulher drogada que passa um rato pelo rosto do filho foi presenciada pelo diretor, roteirista e produtor, em um café, em plena madrugada.



CURIOSIDADES
 - A namoradinha do texano, que aparece nas suas lembranças, é Jennifer Salt, a filha do roteirista que, no futuro, virou produtora de séries como Nip/Tuck e outras;

 - Schlessinger pedia que os atores caminhassem por passarelas e pontes e os filmava de longe. Os dois não entendiam nada do que estava acontecendo e nem a razão dessas caminhadas. Ambos, preocupados, começaram a criar partes dos seus personagens. Dustin colocou pedras no sapato para mancar sempre do mesmo jeito, para não haver diferença entre um mancar e outro;

  - Dustin precisava tossir muito por causa da doença do seu personagem, mas temendo fazer algo errado, começou a tossir sem parar e terminou por vomitar nas botas do cowboy, sem querer. A cena foi mantida no filme. Note a surpresa do personagem do cowboy quando diz “-Você precisava fazer isto!?” Essa fala é de Jon Voight, pê da vida com Dustin;
 
 - O terno branco que Dustin usa foi encontrado numa lata de lixo perto do metrô;
 
 - Robert Balaban, então um estudante de cinema (era sobrinho do ex-presidente da Paramount) faz a cena do banheiro do cinema.

 - A cena na qual Dustin Hoffman dá socos no capô de um táxi é real. Como a produção não tinha dinheiro para fechar uma rua de Manhattan, o diretor colocou a câmera dentro de um furgão, escondida, e pedia que os dois viessem caminhando dentro do tempo certo para chegarem à esquina quando o sinal para pedestres abre. Fizeram a cena dezena de vezes. Os atores já estavam irritados, cansados, quando, por milagre, conseguem chegar a tempo –ou quase a tempo- e lá vem o táxi que quase atropela os dois. A reação de Dustin Hoffman foi uma explosão de irritação;

 - A cena da festa-bacanal é real. Foi organizada por Andy Wharol que convidou diversos amigos e amigas para participarem. Lá estão ícones da contracultura da época como Viva, Ultra Violet, International Velvet, Taylor Mead e outros. O próprio Wharol não pôde ir pois havia sido baleado uma semana antes. As drogas são reais e o clima é muito louco;

  - Brenda Vaccaro, a grã fina que transa com o cowboy, não queria ficar nua na cena de sexo (vejam só como as coisas eram diferentes...). Uma amiga emprestou um casaco de pele de raposa e foi o que ela usou, sem nada por baixo;

  - O diretor, na fase final da montagem, entrou em crise e dizia que havia filmado um monte de merda e que ninguém, em seu juízo normal, pagaria para ver aquela porcaria;

 - A projeção feita para a diretoria do estúdio terminou com um silêncio total. Um dos donos do estúdio bateu no ombro do diretor e disse “é uma obra-prima!”;

 - Dustin Hoffman usou pedras no seu sapato durante toda filmagem para que seu personagem (que é manco) ficasse convincente em todas as cenas.

  - A participação de Sylvia Miles é a mais curta jamais indicada ao Oscar. Ela aparece em cena por apenas 6 minutos.

 - O filme tem dois temas que viraram sucesso imediato Midnight Cowboy e Everibody’s Talking, o solo de gaita é de Toots Thielemans;
  
 - A revista Variety escreveu que o filme era “constantemente sórdido”, um famoso crítico de cinema escreveu que o filme “era um desfilar de gente gritando, rastejando e vomitando...”;
 
 - Na estreia do filme foram dez minutos de aplausos da plateia ao final;

 - Um amigo de Jon Voight ligou para ele e disse que era uma loucura de gente querendo assistir ao filme. As filas davam voltas e voltas, se estendendo até 14 quarteirões de distância do cinema. O filme arrecadou o equivalente a 200 milhões de dólares no dinheiro de hoje (custou pouco mais que 2.300 milhões);
 
 - Na noite do Oscar, sem acreditar em qualquer resultado favorável, só o produtor compareceu. O filme ganhou os Oscars de melhor diretor, melhor roteiro adaptado e melhor filme. Jon Voight estava presente para apresentar o prêmio para o melhor roteiro em companhia de Fred Astaire. No escuro, no fundo do palco, enquanto esperavam ser chamados, Fred Astaire cumprimentou Jon Voight e disse “- Parabéns, foi um belo trabalho!” E Jon Voight entendeu que eram duas gerações de artistas que ali estavam, com admiração e um enorme respeito mútuo.
CRÉDITO DO TEXTO: Marco Antonio R. de Castro/viagemdecinema.blogspot




CARTAZES DO FILME 





Everybodys Talking/Nilsson (Fred Neil)
(No filme aparecem, como temas as músicas (maioria) de John Berry e também
 Nilsson com essa música, outro clássico da produção)



Perdidos na Noite (Midnight Cowboy) - 1969

SINOPSE
Joe Buck (Voight), um vaqueiro bonitão do Texas, está convenciso de que é a salvação das mulheres solitárias de Nova Iorque, e vai tentar a sorte na Big Apple. O problema é que sua abastada cliente acaba não aparecendo - e a única fortuna que encontra é a amizade de Ratso Rizzo (Hoffman), um homem cheio de grandes sonhos, desleixado e que vive à custa dos outros. Excluídos da sociedade, os dois acabam tendo uma ligação pouco promissora, que transcende seus sonhos inviáveis e seus planos de enriquecimento rápido, e transforma Perdidos Na Noite num filme único, que proporciona a mesma emoção ao público daquela causada no seu lançamento. (Premiere Magazine).


ELENCO E FICHA TÉCNICA
Dustin Hoffman, Jon Voight, Sylvia Miles, 
John McGiver, Brenda Vaccaro, Barnard Hughes, 
Ruth White, Jennifer Salt e  Gary Owes.
Diretor: John Schlesinger.
Roteiro: Waldo Salt, baseado em livro
 de James Leo Herlihy.
Produção: Jerome Hellman
País e Ano: EUA, 1969
Música: John Barry e Outros.

4 de novembro de 2014

Papillon, (1973)





TRILHA SONORA
 Tema para PAPILLON (Jerry Goldsmith)

Em relação à técnica, é lícito citar a trilha sonora que ganhou bastante destaque naquele tempo – e prêmios, inclusive. O tema do longa foi indicado ao Oscar e é obra de Jerry Goldsmith, responsável por boa parte da trilha sonora de Jornada nas Estrelas e de “Allan Quatermain e a Cidade de Ouro Perdido”. É uma trilha leve e dramática que caiu no gosto do público!




Papillon - 1973

Um dos filmes mais adoráveis que já tive o prazer de assistir. Papillon é um filme comovente, ao menos aos meus olhos, porque, em primeiro lugar, traz à tela um ator que estimo muito, Steve McQueen, que tinha o fino talento de personificar como ninguém sujeitos obcecados. Seja um piloto, como em “24 Horas de Le Mans”, seja um “tira” linha dura como em “Bullit”, ou como um criminoso deportado para uma ilha penal esquecida na América Central, cuja única e inamovível ideia é a fuga.

 Dustin Hoffman

Considerando que “Papillon” tem já quase 40 anos é improvável que você tenha tropeçado nele na Sessão da Tarde. Por outro lado, com bastante probabilidade, deve ter visto “Um Sonho de Liberdade”, com Tim Robbins e Morgam Freeman. É quase a mesma coisa: um sujeito preso, uma amizade que floresce na cadeia e a luta diária desse sujeito para não enlouquecer e fugir.

Mas as semelhanças param por aí. Papillon é um assassino condenado a prisão perpétua na inescapável “Ilha do Diabo”, uma colônia penal no litoral da Guiana Francesa. A história se passa nos anos 1930 e o registro consta do livro do verdadeiro Papillon, Henri Charrière.

Steve McQueen veste o personagem com grande simplicidade. Foram praticamente feitos um para o outro. A cada tentativa de fuga que acaba em malogro, Papillon tenta novamente, e novamente, e novamente. Se submete a uma solitária onde a luz não entra, em um cárcere desumano que dura dois anos. Mas sai de lá sempre com a ideia fixa, a fuga, a liberdade. O corpo vai debilitando, a idade acumulando e o tempo passando, mas Papillon é como uma força da natureza: a liberdade para ele é um imã e ele não consegue resistir. Papillon fora enviado à prisão com uma sentença de 20 anos que suas numerosas tentativas de fuga aumentaram muito.

Dustin Hoffman e Steve McQueen

É impressionante a atuação de Steve McQueen neste que é um dos grandes trabalhos de sua carreira. Sua postura ao personificar cada estágio do crescimento e vida da personagem não destoa em um só instante da noção de claustro que o filme exige do espectador. O filme, para alguns, é um pouco longo demais, mas mesmo a duração da fita que pode ser considerada excessiva, deve ser relevada em virtude do custo/benefício do filme, de sua história e de suas personagens.

“Papillon” não seria o filme que é sem a presença de um jovem Dustin Hoffman. O ator vive um falsário muito habilidoso, que frágil diante das inclemências da “Ilha do Diabo” e para o convívio com os demais presos, precisa de proteção física. Ele a compra na medida em que é capaz, através de suas capacidades, de falsificar tudo. O produto de seus crimes continua com sua esposa que, mediante sua autorização, administra o dinheiro e paga aos serviços de seus aliados.

E o mais importante deles é Papillon. A relação dos dois começa na toada comercial de contrato de serviços, mas logo extrapola, tornando-se em uma amizade para toda a vida. “Papillon” apresenta uma jornada maiúscula de vida, aventura, persistência e adaptabilidade a uma vida sob pressão e em situações extremas. Todos estes ingredientes bem dosados e ministrados no momento certo, fazem deste filme um clássico irresistível a qualquer audiência.

Steve McQueen

Em relação à técnica, é lícito citar a trilha sonora que ganhou bastante destaque naquele tempo – e prêmios, inclusive. O tema do longa foi indicado ao Oscar e é obra de Jerry Goldsmith, responsável por boa parte da trilha sonora de Jornada nas Estrelas e de “Allan Quatermain e a Cidade de Ouro Perdido”. É uma trilha leve e dramática que caiu no gosto do público e que você pode ouvir aqui.

Em termos de direção, a responsabilidade coube a Frankin J. Shaffner, que assina também filmes importantes como “Patton: Rebelde ou Herói?”, “Meninos do Brasil” e “Planeta dos Macacos”, o original, dos anos 1960 e com Charlton Heston no elenco. Shaffner conduziu um filme com roteiro promissor e elenco espetacular a um bom termo, deu os contornos tão intensos da trajetória de Papillon de uma forma equilibrada e que faz do filme um clássico indisputável do cinema.

Dustin Hoffman e Steve McQueen em Papillon, 1973

“Papillon” é um filme de jornada. Uma história única, de uma prisão monstruosamente desumana e que realmente existiu. Conta a obceção de um homem pela ideia de liberdade e mostra que, a cada debacle, a cada passo em falso, a cada queda, ele volta e faz tudo de novo. Papillon resgata aqueles tipos de valores e qualidades que todas as pessoas, se não imaginam ter, adorariam poder ostentar: determinação, capacidade, vontade, força e persistência.

E ao evocar essas qualidades, de maneira convincente e bastante eficiente, o filme ressalta o que há de humano em nós, nos contrapondo com nossas incapacidades, defeitos e fraquezas. A história toda de “Papillon” é um convite às qualidades mencionadas no parágrafo anterior, mas é também um lembrete de que  nem todos as temos em doses industriais como o francês fujão que, e isso todos em maior ou menos grau compartilham com a personagem, viveu uma vida de obceção pela ideia e pelo usofruto da liberdade.
CRÉDITO DO TEXTO: Grandes filmes que eu vi



CARTAZES DO FILME














Papillon - 1973

SINOPSE
Um dos maiores clássicos do cinema de todos os tempos. A impressionante determinação de um homem em se libertar das grilhetas que o mantém preso por um crime que sempre declarou ser inocente. Steve McQueen é Henri Charriére, conhecido como Papillon. Acusado e condenado por homicídio tentou por várias vezes a sua sorte em arriscadas fugas, até finalmente conseguir. Dustin Hoffman é Dega, o seu parceiro de prisão. Um hino à coragem, determinação e disciplina e principalmente ao que um espírito verdadeiramente livre e indestrutível pode conseguir face a desafios terríveis.


ELENCO E FICHA TÉCNICA
Elenco: Steve McQueen, Dustin Hoffman, Victor Jory,  
Don Gordon e Anthony Zerbe
Genero: Drama, Biografia
Diretor: Franklin J. Schaffner
Roteiro: Dalton Trumbo e Lorenzo Semple Jr 
em adaptação ao livro de Henri Charrière
Música: Jerry Goldsmith
País e Ano: Estados Unidos - 1973




PRÊMIOS
 Uma indicação ao Oscar: melhor música original, e uma indicação ao Globo de Ouro para Steve McQueen, como melhor ator.

CURIOSIDADES
 Papillon existiu de verdade. Há relatos que dão conta de que teria de fato escapado e se estabelecido como próspero fazendeiro em algum lugar do norte do Brasil.


3 de novembro de 2014

Assim Caminha a Humanidade, (1956)





Trilha Original
Giant - (Dimitri Tiomkin) 


Assim Caminha a Humanidade (Giant ) - 1956

O Criador estava em alfa (ou haveria de ter andado fumando coisas e “viajado”) lá pelo sexto dia, momento em que sublimou a espécie. Produziu linhas e tonalidades de formas a consagrar sua mania de perfeição, e simplesmente descartou a fórmula.  Por certo que naquelas horas de fastio e soberba, consolidada a magnífica obra, garganteou seu bordão à eternidade sobre imagem e semelhança.

Da obra minimizada restaram céu e mar, em dias de incompreensível tom de azul encravados em lousa de alabastro, a fomentar e inquietar sonhos juvenis. Serenos, sombreados de cílios foram ter comigo, certa vez, durante três horas e meia. Flutuei à deriva sobre aquelas águas translúcidas, que simploriamente os mortais chamavam de olhos violeta. A época e a idade propiciavam navegar ao limite (que limite?) da fantasia e produzir roteiros imundos no sono adolescente.

Sonhava com ela, e eu pergunto: quem não sonhava com Elizabeth Taylor? Ok. Tem gente que sonhava com o Rock Hudson, como a própria Liz, que soube depois e para sua decepção, tratar-se de alguém da “irmandade”.Pobre Rock, que anjos varões o tenham (*)

Giant é o titulo original do longa metragem Assim Caminha a Humanidade. Sem redundância, gigantesca produção dos anos cinquenta estrelada pelos dois bonitões acima, e a terceira e última aparição em tela do meteórico James Dean, que nem chegou a ver o filme concluído. Morreu antes. (Sobre este, teria dito o feioso Humphrey Bogart, dolorido com o sucesso post morten do colega: ‘’a melhor coisa que aconteceu a ele foi ter morrido cedo’’).

A história gira em torno de uma família texana tradicional comandada pelo Bick (Hudson), de um humilde empregado Jett (Dean), e uma esposa Leslie (Taylor) que foi ‘’achada’’ pelo futuro marido após uma viagem de negócios. Foi comprar cavalos, imaginem. A história é fantástica, recheada de sentimentos adversos: amor, ódio, preconceitos, com fotografia, figurino e música maravilhosos, tendo recebido dez indicações ao Oscar (levou um, secundário). Jett, além de mim e todos os homens que apreciam cerveja, apaixonou-se pela Leslie, mas não levou, e por isso foi para a porrada com o marido afortunado. O Inconformado Jett, entretanto, enriqueceu quando tratou de subverter a ordem da terra, vigente até então, (terra que estranhamente herdara da invejosa irmã do Bick, morta a coices de cavalo) passando a explorar petróleo.  E em se tornando rico, houve por bem novamente tentar furar os nossos olhos, e tomar na “mão grande” a nossa mulher - minha e do Bick. De novo não levou. Ele, que já “bebia todas”, com o novo fracasso foi domiciliar-se em definitivo na garrafa.

Nesse filme o olhar da Liz estava uma estupidez. Talvez porque o início da produção tenha ocorrido pouco depois dela ter se tornado mãe pela primeira vez e a maternidade tenha conseguido dar ainda mais luminosidade à luz; o céu tenha perdido para sempre as nuvens, e Atlântico e Pacífico tenham se dessalinizado.  E que me perdoe a finada pelas modestíssimas comparações.

Elizabeth Taylor
Elizabeth Taylor é dona de vários suspiros que todos demos. Não era, entretanto, de namorar no banheiro, lugar cativo da senhorita Brigitte Anne-Marie Bardot, além de outras trinta e cinco menos votadas. Liz não deveria ter as pernas da Marlene Dietrich; o corpo da Sophia Loren; certamente não tinha os seios da UschiDigard (Ah, não sabe quem é UschiDigard. Melhor, mais me sobra); E nem era cachorra como a senhorita Margarita Carmen Cansino, que quando se apresentou a nós já fumava muito e se chamava Rita Hayworth; Não era o "mais belo animal do mundo", como disse certa vez da piriguete-retrô Ava Gardner, o poeta Jean Cocteau, aquele animal. Não. Liz era um raio de luz, sequer deveria pertencer a este mundo. E duvido que alguém, além de seus vários maridos tenha contemplado seu corpo. Não deveria ser lá essas coisas, mas isso não importa.

Liz gostava mesmo era de casar e isso fez bastante. “A felicidade está em colecionar amores”, repetia (mas também colecionava brilhantes). Com Richard Burton, no entanto, foi reincidente específica.

Também casei bastante, nenhuma vez com ela. Mas sabe-se lá o que haveria de ter acontecido conosco caso ela frequentasse os bailes da Reitoria. 

(*) Rock Hudson e Liz Taylor tornaram-se muito amigos, depois da descoberta por ela da homossexualidade do galã, que morreu em decorrência de complicações com a Aids, em 1985. A partir de então, a musa mostrou que não basta ser bela nem boa atriz para ser musa. Passou a auxiliar a (American Foundation for AIDS .




CARTAZES DO FILME 

  




Giant (Assim Caminha a Humanidade) - 1956

SINOPSE
Uma grandiosa saga no coração de um dos maiores estados norte-americanos. Assim Caminha a Humanidade conta a história de três gerações de influentes texanos e seus conflitos familiares, amorosos, raciais e as disputas econômicas entre os tradicionais pecuaristas e os novos ricos magnatas do petróleo do Novo Oeste. Com um elenco composto por nomes da grandeza de Elizabeth Taylor, Rock Hudson e Rod Taylor, o filme marca a derradeira atuação de James Dean no cinema - o ator jamais assitiria ao filme concluído, já que faleceu antes de a produção terminar. Indicado a dez prêmios Oscar, vencedor na categoria Melhor Diretor com George Stevens, Assim Caminha a Humanidade, adaptado do romance de Edna Ferber, foi considerado pela revista TIME o mais contundente legado anti-intolerância racial jamais levado à telas, o retrato de uma era.


ELENCO E FICHA TÉCNICA 
Elenco: Carroll Baker, Dennis Hopper,
Elizabeth Taylor,James Dean, Jane Withers,
Mercedes McCambridge, Rock Hudson
Gênero: Drama
Direção: George Stevens
Roteiro: Fred Guiol, Ivan Moffat
Produção: George Stevens, Henry Ginsberg
Fotografia: William Mellor
Trilha Sonora: Dimitri Tiomkin
Origem e Ano: EUA, 1956

2 de novembro de 2014

Johnny Guitar, (1954)





TRILHA ORIGINAL

Johnny Guitar (Peggy Lee)
A trilha sonora é um outro ponto alto desse faroeste, com ênfase para a bela canção-título, composta pelo famoso maestro Victor Young e por Peggy Lee, uma das maiores cantoras americanas dos anos 50, que também a interpreta.


Johnny Guitar - 1954

O Oeste das mulheres!
Não se engane com o título deste longa-metragem de 1954 dirigido por Nicholas Ray, hoje um dos mais cultuados cineastas da Hollywood dos anos 50. O filme não tem como personagem central o pistoleiro-violonista interpretado por Sterling Hayden que chega a um lugarejo esquecido por Deus em que nem mesmo existe ainda uma estação de trem. O centro da narrativa encontra-se em Vienna (a estrela Joan Crawford), ex-namorada de Johnny e agora dona de um misto de saloon e cassino quase entregue às moscas, tendo a esperança de ver os negócios melhorarem com a possível chegada da ferrovia. Para se manter estabelecida na localidade, contudo, ela tem de enfrentar a oposição de Emma Small (Mercedes McCambridge), uma fazendeira manda-chuva cheia de ódio e ressentimento porque o homem que ama, Dancin' Kid (Scott Brady), não retribui seu sentimento e é, em verdade, apaixonado por Vienna. Enquanto esta é admirada e desejada pelos homens da cidade, Emma sente-se a rejeitada e nutre desejos de vingança. Vienna então contrata o antigo amor, Johnny “Guitar” Logan, para ajudá-la a enfrentar os obstáculos que surgirão para continuar com seu empreendimento.

Joan Crawford


Vê-se, já de antemão, que esta é uma obra bastante passional, em que as ações dos personagens são norteadas por amores e ciúmes, uma espécie de western-romance-tragédia singular e talvez nunca repetido na história da Sétima Arte. Não por acaso, era um dos filmes preferidos de François Truffaut e Ray foi um dos cineastas mais amados pelos nomes da Nouvelle Vague. E não impunemente. Afinal, uma das medidas do talento e da genialidade de um artista é a capacidade que tem a sua obra de manter-se atual mesmo depois de décadas de sua confecção. No caso, “Johnny Guitar” não somente se manteve atual como também esteve mesmo à frente do seu tempo, apresentando um modelo de comportamento feminino que só iria se tornar mais comum umas três décadas depois. Tanto Vienna quanto Emma são mulheres fortes e independentes ao redor das quais giram os tipos masculinos da narrativa, os quais parecem estar ali apenas para servi-las. A diferença entre as duas está no bom coração da primeira. Ou seja, o filme não envelheceu absolutamente nada. Pelo contrário, é até mais verossímil hoje do que quando do seu lançamento. Por outro lado, além desse seu lado “feminista”, digamos assim, há um subtexto político anti-Macarthismo presente na trama, mormente por meio do personagem de Turkey (Ben Cooper) que é obrigado à delação diante de uma verdadeira caça às bruxas promovida por Emma e asseclas. Situação similar foi vivida realmente pelo ator Hayden diante do malfadado comitê de atividades anti-americanas que aterrorizava artistas e intelectuais à época.


Mercedes McCambridge

Outro aspecto marcante da película são os seus diálogos (aliás, uma constante nas obras de Ray), que atingem os personagens e os espetadores de maneira bem mais certeira que os tiros dos rifles e revólveres. Várias são as frases antológicas do longa, como a de que “um homem precisa apenas de um bom cigarro e um copo de café” ou “depois do incêndio costumam restar somente as cinzas” (proferida por Vienna ao se reportar ao seu antigo amor por Johnny). Escrito por Philip Yordan baseado no romance de Roy Chanslor - e com a participação não creditada de Ben Maddow, que fazia parte da lista negra do FBI (reforçando a perspectiva de crítica à perseguição dos comunistas) - o roteiro realmente é ímpar e capaz de levar os espectadores a passar horas apenas apreciando o brilhante jogo de palavras (como hoje muitos costumam fazer com os filmes de Quentin Tarantino). É claro que para o texto fluir de maneira eficiente é necessário um elenco competente e é isso que se vê na tela. Nem parece que ocorreram tantos atritos nos bastidores da filmagens, uma vez que Crawford e McCambridge também não se davam bem na vida real e tal circunstância fez com que elas se evitassem ao máximo nas gravações. Pensando bem, talvez seja até por essa antipatia mútua que tenha resultado uma rivalidade tão verossímil na projeção, com as duas atrizes entregando ótimas interpretações.


Scott Brady, Joan Crawford e Sterling Hayden
Outra vertente em que Ray subverte o gênero é na utilização das cores. Normalmente, o Western privilegia as paisagens como foco da fotografia, destacando a imensidão da natureza frente à insignificância dos homens como forma de acentuar ainda mais a coragem e persistência destes (John Ford foi um mestre nesse quesito). Aqui, entretanto, Ray, usando da tecnologia denominada Trucolor (que dava mais destaque ao colorido na captação das imagens), privilegiou as cores dos figurinos, geralmente fortes e contrastantes, os quais, em boa medida, traduzem os sentimentos dos personagens. Memorável a cena em que Emma e seu grupo, todos trajando preto, invadem o saloon como abutres procurando uma presa e encontram Vienna com um vestido inteiramente branco em contraste com a parede rochosa e vermelha ao fundo. Uma cena de acabamento barroco belíssima e memorável. Além disso, Ray privilegia aqui os cenários interiores, com longas sequências se passando em ambientes fechados – logo nos primeiros momentos, inclusive, temos uma bastante extensa (mas jamais cansativa) em que somos apresentados a todos os personagens e tomamos pé das situações, em um verdadeiro show de concisão e clareza de roteiro e edição.

Joan Crawford e Sterling Hayden

Realizado com orçamento limitado pelos estúdios Republic (que iriam à falência 4 anos depois), “Johnny Guitar” revela-se um dos faroestes mais atípicos já filmados, tanto na forma como no conteúdo, estando bastante à frente do seu tempo, como já salientado, o que inevitavelmente já o coloca entre os melhores representantes do gênero. Seu resultado é tão belo quanto sua canção tema, composta por Victor Young e Peggy Lee (esta também intérprete), música que põe a cereja no bolo desta obra impecável do fantástico Nicholas Ray, um diretor que hoje costuma ser muito lembrado por seu trabalho em“Juventude Transviada” (Rebel Without a Cause, 1955). Eu, particularmente, considero este western não tão famoso até superior ao drama protagonizado pelo mítico James Dean, longa que hoje me parece um pouco datado. “Johnny Guitar”, inversamente, com suas mulheres fortes e homens apaixonados, parece ter sido feito ontem.
               CRÉDITO DO TEXTO: Cinema com Pimenta




CARTAZES DO FILME
CRÉDITO







Johnny Guitar - 1954

Sinopse
Vienna é a dona do saloon, constantemente ameaçada pelos rancheiros que querem sua propriedade por causa da passagem da ferrovia. O minerador Dancin'Kid é acusado de matar num assalto à diligência um dos rancheiros, irmão de Emma. Vienna chama seu ex-amante e pistoleiro Johnny Guitar, para ajudá-la a manter os rancheiros afastados. Emma, que ama Dancin'Kid, tem ciúmes dele com Vienna e quer enforcá-la, acusando-a de participar do crime que matou seu irmão. As duas se confrontam numa última luta inusitada e mortal.



Elenco e Ficha Técnica:
Elenco: Joan Crawford, Sterling Hayden, 
Mercedes McCambridge, Scott Brady, 
Ernest Borgnine, Ward Bond, 
John Carradine, 
Direção: Nicholas Ray
Musica: Peggy Lee and Victor Young
Produtor: Herbert J Yates
Roteiro: Roy Chanslor (romance) 
Philip Yordan (roteiro) 
Ben Maddow, Nicholas Ray
Gênero: Faroeste
Origem e Ano: EUA - 1970






Anônimo Veneziano, (1970)





TRILHA ORIGINAL
Anônimo Veneziano/Stelvio Cipriani

A magistral trilha sonora de Stelvio Cipriani é, sem dúvida, um dos pontos mais altos deste melodrama italiano. A partir do “Adágio do Concerto para Oboé e Cordas”, de Benedetto Marcello, compositor italiano do século XVIII, Cipriani criou uma romântica melodia para o filme.



ANÔNIMO VENEZIANO - 1970

É. A beleza é o anteparo da Morte e da Loucura. Ela nos poupa a entrada num mundo onde ou desconhecemos a fala – onde a comunicação não é possível, ou é muito difícil o entendimento.
Anônimo Veneziano – baseado no romance homônimo do escritor Giuseppe Beto, tem roteiro magistralmente desenvolvido pelo diretor Enrico Salerno.
A beleza feminina de Veneza nos dá a mão para atravessarmos esta história de perda. Morte da vida, morte do amor.
A decadência de Veneza – hoje em dia já bem mais restaurada – nos ensina que o tempo destrói porém a memória se mantém intacta – lembranças, sítios arqueológicos e sem data definida que incomodam o presente de forma invasiva e surpreendente.
Um casal nunca é desfeito quando as lembranças ainda se apresentam despudoradamente.
Sempre formamos par com alguém para rodopiarmos na dança da Vida.

Tony Musante e Florinda Bolkan

Um casal se desfaz. Não importa de quem foi o corte – nesse caso não gosto de usar o termo ‘culpa’. Têm um filho dessa união da juventude, vivida com amor e desejo. Agora, separados, vivem em cidades quase vizinhas; ela em outra união e ele ainda só.

O reencontro ocorre por um chamado desse ex-marido para (pressupomos) um derradeiro encontro. Ele está com pouco tempo de vida e esse pouco que lhe resta será extremamente penoso – um tumor inoperável no cérebro. Tragédia na medida certa!

Florinda Bolkan

A paisagem da Veneza decadente é a metáfora…ora bolas, mas que metáfora… é o belo, sedutor e apaixonado amor vivido num passado da gloriosa juventude – como todas as juventudes…

E o filme é um excelente parcour por Veneza enquanto rememoram a paixão que, numa noite, volta insistente e atrevida a unir o casal. A cama – leito de carícias ou arena de indiferenças – naquele último e lamentoso encontro, passou a ser um leito de morte: da vida e do amor. Nada mais resta a fazer senão um doloroso adeus.
Mas, Ó vós, homens de fé apoucada, o filme é lindo e ao final temos vontade de sair amando não importa quem. Porque si l’important c’est la rose, o importante é amar!
 Tony Musante

A música é enlouquecedoramente romântica. Do Concerto para oboé de Marcello, compositor italiano do século XVIII, peça belíssima e rara de ser encontrada em CD, o maestro Stelvio Cipriani recriou terna melodia para a música incidental do filme.

Florinda Bolkan, pasmem, trabalha direitinho e até ganhou um Donatello! Superior desempenho vai para seu parceiro Tony Musante, ítalo-americano que sumiu no tempo e no espaço mas jamais da minha memória. Dizem que trabalha em seriados. Pecatto!
Enrico Maria Salerno  é o personagem Zenone do “Exército de Brancaleone”; sua voz tão insinuante e carismática é a dublagem de Jesus Cristo no “Evangelho Segundo São Mateus”, de Pasolini.

Anônimo Veneziano. Non dimenticare mai!
Vale a pena uma ida à locadora de sua preferência. E se apaixonem, caso tenham tempo.
 CRÉDITO DO TEXTO: Edith Sarmento Dutra. Blog: Bloguices-ect.





Versão da Trilha com Cenas do Filme
Anonimo Veneziano - Fred Bongusto (Stelvio Cipriani)




CARTAZES DO FILME 






ANÔNIMO VENEZIANO - 1970

SINOPSE
Enrico (Tony Musante), um músico de renome, está muito doente e chama sua ex-mulher, Valeria (Florinda Bolkan), para visitá-lo em Veneza. Ao som da belíssima trilha sonora de Stelvio Cipriani, eles passeiam pelas ruas da cidade e conversam sobre o antigo relacionamento, o filho em comum, o amor e a vida.
Baseado no romance homônimo do escritor Giuseppe Beto, “Anônimo Veneziano” tem roteiro magistralmente desenvolvido pelo diretor Enrico Maria Salerno, com participação do escritor. Totalmente rodado em Veneza, talvez os roteiristas tenham querido fazer um paralelo entre uma cidade decadente e a vida de um homem condenado à morte por conta de uma terrível doença no cérebro. Para tanto, a fotografia de Marcello Gatti evita capturar locais nobres e vistos por milhões de turistas que visitam a cidade todo ano como, por exemplo, as Piazza e Basilica di San Marco, os Palácios, suas Pontes, etc



ELENCO E FICHA TÉCNICA 
Elenco: Tony Musante, Florinda Bolkan
Toti Dal Monte, Sandro Grinfan
Direção: Enrico Maria Salermo 
Roteiro: Enrico Maria Salermo e Giuseppe Berto 
Música Original: Stelvio Cipriani
Fotografia: Marcello Gatti
Produção: Turi Vasile