21 de novembro de 2014

Audrey Hepburn: Tributo a uma Deusa





TRILHA ORIGINAL
Moon River - Audrey Hepburn (Henry Mancini)
Breakfast at Tiffany's (1961)



AUDREY HEPBURN: TRIBUTO A UMA DEUSA
(Texto baseado em "Bonequinha de Luxo" (Breakfast at Tiffany's)  1961)

Todos anseiam em ficar ou manterem-se ricos. É um desejo justo, e caso os meios utilizados estejam dentro de parâmetros socialmente aceitos e legais, tanto melhor.

Com Holly não era diferente. Sonhava com uma vida confortável: peles, jóias... Iguais as que não cansava de namorar na vitrine da Tiffany’s. Mas Holly não olhava somente a vitrine. Reparava atentamente em quem entrava e saia, principalmente homens, afinal, era a matéria bruta em que utilizava suas ferramentas e lapidava o status que buscava.


Audrey Hepburn (Breakfast at Tiffany's, 1961)

Na falta de outras valências competitivas para o mercado, Holly resolveu usar o que Deus lhe dera em abundância: a beleza, e assim se foi à luta catando novos horizontes, operando a profissão feminina mais antiga do mundo: a difícil vida fácil de ganhar a vida deitada.

Holly era uma prostituta, mas se no seu lugar estivesse uma Eckberg, Brigitte ou Marilyn seria moleza. Haveria de ser “tiro dado e o bugio deitado” ou “a cada enxadada uma minhoca”, por ser mais pertinente.  Mas Holly era uma Audrey; um delicadíssimo biscuit, quando muito parecia ser uma graciosa gueixa cosmopolita, com jeitinho de aluna interna do colégio das Irmãs, recém chegada do Plano Alto.

No filme Breakfast at Tiffany (o título, muito mais adequado, chegou até nós como Bonequinha de Luxo), Audrey Hepburn adota uma visão celestial, sublimada pelos Givenchy feitos com exclusividade para ela. A trilha “Moon River”, composta por Henry Mancini e rabiscos de Johnny Mercer, que leva o Oscar de melhor canção original, também foi feita especialmente para Audrey, que numa cena antológica do filme, ela que não cantava nada, canta para a posteridade sentada na janela, arranhando um violão. É um momento épico, que me ocupava as tardes e me tirava noites de sono. (“Aquilo” era namorada para casar e não ter filhos para não ter jamais de dividi-la).

No filme "Sabrina", (1954)
Audrey era uma atriz apaixonante, e em Bonequinha de luxo potencializou-se de luz pela maternidade recente. Havia se tornado mãe três meses antes do início das filmagens. Fez par com  George Peppard, na trama, ocupando o papel do frustrado escritor e bem sucedido gigolô Paul Varjak. Aliás, este rapaz entra na história apenas para embatucar os sonhos de Holly, cujos objetivos eram: fisgar um homem rico e depois tornar-se atriz.  Mas enfim, a mocinha (ou seria bandida?) acabou descobrindo que “dentro de si também morava um coração”.

Antes de Audrey, a atriz desejada para o papel foi Marilyn Monroe, que recusou porque a personagem era uma prostituta, imaginem. Depois convidaram a outra platinada e linda Kim Novak, que pelas mesmas razões da Marilyn também recusou o papel. Por fim, Audrey, que não tinha culpa no cartório aceitou, imortalizando a personagem. 

Audrey Hepburn

No início de uma época de grandes transformações nos costumes (1961, ano do lançamento do filme), a Holly, da Audrey, estabeleceu um marco de estilo, charme e elegância, virtudes válidas em qualquer situação. Como a de sua fala na cena final, ao ler o bilhete em que leva um “pé” do noivo, que desmarca o casamento: "Uma moça não pode ler esse tipo de coisa sem seu batom”.  Dizem que o tal noivo seria brasileiro, mas eu não me lembro deste fato, portanto não fui eu.

Acho que vi Bonequinha de luxo pela primeira vez quando tinha treze anos, mais espinhas na cara do que vergonha e pilhas de sonhos inviáveis na cabeça. Tenho costume de rever clássicos, mas este há muito não revejo, porque no momento ando perdendo o sono com a senhorita Maria Violante Placido. (Ah, também não sabe quem é? Melhor).

Pensei na Audrey porque dia desses um dos seus vestidinhos Givenchy foi arrematado pela bagatela de U$1,7 milhão! E por que quero apostar o meu sonho mais caro como o lance vencedor não foi oferecido por alguém do sexo feminino.  Por certo alguém mais viúvo do que eu, e digamos que com uma renda a prova de absurdos.

Que lhe dê como mortalha uma pinacoteca à altura do seu luxo, e que não lhe ocorra jamais cair em tentação de profanar um dos templos do charme da época de ouro do cinema, vestindo-o em desfile particular para algum “bofe”.

Muito mais do que uma bonequinha: Pura Classe 
e Elegância, o estilo  Audrey Hepburn.

Audrey Kathleen Ruston não foi somente o rosto incrível das telas, muito menos a bonequinha frágil que às vezes parecia ser. Foi uma grande mulher. Quando menina, estudava balé na Inglaterra até iniciar a Segunda Guerra. Com medo dos bombardeios, a família mudou-se para a Holanda, que era neutra, mas o velho Adolf não deixaria por menos e invadiu também aquele país, levando os horrores e as privações temidas.   Mais tarde, Audrey, que chegou a alimentar-se de folhas de tulipa para sobreviver, envolveu-se com a Resistência. Participava de espetáculos clandestinos de balé para arrecadar fundos e levar mensagens secretas em suas sapatilhas. Em função dos traumas, anos depois, recusaria o papel de protagonista no filme sobre AnneFrank.

Poliglota (falava fluentemente francês, italiano, inglês, neerlandês e espanhol) a partir de 1987 foi ser Embaixatriz da UNICEF em gratidão pelo auxilio que recebeu nos tempos da guerra.

 Minha querida, delicada, inesquecível e singular estrela mudou de constelação em 20 de janeiro de 93, com apenas 64 anos, deixando um vácuo chamado Singularidade, como ensina a Física, que é o coração do buraco negro.  Lá onde o tempo para e o espaço deixa de existir. Entrou em colapso gravitacional, deformando o espaço-tempo hollywoodiano, partindo cedo demais para o lugar conhecido como ponto de não-retorno.

  “Para ter lábios atraentes, diga palavras doces; para ter olhos belos, procure ver o lado bom das pessoas; para ter um corpo esguio, divida sua comida com os famintos; para ter cabelos bonitos, deixe uma criança passar seus dedos por eles pelo menos uma vez por dia; para ter boa postura, caminhe com a certeza de que nunca andará sozinho. Pessoas, muito mais que coisas, devem ser restauradas, revividas, resgatadas e redimidas. Lembre-se que, se alguma vez precisar de uma mão amiga, você a encontrará no final do seu braço. Ao ficarmos mais velhos, descobrimos porque temos duas mãos, uma para ajudar a nós mesmos, a outra para ajudar o próximo. A beleza de uma mulher não."





CARTAZES DO FILME 




AUDREY HEPBURN - FILMOGRAFIA
1948 - Dutch in Seven Lessons (documentário) 
1951 - Nous Irons à Monte Carlo 
1951 - Laughter in Paradise 
1951 - One Wild Oat 
1951 - O Mistério da Torre
1951 - Young Wives' Tale 
1952 - The Secret People 
1952 - Monte Carlo Baby 
1953 - A Princesa e o Plebeu 
1954 - Sabrina 
1956 - Guerra e Paz 
1957 - Cinderela em Paris 
1957 - Amor na Tarde 
1959 - A Flor Que Não Morreu 
1959 - Uma Cruz À Beira do Abismo 
1960 - O Passado Não Perdoa 
1961 - Bonequinha de Luxo 
1961 - Infâmia 
1963 - Charada 
1964 - Quando Paris Alucina 
1964 - Minha Bela Dama 
1966 - Como Roubar Um Milhão de Dólares 
1967 - Um Caminho Para Dois 
1967 - Um Clarão Nas Trevas no Brasil 
1976 - Robin e Marian 
1979 - A Herdeira 
1981 - Muito Riso e Muita Alegria 
1987 - Amor entre Ladrões 
1989 - Além da Eternidade


PRÊMIOS
Oscar
1993 - Prêmio Humanitário Jean Hersholt (homenagem póstuma)
1954 - Melhor Atriz (principal) por A princesa e o plebeu

Tony
1954 - Melhor Atriz por Ondine
1968 - Prêmio especial por sua carreira

BAFTA
1965 - Melhor Atriz por Charada
1960 - Melhor Atriz por Uma cruz à beira do abismo
1954 - Melhor Atriz por A princesa e o plebeu

Globo de Ouro
1990 - Prêmio Cecil B. DeMille pelo conjunto de sua obra
1955 - Atriz favorita do mundo
1954 - Melhor Atriz (filme dramático) por A princesa e o plebeu


Mas a atriz não inspira apenas por sua elegância e beleza exterior: “Todos sabíamos que Audrey Hepburn era um mito. Mas ela era muito mais do que isso, era um grande ser humano. Quando você estava com ela, se sentia mais bonito, melhor consigo mesmo e com suas próprias possibilidades”, afirmou o produtor Janis Blackshleger.




Bonequinha de Luxo (Breakfast at Tiffany's) - 1961
SINOPSE
Holly Golightly (Audrey Hepburn) é uma garota de programa nova-iorquina que está decidida a casar-se com um milionário. Perdida entre a inocência, ambição e futilidade, ela toma seus cafés da manhã em frente à famosa joalheria Tiffany`s, na intenção de fugir dos problemas. Seus planos mudam quando conhece Paul Varjak (George Peppard), um jovem escritor bancado pela amante que se torna seu vizinho, com quem se envolve. Apesar do interesse em Paul, Holly reluta em se entregar a um amor que contraria seus objetivos de tornar-se rica.


ELENCO E FICHA TÉCNICA
Elenco: Audrey Hepburn, George Peppard, 
Alan Reed, Beverly Powers, Buddy Ebsen, 
Dorothy Whitney, Martin Balsam, 
Mickey Rooney, Patricia Neal
Gênero: Comédia, Romance
Direção: Blake Edwards
Roteiro: George Axelrod
Produção: Martin Jurow, Richard Shepherd
Fotografia: Franz Planer
Música: Henry Mancini
País e Ano: USA - 1961

19 de novembro de 2014

A Primeira Noite de Um Homem, (1967)


Triste coincidência, hoje, após publicar o tópico deste post, soube  do falecimento desse grande diretor Mike Nichols, aos 83 anos, fica aqui a singela homenagem ao grande mestre - 06/11/1931 - 20/11/2014





TRILHA ORIGINAL 

The Sound of Silence - (Simon & Garfunkel)
A trilha sonora é de Simon&Garfunkel. Suas músicas pontuam e definem todos os momentos do filme. A primeira música a ser tocada é The Sound of Silence. Outra que fez muito sucesso foi Mrs. Robinson, que se encontra na 6ª posição entre as 100 melhores músicas do cinema.


A Primeira Noite de um Homem (The Graduate, 1967)

Há muito que eu queria assistir ao filme A Primeira Noite de um Homem. Sempre lia comentários acerca das interpretações dos atores, da trilha sonora, da direção eficiente de Nichols – diretor que trouxe às telas um dos filmes mais devastadores que eu conheço: Quem Tem Medo de Virginia Woolf? (1966) –, além das sempre comentadas cenas antológicas, principalmente aquele momento no começo, quando o protagonista pergunta a uma mulher mais velha – Mrs. Robinson, a que irá iniciá-lo – se ela está, afinal, tentando seduzi-lo. Se o filme fala sobre uma iniciação, não me furto a brincadeira: é também uma iniciação para o espectador que, como eu, conhecia pouco sobre o universo cômico-romântico já ofertado por esse diretor.

Katharine Ross e Dustin Hoffman

Conhecer os títulos mais dramáticos de Mike Nichols – além da obra já citada de 1966, também Silkwood – Retrato de uma Coragem (1983) e Closer – Perto Demais (2005) – e gostar deles fez com que eu o admirasse ainda mais, sobretudo por compreender a sua eficácia em dominar também o humor elogiável e o romance adequado que são misturados com equilíbrio em sua narrativa aqui. A história de Ben Braddock, rapaz recém-formado da faculdade, registra algum drama, mas é, sobretudo, na dissolução desse drama que o enredo se apresenta – o rapaz mal chega em casa e já é recepcionado por inúmeros parentes e amigos dos seus pais que há muito ele não vê e de quem pouco se lembra, todos festejando algo que ele próprio parece não entender muito bem – ele, afinal, apenas se graduou e rever tantos rostos semi-conhecidos não é de fato algo que lhe interessa agora. Uma mulher, no entanto, lhe desperta a atenção, porém não sem pouco esforço por parte dela: ela começa a seduzi-lo, a inseri-lo num mundo que até então lhe era bastante desconhecido – o do desejo e da sexualidade.

Anne Bancroft

O título que o filme recebeu no Brasil é bastante impreciso e, mais do que isso, extremamente equivocado. A vida de Ben Braddock não nos é narrada com enfoque na sua primeira vez – o que encerraria o enredo num momento bastante específico de sua jornada. O foco do filme está justamente no seu aprendizado, no modo como o jovem se transforma de rapaz ingênuo em obstinado, naquilo que ele aprende ao longo da tutoria de Mrs. Robinson, mulher que fará de sua vida um prazer e um inferno, ao mesmo tempo. A dualidade dela é bastante visível, exercendo nele um poder bastante ferrenho, criando nele uma série de dúvidas em relação à figura da mulher cuja idade se equipara à de sua mãe. Se, logo no começo, ela se despe com intensidade – seja literalmente, seja nas conversas (ela inclusive lhe conta que era alcoólatra) –, mais tarde ela se afasta dele, mantendo-se despida fisicamente, mas impedindo que seus diálogos tanjam uma intimidade mais profunda que aquilo que o sexo permite. Uma grande amostra do processo de amadurecimento do rapaz: ela o ensina a sorver o sexo sem a insegurança e o afobamento de adolescente, mas, em contrapartida, ensina-o a frieza do sexo descompromissado. Ela é, afinal, a graduação a que o título original se refere; ela é a escola da vida pela qual Ben precisava passar antes de verdadeiramente graduar-se.

Provavelmente – além da fantástica trilha sonora, a qual retomarei em breve – o que mais gosto nesse filme é da edição rápida e da câmera adotada por Nichols que sempre insere o espectador na visão do personagem. Dois momentos são fundamentais para a compreensão dos elementos que citei: primeiro quando Ben vê Mrs. Robinson nua pela primeira vez e depois quando os seus pais o obrigam a entrar na piscina vestindo traje de mergulho a fim de exibi-los – o filho e as suas habilidades – aos amigos. A primeira cena nos apresenta a perturbação de Ben ante a visão daquela nudez, tão assustadora quanto voluptuosa: não à toa, ele observa todo o corpo, a edição nos ajudando a acompanhar o furor, o desajeitamento e velocidade com a qual o rapaz lança olhadelas para Mrs. Robinson, que não hesita em perturbá-lo cada vez mais. Não fosse aquela edição fantástica, que nos permite ver exatamente o que o personagem vê – isto é, sentir o que ele sente também, compactuar com seu conflito –, decerto todo o efeito desejado se perderia. E digo o mesmo acerca das escolhas de Nichols, como no caso da segunda cena que citei: o rapaz se vê tão aprisionado naquela bobagem a que os pais o submetem que sua visão periférica se vê totalmente retalhada, restando-o apenas olhar pra frente (provavelmente devido à vergonha que sente por estar ali) e enxerga apenas através de um pequeno círculo, o que intensifica a nossa sensação de agonia e, mais uma vez, faz com que saibamos efetivamente o que o rapaz sente naquela situação.

Dustin Hoffman e Anne Bancroft

O filme potencialmente perderia seu grande charme se não fosse essa magnífica trilha sonora, que acompanha a trajetória da trama do começo ao fim, sempre apresentando canções que parecem combinar perfeitamente com aquilo que é mostrado. Sem falar, é claro, numa música especial – especialíssima –, chamada “Mrs. Robinson”, escrita por Paul Simon e exaltando todas as características que orbitam o universo próprio que Mrs. Robinson é – when you’ve got to choose, every way you look at it, you lose. E penso que nenhuma personagem da trama poderia fazer mais jus a uma música em homenagem a si do que Mrs. Robinson e isso acontece justamente porque Anne Bancroft tem uma interpretação tão magistral que ela faz com que sua personagem coadjuvante se torne protagonista da trama – seus olhares, sua postura desafiadora e inabalável, seu tom de voz sedutor, seu humor aristocrático, sua beleza que, fugindo do fulgor da juventude, parece se reafirmar ainda mais na segurança da meia-idade. Linda, inesquecível! Tão potente é a interpretação de Bancroft que nem mesmo reparamos em Dustin Hoffman, o verdadeiro protagonista do longa-metragem, quando ele e ela dividem cenas. Um dos melhores momentos da trama, a meu ver, no que concerne à realização de Nichols, acontece na primeira noite de Ben. O embate entre os personagens é maravilhoso, mostrando a dicotomia das experiências de mundo dos dois: ele, ingênuo, afoito, agarra-lhe o seio enquanto ela se despe tranquilamente; depois, na crise de consciência que ele tem, advinda também por causa de sua insegurança – embora ele não revele a ela, aquela é, afinal, sua primeira vez –, os dois dialogam rapidamente antes de, por fim, transarem. Não vemos a cena, mas tudo o que a antecede é justamente um delicioso prólogo de extremo bom gosto estético para aquilo que nossa mente irá criar logo em seguida.

Katharine Ross

É evidente que a direção de Mike Nichols não se sustenta por si só, nem é a trilha sonora apenas que garante a total atenção do espectador. Anne Bancroft, a alma do filme, decerto seria diminuída não fosse o roteiro que lhe favorece, bem como favorece a Hoffman e a Katharine Ross – linda! –, que interpreta a filha de Mrs. Robinson, com quem Ben Braddock evidentemente acabará envolvido, o que acrescenta tom dramático à fita. O filme funciona como um todo, uma série de elementos muito bem posicionados e usados em prol do resultado final, que se mostra extremamente valoroso. Não se trata de uma obra vazia que discute as relações sexuais de um jovem, mas uma produção que, nas suas proporções, apresenta propostas ontológicas, percorrendo o reconhecimento de um rapaz que primeiro se vê sem propósito para, gradualmente – the graduate – compreender aquilo de que verdadeiramente gosta e pelo que vale lutar. E não vejo como o filme possa abster-se de uma abordagem sociológica: para mim, ele parece percorrer bastante as metáforas que se fazem úteis ao longo de toda a trama, num roteiro que claramente apresenta a juventude em oposição àquilo que os mais velhos apregoam, e não é apenas o final do filme que mostra isso com clareza – ao longo de toda a obra podemos ver a distinção entre os jovens – Ben Braddock, Elaine Robinson, Carl Smith – e seus pais, sempre indicados pela omissão do primeiro nome, dando-lhes um caráter mais formal – Mr. e Mrs. Braddock, Mr. e Mrs. Robinson e Mr. e Mrs. Smith. O filme se registra como uma excelente obra, havendo nela relevância cinematográfica para que perdure por muitos anos como um título inesquecível, tanto pelo seu conteúdo em si quanto pelo modo como ele foi concebido – The Graduate, afinal, é um dos precursores do movimento artístico que se denominaria New Hollywood e que consagraria grandes outros títulos, como Sem Destino (1969), Cada um Vive como Quer (1970), O Exorcista (1973) e Taxi Driver (1976), só para citar alguns.



TRILHA ORIGINAL 2
Mrs. Robinson - (Simon & Garfunkel)
Mrs. Robinson, a canção de Simon & Garfunkel se tornou uma referência quando o assunto são trilhas de destaque. Quando foi lançada como single em 1968, chegou ao primeiro lugar da parada Billboard Hot 100, nos Estados Unidos, e ainda ajudou a dupla a ganhar o Grammy de Melhor Disco do Ano, em 1969. A faixa estava sendo composta por Simon para contar a história de Mrs. Roosevelt e a princípio não tinha nada a ver com a produção. Mas acabou se adaptando para se tornar o hino da Mrs. Robinson de Bancroft.

CARTAZES DO FILME 
CRÉDITO


















CURIOSIDADES
• Hoffman foi datilógrafo, zelador, garçom e vendedor de brinquedos. Alega que viveu abaixo da linha oficial da pobreza até os 31 anos. O sucesso de A Primeira Noite de Um Homem transformou sua carreira. Recebeu, inclusive, uma indicação ao Oscar. Anos depois ganhou o Oscar por sua participação em Kramer versus Kramer e Rain Man.

• Anne Bancroft recebeu a terceira indicação ao Oscar por sua atuação em A Primeira Noite de Um Homem. Ela quase recusou o papel, pois alguns amigos tentaram convencê-la de que a personagem era perigosa. Ela acabou imortalizada como Mrs. Robinson. Sua personagem foi o ponto alto do filme.

• Katharine Ross (Elaine) foi a professora de Butch Cassidy. Ela é hoje escritora de livros infantis.

• A trilha sonora é de Simon&Garfunkel. Suas músicas pontuam e definem todos os momentos do filme. A primeira música a ser tocada é The Sound of Silence. Outra que fez muito sucesso foi Mrs. Robinson, que se encontra na 6ª posição entre as 100 melhores músicas do cinema.

• Dizem que Doris Day rejeitou o papel de Mrs. Robinson alegando: – Isso ofende os meus valores morais.

• Robert Redford não foi escolhido porque não passava a imagem de um bobinho que nunca houvesse dado bem com uma garota.

• A perna que aparece nos cartazes promocionais do filme não pertence a Anne Bancroft, e sim a uma então desconhecida modelo, Linda Gray.

• Apesar de no filme parecer bem mais velha, na época das filmagens a atriz Anne Bancroft tinha 37 anos, apenas seis a mais que Dustin Hoffman.

• O carro utilizado por Dustin Hoffman, um Alfa Romeo Spider, teve com o sucesso do filme uma série especial nos Estados Unidos chamado de The Graduate (nome do filme em inglês).

• O sucesso do filme transformou a carreira de Dustin Hoffman e abriu as portas para todos os atores étnicos de Nova Iorque.

• Na época em que o filme concorreu ao Oscar, a competição configurava-se como: A Nova Hollywood com Bonnie e Clyde e A Primeira Noite de um Homem contra a Velha Hollywood com No Calor da Noite e Advinhe Quem Vem para Jantar.

• Em 2005, a Warner Bros. Pictures lançou o filme Dizem por aí…, que conta a história de A Primeira Noite de um Homem como se fosse verdadeira, através da personagem Sarah Huttinger (Jennifer Aniston) que acredita que sua família seja os Robinson de Pasadena descritos no livro de Charles Webb e no filme de Mike Nichols.



A Primeira Noite de um Homem (The Graduate) - 1967

SINOPSE
Benjamin Braddock acaba de retornar formado da faculdade. Meio perdido na vida, é seduzido pela mulher do melhor amigo de seu pai, bem mais velha. Não resistindo à tentação, Benjamin começa a viver a vida de uma maneira diferente do que seus pais desejavam, mas é a filha de Mrs. Robinson quem rouba o coração do rapaz. O filme prima pela sua trilha sonora e lança um certo Dustin Hoffman para o mundo. Oscar de Melhor Direção.



ELENCO E FICHA TÉCNICA 
Título Original: The Graduate
Elenco: Dustin Hoffman, Anne Bancroft, 
Katharine Ross, William Daniels, 
Murray Hamilton, Elizabeth Wilson, Brian Avery.
Diretor: Mike Nichols.
Produção: Mike Nichols e Lawrence Turman
Fotografia: Robert Surtees
Música: Dave Grusin e Paul Simon
Roteiro: Calder Willingham, Buck Henry.
Origem e Ano: EUA - 1967



PRÊMIOS
Oscar 1968 (EUA)
    Vencedor na categoria de melhor direção (Mike Nichols)
    Indicado nas categorias de melhor ator (Dustin Hoffman), melhor atriz (Anne Bancroft), melhor atriz coadjuvante (Katharine Ross), melhor filme, melhor fotografia e melhor roteiro adaptado.


Globo de Ouro 1968 (EUA)
    Vencedor nas categorias de melhor filme para cinema - comédia/musical, melhor atriz de cinema - comédia/musical (Anne Bancroft), melhor diretor de cinema - comédia/musical (Mike Nichols), melhor atriz estreante (Katharine Ross) e melhor ator estreante (Dustin Hoffman).

Grammy 1968 (EUA)
    Vencedores: Dave Grusin e Paul Simon na categoria de melhor trilha sonora original escrita para cinema/TV/mídia. Título: The Graduate. Artistas: Simon and Garfunkel.

BAFTA 1969 (Reino Unido)
    Vencedor na categoria de melhor direção, melhor filme, melhor edição, melhor ator estreante (Dustin Hoffman), melhor roteiro.
    Indicado nas categorias de melhor atriz (Anne Bancroft) e melhor atriz estreante (Katharine Ross).

14 de novembro de 2014

Lawrence da Arábia, (1962)





TRILHA ORIGINAL(OSCAR)
OVERTURE (Maurice Jarre)

Maurice Jarre (1924-2009), nascido em Lyon, Maurice-Alexis Jarre iniciou seu aprendizado musical no conservatório de Paris, onde estudou percussão, composição e harmonia. Celebrizou-se, principalmente, por compor trilhas musicais das quais se destacam a parcerias com o diretor David Lean, que lhe renderam três prêmios Oscar: “Lawrence da Arábia” (1962), “Dr. Jivago” (1965) e “Passagem para a India” (1984). Jarre compôs para o teatro, concertos, óperas, balés e gravou seis CDs. Trabalhou também com John Frankeheimer (“O Trem”, 1965), René Clément (“Paris Está em Chamas?”, 1966), Richard Brooks (“Os Profissionais”, 1966), Anatole Litvak (“A Noite dos Generais”, 1967), Luchino Visconti (“Os Deuses Malditos”, 1969), John Huston (“O Homem que Queria Ser Rei”, 1975), Moustapha Akkad (“O Leão do Deserto”, 1981), Peter Weir (“Sociedade dos Poetas Mortos”, 1989).


LAWRENCE DA ARÁBIA (Lawrence of Arabia) - 1962

Se há filmes aos quais se associa a impossibilidade de serem feitos de novo hoje em dia, "Lawrence of Arabia" é certamente um dos melhores exemplos. O próprio Steven Spielberg que, como se sabe, tem o céu como limite, reconhece que, mesmo com toda a moderna tecnologia, seriam precisos mais de 250 milhões de dólares para produzir algo semelhante. E de qualquer modo não valeria a pena pois nunca teria a grandeza do original, que ele mesmo considera o melhor filme jamais realizado.



Classificado em 5º lugar na tabela do American Film Institute dos melhores 100 filmes de sempre, este épico incomparável é fruto da persistência e teimosia de David Lean, inglês nascido em Surrey no dia 25 de Março de 1908 (viria a falecer em Londres, a 16 de Abril de 1991), e que começou por trabalhar na montagem de filmes, durante toda a década de trinta. Depois, e a partir de 1942, realizou 16 longas metragens, destacando-se "Brief Encounter / Breve Encontro" (1946), "Oliver Twist" (1948), "The Bridge on the River Kwai / A Ponte do Rio Kwai" (1957), "Doctor Zhivago / Doutor Jivago" (1965), "Ryan's Daughter / A Filha de Ryan" (1970) e "A Passage to India / Passagem Para a India" (1984). Mas "Lawrence of Arabia", que dirigiu aos 54 anos, permanecerá sem dúvida como a sua coroa de glória. 



OSCAR DE MELHOR FOTOGRAFIA: FREDIE YOUNG



Omar Sharif, um dos emblemáticos actores do filme, interroga-se ainda hoje como foi possível conseguir realizar-se tal empreendimento: «imagino-me no papel do produtor do filme e vir alguém dizer-me que queria investir uma montanha de dinheiro num projeto de cerca de quatro horas, sem estrelas, sem mulheres e nenhuma história de amor, sem grande ação também e inteiramente passado no deserto, por entre árabes e camelos... Com certeza que levava uma corrida!». Mas felizmente tal não aconteceu com David Lean, por culpa talvez dos 7 Oscars que o seu último filme também recebera.

 "Lawrence of Arabia" é um filme que, pelo menos uma vez, deveria ser visto no grande écran de uma sala escura (este ano passou uma cópia digital numa das salas do El Corte Inglês). Só assim se poderá usufruir de toda a sua grandiosidade. Hoje considero-me um privilegiado por ter vivido esse momento único no início da década de 70, quando da reposição do filme em todo o mundo. Apesar de já então se encontrar amputado em cerca de meia hora. Mas mesmo assim, assistir ao vivo, no esplendor dos 70 mm de uma grande sala de cinema (hoje em dia uma impossibilidade estabelecida) foi sem dúvida uma excitante e inesquecível experiência.

Anthony Quinn, Peter O'Toole e Omar Sharif
É que "Lawrence of Arabia" não é apenas um filme biográfico ou de aventuras, muito embora contenha esses elementos. Acima de tudo, é um filme que usa o deserto como palco de emoções, cativando os espectadores a ponto deles se entregarem totalmente ao puro prazer sensorial de ver e sentir o impacto do vento ou do sol abrasador nas dunas. E isto é algo que não se pode descrever por palavras, tal como não se pode explicar o amor que por vezes sentimos por uma pessoa em especial; e neste caso é o deserto essa outra pessoa, o objecto da nossa paixão.


Acrescente-se agora a memorável música de Maurice Jarre e temos essa paixão elevada aos píncaros do sublime e do êxtase. É esta a razão pela qual as pessoas não se lembram do filme por elementos narrativos; recordam antes uma série de momentos visuais, cuja magia perdura na memória do filme: o apagar de um fósforo a originar o nascer do sol no deserto; a aproximação de uma silhueta no horizonte, como se de uma miragem se tratasse; a travessia do deserto de Nefud; o espectacular ataque a Akaba; o descarrilamento do comboio; a entrada de Lawrence no bar dos oficiais..., e a sequência mais bela - o resgate de Gasim por Lawrence - aqui tudo se conjuga na perfeição. Oberve-se a importância capital da música: começa titubeante, indecisa, a ilustrar a dúvida de Farraj sobre a veracidade da silhueta que mal se distingue ao longe (será ou não uma miragem mais?).
Depois, e à medida que a dúvida se transforma em certeza, a música vai crescendo também, até acompanhar o galope desenfreado das duas montadas e os gritos de alegria dos dois homens na iminência do reencontro. É por cenas destas, sem qualquer diálogo, puramente cinemática, que se reconhece a genialidade dos grandes artistas. E David Lean foi sem dúvida um dos maiores.

CARTAZES DO FILME 






















Uma referência final a Peter O'Toole, que tem aqui um início fulgurante de carreira, com um papel à medida de toda uma vida. Este Irlandês nascido em County Galway (a 2 de Agosto de 1932) mas educado em Leeds, Inglaterra, teve na década de 60 os seus anos de glória no cinema, depois de doze anos passados nos palcos de teatros, nos quais se iniciou com apenas 17 anos; frequentou a Royal Academy of Dramatic Arts, onde teve por colegas Alan Bates, Richard Harris ou Albert Finney. Filmes como "Becket" (1964), "Lord Jim" (1965), "What's New, Pussycat / Que há de Novo, Gatinha?" (1965), "How To Steel a Million / Como Roubar Um Milhão" (1966), "Night of the Generals / A Noite dos Generais" (1969), "The Lion in Winter / O Leão no Inverno" (1969), "Goodbye Mr. Chips / Adeus Mr. Chips" (1969) ou ainda "Man of La Mancha / O Homem da Mancha" (1972), ficarão para sempre associados às magníficas interpretações de O'Toole, que conseguia estar à vontade em qualquer tipo de papel. Nomeado 8 vezes para o Oscar, nunca conseguiu levar para a casa a almejada estatueta, apesar de ser considerado um dos melhores actores da sua geração. Nos Globos de Ouro a sorte sorriu-lhe mais: ganhou aquele prêmio por três vezes (nos filmes "Becket", "The Lion in Winter" e "Goodbye Mr. Chips"), num total de oito nomeações. Na déada de 70 problemas de alcool quase que lhe arruinaram de vez a carreira e a própria vida. Conseguiu sobreviver, apesar dos múltiplos tratamentos a que foi submetido lhe terem acabado para sempre com a beleza da juventude, tão bem captada naqueles filmes.
CRÉDITO DO TEXTO: O_RATO_CINÉFILO



CARTAZES DO FILME
CRÉDITO


















CURIOSIDADES
- Quando o filme estreou, em Dezembro de 62, apresentava uma metragem original de 222 minutos. Pouco tempo depois foram cortados cerca de 20 minutos. Em 1971, quando da primeira reposição, mais 15 minutos foram retirados, sendo esta a versão que foi sendo apresentada nas duas décadas seguintes. Apenas em 1989 se procedeu a uma restauração do filme, que ficou com uma metragem final de 216 minutos. Esta restauração foi levada a cabo por Robert A. Harris, com a colaboração de Martin Scorsese e Steven Spielberg, além do próprio David Lean. Para a gravação de novos diálogos (devido ao mau estado ou mesmo à inexistência dos mesmos em cenas adicionais descobertas) foram de novo chamados os actores principais.

- David Lean pretendia o actor Albert Finney para o papel de Lawrence; mas Katharine Hepburn convenceu o produtor Sam Spiegel a contratar Peter O'Toole.

- Apesar da sua longa duração, é um dos raros filmes onde não existe qualquer papel falado por uma mulher.

- Enquanto rodava as cenas de sabotagem dos comboios, a equipa de filmagens encontrou destroços dos verdadeiros comboios que Lawrence fez explodir.

- David Lean tem uma curta aparição como o motociclista que grita para Lawrence "Who are you?", do outro lado do canal do Suez.

- Marlon Brando não aceitou o papel de Lawrence por se ter comprometido em desempenhar Fletcher Christian no filme "Mutiny on the Bounty".

- A interpretação de Peter O'Toole foi considerada pela revista Premiere o melhor desempenho de todos os tempos.

- Em 2007 o American Film Institute classificou "Lawrence of Arabia" no 5º lugar da lista dos Melhores Filmes de Sempre (e em nº 1 do género épico)





LAWRENCE DA ARÁBIA (Lawrence of Arabia) - 1962

SINOPSE
Em 1935, quando pilotava sua motocicleta, T.E.Lawrence (Peter O'Toole) morre em um acidente e, em seu funeral, é lembrado de várias formas. Deste momento em diante, em flashback, conhecemos a história de um tenente do Exército Inglês no Norte da África, que durante a 1ª Guerra Mundial, insatisfeito em colorir mapas, aceita uma missão como observador na atual Arábia Saudita e acaba colaborando de forma decisiva para a união das tribos árabes contra os turcos.


ELENCO E FICHA TÉCNICA
Elenco: Peter O'Toole, Alec Guinness, 
Anthony Quinn, Jack Hawkins, 
Omar Sharif, José Ferrer, Anthony Quayle, 
Claude Rains, Arthur Kennedy
Direção: David Lean
Music by Maurice Jarre
Performed by London Philharmonic Orchestra
Conducted by Maurice Jarre
Roteiro: Robert Bolt, Michael Wilson
Gênero: Aventura , Histórico , Biografia 
Origem e Ano:  Reino Unido , EUA - 1962
Fotografia: Freddie Young
Produção: Sam Spiegel


PRÊMIOS E INDICAÇÕES
OSCAR - 1963
Melhor Filme
Melhor Diretor - David Lean
Melhor Fotografia
Melhor Direção de Arte
Melhor Edição
Melhor Música
Melhor Som
Também indicado
Melhor Ator - Peter O'Toole
Melhor Ator Coadjuvante - Omar Sharif
Melhor Roteiro Adaptado


BAFTA - 1963
Melhor Filme
Melhor Filme Britânico
Melhor Roteiro Britânico
Melhor Ator Britânico - Peter O'Toole
Também indicado
Melhor Ator Estrangeiro - Anthony Quinn


GLOBO DE OURO - 1963
Melhor Filme - Drama
Melhor Diretor - David Lean
Melhor Fotografia
Melhor Ator Coadjuvante - Omar Sharif
Também Indicado
Melhor Ator - Drama - Anthony Quinn
Melhor Ator - Drama - Peter O'Toole
Melhor Trilha Sonora




QUEM FOI LAWRENCE DA ARÁBIA?
“Todos os homens sonham, mas não da mesma forma. Os que sonham de noite, nos recessos poeirentos das suas mentes, acordam de manhã para verem que tudo, afinal, não passava de vaidade. Mas os que sonham acordados, esses são homens perigosos, pois realizam os seus sonhos de olhos abertos, tornando-os possíveis. T. E. Lawrence, o Lawrence da Arábia.
Foi um grande aventureiro britânico do início do século 20, um misto de arqueólogo, estrategista militar e escritor. Sua vida foi tão movimentada que acabou se transformando em um filme de grande sucesso na década de 60. Thomas Edward Lawrence, ou simplesmente T.E. Lawrence, iniciou a trajetória que o tornaria mundialmente famoso entre 1911 e 1914, período em que trabalhou numa expedição arqueológica no Oriente Médio. Ele aproveitou a oportunidade para aprender árabe e conhecer os costumes da região. Quando a Primeira Guerra Mundial começou, em 1914, ele se alistou nas Forças Armadas e, devido aos seus conhecimentos sobre o Egito e o Oriente Médio, passou a fornecer informações estratégicas para o Exército britânico. Seu principal papel na guerra, porém, foi outro. Lawrence ajudou a enfraquecer o Império Turco-Otomano, inimigo dos ingleses, incentivando tribos árabes a se rebelarem contra os turcos. Nem tudo, porém, saiu como ele queria. Em 1917, o aventureiro foi capturado pelos otomanos e, antes de conseguir escapar, foi torturado e sofreu violências sexuais. Ao final da guerra, em 1918, traumatizado por suas experiências e desiludido com o tratamento dado pelos ingleses aos seus velhos aliados árabes, recusou condecorações e abandonou o Exército. Durante a década de 20, Lawrence se dedicou a escrever suas memórias, organizadas no livro Os Sete Pilares da Sabedoria. Embora a obra seja um pouco inexata e fantasiosa em vários pontos, ela adquiriu grande importância histórica e artística. "É um dos poucos trabalhos escritos em inglês no século 20 a apresentar uma visão épica de personagens contemporâneos, revelando as complexas transformações por que passou seu autor", diz o crítico e historiador Stanley Weintraub, da Universidade Estadual da Pensilvânia, nos Estados Unidos. Lawrence morreu em 19 de maio de 1935, aos 47 anos, em conseqüência dos ferimentos que sofrera seis dias antes, num acidente de moto.
Árabe por opção. Para enfrentar os turcos, ele passou a viver como seus aliados no Oriente.
Durante a Primeira Guerra Mundial, o Império Turco-Otomano, aliado da Alemanha e inimigo dos ingleses, ocupava boa parte do Oriente Médio. Isso colocava em risco o funcionamento do canal de Suez, no Egito, importante ligação marítima usada pelos britânicos para chegar às suas colônias asiáticas. Como várias tribos árabes estavam insatisfeitas em ver suas terras sob o controle turco, os ingleses utilizaram essa revolta para instigar os árabes contra os invasores. T.E. Lawrence foi mandado ao Oriente Médio para fornecer uma pequena ajuda militar às tribos. Transformado em assessor do principal chefe árabe, Hussein ibn Ali, o aventureiro inglês comandou importantes ataques da guerrilha contra os turcos. A imprensa, então, passou a se referir ao aventureiro como Lawrence da Arábia. Ele de fato passou a se vestir como seus aliados e a admirar o povo que lutava ao seu lado. A revolta árabe enfraqueceu decisivamente o Império Turco. Após o fim da guerra, porém, os ingleses e as outras potências européias vitoriosas dividiram o mapa do Oriente Médio de acordo com seus interesses, ignorando as reivindicações das tribos árabes, apesar das promessas de autonomia que haviam feito a elas.
CRÉDITO DO TEXTO: mundoestranho.abril


9 de novembro de 2014

Último Tango em Paris, (1972)




TRILHA ORIGINAL
The Tango (Gato Barbieri)
Gato Barbieri, nascido em 1934 numa família de músicos Argentinos, só em 1972 que realmente experimentou a fama ao compor a trilha para o filme , "Último Tango em Paris". O disco da trilha ganhou um Grammy e rendeu convites para os festivais de Montreux, Bologna, Berlin, Newport e outros.


Último Tango em Paris (Last Tango in Paris) - 1972

Um filme no museu de arte.
A sequência mais famosa de “Último Tango em Paris”, conhecida mundialmente como “cena da manteiga”, poderá deixar aqueles que virem a obra de Bernardo Bertolucci pela primeira vez um tanto decepcionados. Sim, pois se estiverem esperando uma cena de alta voltagem erótica, como muito se alardeia por aí, não será exatamente isso que verão. Ao assistir dita sequência a sensação que me veio foi a de estar presenciando um ato de violência sexual, passando até longe de nuances verdadeiramente sensuais que estimulem o espectador a desejos eróticos ou algo que o valha. Ou seja, muito mais do que sexo, o que vemos é uma agressão. E é possível que somente nos tempos de hoje, onde sexualidade e erotismo estão cada vez mais explícitos até mesmo na televisão, tenhamos uma compreensão melhor, mais apurada, deste longa de 1972 que se tornou um dos mais influentes do cinema ao longo das últimas décadas.

Maria Schneider e Marlon Brando 

Quando foi lançado, vendo com os olhos contemporâneos, observo que “Ultimo Tango a Parigi” chamou a atenção mais pela superfície do que pela sua essência. Afinal, as cenas de nudez e sexo, banais para os padrões atuais, eram fortes para os anos 70. Pelo menos no cinema mainstream, contando com um astro do porte de Marlon Brando, jamais havia sido visto algo tão voluptuoso e escancarado, tanto que lhe rendeu proibição em vários países, entre eles o Brasil, onde só foi liberado pela censura em 1979, sete anos após seu lançamento na Europa. Mesmo em países como Itália e EUA, sua vida não foi fácil, sendo frequentemente exibido apenas depois de passar por uma severa tesourada. Esse “auê” todo teve como resultado a impressão de que o filme de Bertolucci é sobre sexo, mas não é. É antes de tudo um ensaio sobre solidão, vazio existencial e a violência que permeia as relações humanas.


O filme também representa um guinada na carreira de Bertolucci, até então com a imagem muito associada a cinema político em decorrência de obras como “Antes da Revolução” (Prima Della Rivoluzione, 1964) e “O Conformista” (Il Conformista, 1970). Aqui, ele expande seus horizontes para abordagens mais intimistas, pessoais, muito embora não se possa deixar de vislumbrar em “Último Tango em Paris” um manifesto da contracultura e da revolução sexual iniciada nos anos 60. Bertolucci consegue, ademais, aprimorar a sua mise-en-scène, a qual resulta em uma espécie de barroco modernista, principalmente quando lembramos da fotografia de Vittorio Storaro. Colaborador habitual de Bertolucci (foram parceiros em 8 longas), Storaro realizou uma fotografia declaradamente inspirada na arte do britânico Francis Bacon (algumas de suas obras, inclusive, são exibidas durante os créditos iniciais), atribuindo à imagens uma saturação em tons de sépia que influenciaria ao longo dos anos a imagética do chamado “cinema de arte” europeu. Aliás, a própria ideia de “cinema de arte” existente atualmente foi em boa parte criada a partir deste filme. Não é por acaso que uma parcela significativa do cinema dessa vertente no velho continente invista tanto no erotismo (obtendo maior ou menor sucesso) como forma de investigar as relações humanas (o ápice dessa tendência ocorreu no fim dos anos 80/início dos 90). Outro elemento memorável é a música de Gato Barbieri, responsável pelos tangos que dão o título ao longa-metragem. A associação bem acabada de imagem e sons é mesmo um dos seus trunfos e também influenciaria toda uma geração posterior de diretores.

Maria Schneider

O roteiro, concebido pelo próprio Bertolucci, teve colaborações do escritor Alberto Moravia e da também cineasta Agnès Varda, apresentando-se de antemão como inovador por narrar uma história que se passa em Paris sem quase mostrar nada da Cidade Luz. Pelo contrário. Sua ambientação é claustrofóbica, com a maior parcela das ações transcorrendo em interiores, principalmente o apartamento onde os personagens de Brando e Maria Schneider se encontram. Ele interpreta Paul, um norte-americano de meia idade que acaba de se tornar viúvo devido ao suicídio de sua esposa. Casualmente ele conhece Jeanne (Schneider), uma jovem atriz que se encontra noiva de um diretor de cinema (Jean-Pierre Léaud, o alter-ego de François Truffaut e uma das figuras mais queridas da Nouvelle Vague) e procura um apartamento. Sem resistirem à atração mútua, eles passam a se encontrar regularmente em um apartamento sombrio onde, sem jamais dizerem os próprios nomes, mantêm relações sexuais como forma de preencher seu vazio e de expurgar suas culpas e medos.

Marlon Brando e Maria Schneider 

Como é possível perceber, Bertolucci empreende uma jornada de confronto entre Eros e Tânatos, entre a morte e a força pulsante da vida traduzida na forma do sexo. Mas esta é somente um das possíveis leituras dentre as várias possibilidades oferecidas por esta obra de múltiplas camadas, onde cada sequência se mostra como essencial à sua compreensão. Nada nele é gratuito. Até mesmo a frequente nudez de Maria Schneider não surge como uma maneira barata de atrair a atenção do espectador, pois que o seu contraste com um Brando quase sempre vestido parece sugerir que Jeanne está muito mais aberta, exposta e desejosa de novas vivências do que Paul, um homem que se encontra na permanente fuga de uma vida permeada por traumas, alguns explícitos (o suicídio da esposa) e outros apenas sugeridos (teria sido vítima de abuso sexual no passado?). Vale dizer aqui que, para a composição de personagens tão densos a presença de atores de peso seria fundamental e a escolha de Brando não poderia ser mais perfeita. Só mesmo ele, com sua famosa postura de ator-autor, para alcançar tanta entrega a um personagem responsável por algumas da cenas mais densas da história do cinema, tais como o famoso monólogo que realiza diante do corpo de sua falecida esposa. Uma sequência que chega a ser constrangedora para o público, tamanha a carga de sentimentos jogados ao ar, como se estivéssemos diante de uma confissão íntima a que, na verdade, não deveríamos estar assistindo. Schneider também está ótima com a sua aura juvenil, responsável pelo lado “eros” do casal, em contraposição ao “tânatos” de Paul. É uma pena que, de certa forma, sua carreira tenha sido excessivamente marcada por este papel, permanecendo ao longo das décadas posteriores quase apenas lembrada por ter realizado a tal “cena da manteiga”.


Alguns afirmam que Bertolucci teria usado até mesmo teorias de Georges Bataille e outros estudiosos para a elaboração dos diálogos e personagens. Verdade ou não, é impossível negar um fato: ele conseguiu criar um película que realmente atinge o status de “arte”, um longa perturbador, mas fundamental na mesma medida. Jean-Luc Godard já dizia que “cultura é a regra, a arte é a exceção”, sendo que “Último Tango em Paris” indubitavelmente figura entre tais “exceções”. Uma obra cinematográfica que nos atinge tal como uma pintura, afetando o nosso inconsciente, mesmo que no plano consciente possamos eventualmente rejeitar a sua forma. Em outras palavras: um filme digno de ser exposto no museu de arte moderna., ao lado de obras de outros grandes artistas.



CURIOSIDADE
Marlon Brando não usava maquiagem e praticamente improvisou todas as suas falas, fazendo com que o personagem se confundisse com o ator real. Lançado em 1972, o filme teve sua exibição proibida no Brasil até 1979 pelas cenas consideradas, na época, muito chocantes.



CARTAZES DO FILME
CRÉDITO






OUTRA VERSÃO PARA O TEMA 
Last Tango In Paris (Marlena Shaw)


Último Tango em Paris (Ultimo Tango a Parigi) - 1972

SINOPSE
Enquanto procura um apartamento em Paris, uma bela jovem (Maria Schneider) conhece um americano (Marlon Brando), cuja esposa recentemente cometeu suicídio. Instantaneamente um deseja o outro ardentemente e iniciam naquele momento um tórrido affair. Eles combinam que não revelariam nada de suas vidas, nem mesmo seus nomes, sendo que o objetivo dos encontros seria basicamente sexo. Mas gradativamente os acontecimentos vão fugindo do controle de ambos.


ELENCO E FICHA TÉCNICA 
Elenco: Marlon Brando, Maria Schneider,
Jean-Pierre Léaud, Maria Michi
Direção: Bernardo Bertolucci
Roteiro: Bernardo Bertolucci e Franco Arcalli
Produção: Alberto Grimaldi
Fotografia: Vittorio Storaro
Trilha Sonora: Gato Barbieri
Gênero: Drama/Romance
Origem/Ano: França/Itália - 1972 



PRÊMIOS
OSCAR 1974
Indicado:
Melhor Ator - Marlon Brando
Melhor Diretor - Bernardo Bertolucci

GLOBO DE OURO 1974
Indicado:
Melhor Diretor - Bernardo Bertolucci
Melhor Filme - Drama

BAFTA Awards 1974
Indicado:
Melhor Ator - Marlon Brando

– Sindicato Italiano dos Jornalistas de Filmes: Diretor.
– Crítica de Nova York: Ator (Marlon Brando).
– David di Donatello Awards: Prêmio Especial (Maria Schneider).



Bertolucci revela bastidores da 'cena da manteiga' de 'O último tango em Paris'
Maria Schneider teria se sentido usada pelo diretor

O cineasta italiano Bernardo Bertolucci fez uma declaração chocante em Paris, na qual admite sua culpa em relação à mágoa da atriz Maria Schneider, protagonista de "O Ultimo Tango em Paris" (1972).
O cineasta se referiu a "cena da manteiga" entre Schneider e [o ator norte-americano] Marlon Brando, censurada na época por ser muito escandalosa, que foi o motivo da ruptura da atriz com Bertolucci.
"A idéia de como gravar esta cena aconteceu comigo e Marlon Brando enquanto estávamos tomando café da manhã sentados no carpete do apartamento parisiense e em determinado momento ele começou a passar manteiga em uma baguete, logo nos demos uma olhada de cúmplices. Decidimos não dizer nada para Maria para ter uma cena mais realística", confessou Bertolucci. Ao ser questionado se não seria "imoral nos dias de hoje" se comportar desta forma com seus atores, o diretor respondeu irônico "não ser um homem de hoje".
"Maria queria fazer cinema a qualquer custo, era muito nova, tinha apenas vinte anos na época do filme. Em toda a sua vida ficou muito rancorosa em relação a mim e a este filme. Rancorosa porque se sentiu usada. Infelizmente é o que normalmente acontece quando se está dentro de uma aventura que não se compreende. Ela tinha uma inteligência instintiva. Não tinha meios para filtrar aquilo que lhe aconteceu", disse ele.
"Talvez tenha sido culpado por Maria Schneider, mas não poderão me condenar por isso", concluiu o cineasta.
Apesar do sucesso mundial que a atriz conseguiu com o filme, Schneider declarou que o filme fora o único arrependimento de sua vida e várias vezes disse que a famosa cena de sexo anal não estava no roteiro e se pudesse não a teria gravado porque a considerou uma manipulação, uma violência e uma humilhação.
A atriz sofreu problemas psicológicos e anos de dependência química, e nunca mais gravou cenas de nudez em toda a sua carreira. Apenas após sua morte, em 2011, com 58 anos, depois de uma grave doença, Bertolucci admitiu, pela primeira vez, que gostaria de ter "lhe pedido desculpas".(Agência ANSA - 17/09/2013)