14 de novembro de 2014

Lawrence da Arábia, (1962)





TRILHA ORIGINAL(OSCAR)
OVERTURE (Maurice Jarre)

Maurice Jarre (1924-2009), nascido em Lyon, Maurice-Alexis Jarre iniciou seu aprendizado musical no conservatório de Paris, onde estudou percussão, composição e harmonia. Celebrizou-se, principalmente, por compor trilhas musicais das quais se destacam a parcerias com o diretor David Lean, que lhe renderam três prêmios Oscar: “Lawrence da Arábia” (1962), “Dr. Jivago” (1965) e “Passagem para a India” (1984). Jarre compôs para o teatro, concertos, óperas, balés e gravou seis CDs. Trabalhou também com John Frankeheimer (“O Trem”, 1965), René Clément (“Paris Está em Chamas?”, 1966), Richard Brooks (“Os Profissionais”, 1966), Anatole Litvak (“A Noite dos Generais”, 1967), Luchino Visconti (“Os Deuses Malditos”, 1969), John Huston (“O Homem que Queria Ser Rei”, 1975), Moustapha Akkad (“O Leão do Deserto”, 1981), Peter Weir (“Sociedade dos Poetas Mortos”, 1989).


LAWRENCE DA ARÁBIA (Lawrence of Arabia) - 1962

Se há filmes aos quais se associa a impossibilidade de serem feitos de novo hoje em dia, "Lawrence of Arabia" é certamente um dos melhores exemplos. O próprio Steven Spielberg que, como se sabe, tem o céu como limite, reconhece que, mesmo com toda a moderna tecnologia, seriam precisos mais de 250 milhões de dólares para produzir algo semelhante. E de qualquer modo não valeria a pena pois nunca teria a grandeza do original, que ele mesmo considera o melhor filme jamais realizado.



Classificado em 5º lugar na tabela do American Film Institute dos melhores 100 filmes de sempre, este épico incomparável é fruto da persistência e teimosia de David Lean, inglês nascido em Surrey no dia 25 de Março de 1908 (viria a falecer em Londres, a 16 de Abril de 1991), e que começou por trabalhar na montagem de filmes, durante toda a década de trinta. Depois, e a partir de 1942, realizou 16 longas metragens, destacando-se "Brief Encounter / Breve Encontro" (1946), "Oliver Twist" (1948), "The Bridge on the River Kwai / A Ponte do Rio Kwai" (1957), "Doctor Zhivago / Doutor Jivago" (1965), "Ryan's Daughter / A Filha de Ryan" (1970) e "A Passage to India / Passagem Para a India" (1984). Mas "Lawrence of Arabia", que dirigiu aos 54 anos, permanecerá sem dúvida como a sua coroa de glória. 



OSCAR DE MELHOR FOTOGRAFIA: FREDIE YOUNG



Omar Sharif, um dos emblemáticos actores do filme, interroga-se ainda hoje como foi possível conseguir realizar-se tal empreendimento: «imagino-me no papel do produtor do filme e vir alguém dizer-me que queria investir uma montanha de dinheiro num projeto de cerca de quatro horas, sem estrelas, sem mulheres e nenhuma história de amor, sem grande ação também e inteiramente passado no deserto, por entre árabes e camelos... Com certeza que levava uma corrida!». Mas felizmente tal não aconteceu com David Lean, por culpa talvez dos 7 Oscars que o seu último filme também recebera.

 "Lawrence of Arabia" é um filme que, pelo menos uma vez, deveria ser visto no grande écran de uma sala escura (este ano passou uma cópia digital numa das salas do El Corte Inglês). Só assim se poderá usufruir de toda a sua grandiosidade. Hoje considero-me um privilegiado por ter vivido esse momento único no início da década de 70, quando da reposição do filme em todo o mundo. Apesar de já então se encontrar amputado em cerca de meia hora. Mas mesmo assim, assistir ao vivo, no esplendor dos 70 mm de uma grande sala de cinema (hoje em dia uma impossibilidade estabelecida) foi sem dúvida uma excitante e inesquecível experiência.

Anthony Quinn, Peter O'Toole e Omar Sharif
É que "Lawrence of Arabia" não é apenas um filme biográfico ou de aventuras, muito embora contenha esses elementos. Acima de tudo, é um filme que usa o deserto como palco de emoções, cativando os espectadores a ponto deles se entregarem totalmente ao puro prazer sensorial de ver e sentir o impacto do vento ou do sol abrasador nas dunas. E isto é algo que não se pode descrever por palavras, tal como não se pode explicar o amor que por vezes sentimos por uma pessoa em especial; e neste caso é o deserto essa outra pessoa, o objecto da nossa paixão.


Acrescente-se agora a memorável música de Maurice Jarre e temos essa paixão elevada aos píncaros do sublime e do êxtase. É esta a razão pela qual as pessoas não se lembram do filme por elementos narrativos; recordam antes uma série de momentos visuais, cuja magia perdura na memória do filme: o apagar de um fósforo a originar o nascer do sol no deserto; a aproximação de uma silhueta no horizonte, como se de uma miragem se tratasse; a travessia do deserto de Nefud; o espectacular ataque a Akaba; o descarrilamento do comboio; a entrada de Lawrence no bar dos oficiais..., e a sequência mais bela - o resgate de Gasim por Lawrence - aqui tudo se conjuga na perfeição. Oberve-se a importância capital da música: começa titubeante, indecisa, a ilustrar a dúvida de Farraj sobre a veracidade da silhueta que mal se distingue ao longe (será ou não uma miragem mais?).
Depois, e à medida que a dúvida se transforma em certeza, a música vai crescendo também, até acompanhar o galope desenfreado das duas montadas e os gritos de alegria dos dois homens na iminência do reencontro. É por cenas destas, sem qualquer diálogo, puramente cinemática, que se reconhece a genialidade dos grandes artistas. E David Lean foi sem dúvida um dos maiores.

CARTAZES DO FILME 






















Uma referência final a Peter O'Toole, que tem aqui um início fulgurante de carreira, com um papel à medida de toda uma vida. Este Irlandês nascido em County Galway (a 2 de Agosto de 1932) mas educado em Leeds, Inglaterra, teve na década de 60 os seus anos de glória no cinema, depois de doze anos passados nos palcos de teatros, nos quais se iniciou com apenas 17 anos; frequentou a Royal Academy of Dramatic Arts, onde teve por colegas Alan Bates, Richard Harris ou Albert Finney. Filmes como "Becket" (1964), "Lord Jim" (1965), "What's New, Pussycat / Que há de Novo, Gatinha?" (1965), "How To Steel a Million / Como Roubar Um Milhão" (1966), "Night of the Generals / A Noite dos Generais" (1969), "The Lion in Winter / O Leão no Inverno" (1969), "Goodbye Mr. Chips / Adeus Mr. Chips" (1969) ou ainda "Man of La Mancha / O Homem da Mancha" (1972), ficarão para sempre associados às magníficas interpretações de O'Toole, que conseguia estar à vontade em qualquer tipo de papel. Nomeado 8 vezes para o Oscar, nunca conseguiu levar para a casa a almejada estatueta, apesar de ser considerado um dos melhores actores da sua geração. Nos Globos de Ouro a sorte sorriu-lhe mais: ganhou aquele prêmio por três vezes (nos filmes "Becket", "The Lion in Winter" e "Goodbye Mr. Chips"), num total de oito nomeações. Na déada de 70 problemas de alcool quase que lhe arruinaram de vez a carreira e a própria vida. Conseguiu sobreviver, apesar dos múltiplos tratamentos a que foi submetido lhe terem acabado para sempre com a beleza da juventude, tão bem captada naqueles filmes.
CRÉDITO DO TEXTO: O_RATO_CINÉFILO



CARTAZES DO FILME
CRÉDITO


















CURIOSIDADES
- Quando o filme estreou, em Dezembro de 62, apresentava uma metragem original de 222 minutos. Pouco tempo depois foram cortados cerca de 20 minutos. Em 1971, quando da primeira reposição, mais 15 minutos foram retirados, sendo esta a versão que foi sendo apresentada nas duas décadas seguintes. Apenas em 1989 se procedeu a uma restauração do filme, que ficou com uma metragem final de 216 minutos. Esta restauração foi levada a cabo por Robert A. Harris, com a colaboração de Martin Scorsese e Steven Spielberg, além do próprio David Lean. Para a gravação de novos diálogos (devido ao mau estado ou mesmo à inexistência dos mesmos em cenas adicionais descobertas) foram de novo chamados os actores principais.

- David Lean pretendia o actor Albert Finney para o papel de Lawrence; mas Katharine Hepburn convenceu o produtor Sam Spiegel a contratar Peter O'Toole.

- Apesar da sua longa duração, é um dos raros filmes onde não existe qualquer papel falado por uma mulher.

- Enquanto rodava as cenas de sabotagem dos comboios, a equipa de filmagens encontrou destroços dos verdadeiros comboios que Lawrence fez explodir.

- David Lean tem uma curta aparição como o motociclista que grita para Lawrence "Who are you?", do outro lado do canal do Suez.

- Marlon Brando não aceitou o papel de Lawrence por se ter comprometido em desempenhar Fletcher Christian no filme "Mutiny on the Bounty".

- A interpretação de Peter O'Toole foi considerada pela revista Premiere o melhor desempenho de todos os tempos.

- Em 2007 o American Film Institute classificou "Lawrence of Arabia" no 5º lugar da lista dos Melhores Filmes de Sempre (e em nº 1 do género épico)





LAWRENCE DA ARÁBIA (Lawrence of Arabia) - 1962

SINOPSE
Em 1935, quando pilotava sua motocicleta, T.E.Lawrence (Peter O'Toole) morre em um acidente e, em seu funeral, é lembrado de várias formas. Deste momento em diante, em flashback, conhecemos a história de um tenente do Exército Inglês no Norte da África, que durante a 1ª Guerra Mundial, insatisfeito em colorir mapas, aceita uma missão como observador na atual Arábia Saudita e acaba colaborando de forma decisiva para a união das tribos árabes contra os turcos.


ELENCO E FICHA TÉCNICA
Elenco: Peter O'Toole, Alec Guinness, 
Anthony Quinn, Jack Hawkins, 
Omar Sharif, José Ferrer, Anthony Quayle, 
Claude Rains, Arthur Kennedy
Direção: David Lean
Music by Maurice Jarre
Performed by London Philharmonic Orchestra
Conducted by Maurice Jarre
Roteiro: Robert Bolt, Michael Wilson
Gênero: Aventura , Histórico , Biografia 
Origem e Ano:  Reino Unido , EUA - 1962
Fotografia: Freddie Young
Produção: Sam Spiegel


PRÊMIOS E INDICAÇÕES
OSCAR - 1963
Melhor Filme
Melhor Diretor - David Lean
Melhor Fotografia
Melhor Direção de Arte
Melhor Edição
Melhor Música
Melhor Som
Também indicado
Melhor Ator - Peter O'Toole
Melhor Ator Coadjuvante - Omar Sharif
Melhor Roteiro Adaptado


BAFTA - 1963
Melhor Filme
Melhor Filme Britânico
Melhor Roteiro Britânico
Melhor Ator Britânico - Peter O'Toole
Também indicado
Melhor Ator Estrangeiro - Anthony Quinn


GLOBO DE OURO - 1963
Melhor Filme - Drama
Melhor Diretor - David Lean
Melhor Fotografia
Melhor Ator Coadjuvante - Omar Sharif
Também Indicado
Melhor Ator - Drama - Anthony Quinn
Melhor Ator - Drama - Peter O'Toole
Melhor Trilha Sonora




QUEM FOI LAWRENCE DA ARÁBIA?
“Todos os homens sonham, mas não da mesma forma. Os que sonham de noite, nos recessos poeirentos das suas mentes, acordam de manhã para verem que tudo, afinal, não passava de vaidade. Mas os que sonham acordados, esses são homens perigosos, pois realizam os seus sonhos de olhos abertos, tornando-os possíveis. T. E. Lawrence, o Lawrence da Arábia.
Foi um grande aventureiro britânico do início do século 20, um misto de arqueólogo, estrategista militar e escritor. Sua vida foi tão movimentada que acabou se transformando em um filme de grande sucesso na década de 60. Thomas Edward Lawrence, ou simplesmente T.E. Lawrence, iniciou a trajetória que o tornaria mundialmente famoso entre 1911 e 1914, período em que trabalhou numa expedição arqueológica no Oriente Médio. Ele aproveitou a oportunidade para aprender árabe e conhecer os costumes da região. Quando a Primeira Guerra Mundial começou, em 1914, ele se alistou nas Forças Armadas e, devido aos seus conhecimentos sobre o Egito e o Oriente Médio, passou a fornecer informações estratégicas para o Exército britânico. Seu principal papel na guerra, porém, foi outro. Lawrence ajudou a enfraquecer o Império Turco-Otomano, inimigo dos ingleses, incentivando tribos árabes a se rebelarem contra os turcos. Nem tudo, porém, saiu como ele queria. Em 1917, o aventureiro foi capturado pelos otomanos e, antes de conseguir escapar, foi torturado e sofreu violências sexuais. Ao final da guerra, em 1918, traumatizado por suas experiências e desiludido com o tratamento dado pelos ingleses aos seus velhos aliados árabes, recusou condecorações e abandonou o Exército. Durante a década de 20, Lawrence se dedicou a escrever suas memórias, organizadas no livro Os Sete Pilares da Sabedoria. Embora a obra seja um pouco inexata e fantasiosa em vários pontos, ela adquiriu grande importância histórica e artística. "É um dos poucos trabalhos escritos em inglês no século 20 a apresentar uma visão épica de personagens contemporâneos, revelando as complexas transformações por que passou seu autor", diz o crítico e historiador Stanley Weintraub, da Universidade Estadual da Pensilvânia, nos Estados Unidos. Lawrence morreu em 19 de maio de 1935, aos 47 anos, em conseqüência dos ferimentos que sofrera seis dias antes, num acidente de moto.
Árabe por opção. Para enfrentar os turcos, ele passou a viver como seus aliados no Oriente.
Durante a Primeira Guerra Mundial, o Império Turco-Otomano, aliado da Alemanha e inimigo dos ingleses, ocupava boa parte do Oriente Médio. Isso colocava em risco o funcionamento do canal de Suez, no Egito, importante ligação marítima usada pelos britânicos para chegar às suas colônias asiáticas. Como várias tribos árabes estavam insatisfeitas em ver suas terras sob o controle turco, os ingleses utilizaram essa revolta para instigar os árabes contra os invasores. T.E. Lawrence foi mandado ao Oriente Médio para fornecer uma pequena ajuda militar às tribos. Transformado em assessor do principal chefe árabe, Hussein ibn Ali, o aventureiro inglês comandou importantes ataques da guerrilha contra os turcos. A imprensa, então, passou a se referir ao aventureiro como Lawrence da Arábia. Ele de fato passou a se vestir como seus aliados e a admirar o povo que lutava ao seu lado. A revolta árabe enfraqueceu decisivamente o Império Turco. Após o fim da guerra, porém, os ingleses e as outras potências européias vitoriosas dividiram o mapa do Oriente Médio de acordo com seus interesses, ignorando as reivindicações das tribos árabes, apesar das promessas de autonomia que haviam feito a elas.
CRÉDITO DO TEXTO: mundoestranho.abril


9 de novembro de 2014

Último Tango em Paris, (1972)




TRILHA ORIGINAL
The Tango (Gato Barbieri)
Gato Barbieri, nascido em 1934 numa família de músicos Argentinos, só em 1972 que realmente experimentou a fama ao compor a trilha para o filme , "Último Tango em Paris". O disco da trilha ganhou um Grammy e rendeu convites para os festivais de Montreux, Bologna, Berlin, Newport e outros.


Último Tango em Paris (Last Tango in Paris) - 1972

Um filme no museu de arte.
A sequência mais famosa de “Último Tango em Paris”, conhecida mundialmente como “cena da manteiga”, poderá deixar aqueles que virem a obra de Bernardo Bertolucci pela primeira vez um tanto decepcionados. Sim, pois se estiverem esperando uma cena de alta voltagem erótica, como muito se alardeia por aí, não será exatamente isso que verão. Ao assistir dita sequência a sensação que me veio foi a de estar presenciando um ato de violência sexual, passando até longe de nuances verdadeiramente sensuais que estimulem o espectador a desejos eróticos ou algo que o valha. Ou seja, muito mais do que sexo, o que vemos é uma agressão. E é possível que somente nos tempos de hoje, onde sexualidade e erotismo estão cada vez mais explícitos até mesmo na televisão, tenhamos uma compreensão melhor, mais apurada, deste longa de 1972 que se tornou um dos mais influentes do cinema ao longo das últimas décadas.

Maria Schneider e Marlon Brando 

Quando foi lançado, vendo com os olhos contemporâneos, observo que “Ultimo Tango a Parigi” chamou a atenção mais pela superfície do que pela sua essência. Afinal, as cenas de nudez e sexo, banais para os padrões atuais, eram fortes para os anos 70. Pelo menos no cinema mainstream, contando com um astro do porte de Marlon Brando, jamais havia sido visto algo tão voluptuoso e escancarado, tanto que lhe rendeu proibição em vários países, entre eles o Brasil, onde só foi liberado pela censura em 1979, sete anos após seu lançamento na Europa. Mesmo em países como Itália e EUA, sua vida não foi fácil, sendo frequentemente exibido apenas depois de passar por uma severa tesourada. Esse “auê” todo teve como resultado a impressão de que o filme de Bertolucci é sobre sexo, mas não é. É antes de tudo um ensaio sobre solidão, vazio existencial e a violência que permeia as relações humanas.


O filme também representa um guinada na carreira de Bertolucci, até então com a imagem muito associada a cinema político em decorrência de obras como “Antes da Revolução” (Prima Della Rivoluzione, 1964) e “O Conformista” (Il Conformista, 1970). Aqui, ele expande seus horizontes para abordagens mais intimistas, pessoais, muito embora não se possa deixar de vislumbrar em “Último Tango em Paris” um manifesto da contracultura e da revolução sexual iniciada nos anos 60. Bertolucci consegue, ademais, aprimorar a sua mise-en-scène, a qual resulta em uma espécie de barroco modernista, principalmente quando lembramos da fotografia de Vittorio Storaro. Colaborador habitual de Bertolucci (foram parceiros em 8 longas), Storaro realizou uma fotografia declaradamente inspirada na arte do britânico Francis Bacon (algumas de suas obras, inclusive, são exibidas durante os créditos iniciais), atribuindo à imagens uma saturação em tons de sépia que influenciaria ao longo dos anos a imagética do chamado “cinema de arte” europeu. Aliás, a própria ideia de “cinema de arte” existente atualmente foi em boa parte criada a partir deste filme. Não é por acaso que uma parcela significativa do cinema dessa vertente no velho continente invista tanto no erotismo (obtendo maior ou menor sucesso) como forma de investigar as relações humanas (o ápice dessa tendência ocorreu no fim dos anos 80/início dos 90). Outro elemento memorável é a música de Gato Barbieri, responsável pelos tangos que dão o título ao longa-metragem. A associação bem acabada de imagem e sons é mesmo um dos seus trunfos e também influenciaria toda uma geração posterior de diretores.

Maria Schneider

O roteiro, concebido pelo próprio Bertolucci, teve colaborações do escritor Alberto Moravia e da também cineasta Agnès Varda, apresentando-se de antemão como inovador por narrar uma história que se passa em Paris sem quase mostrar nada da Cidade Luz. Pelo contrário. Sua ambientação é claustrofóbica, com a maior parcela das ações transcorrendo em interiores, principalmente o apartamento onde os personagens de Brando e Maria Schneider se encontram. Ele interpreta Paul, um norte-americano de meia idade que acaba de se tornar viúvo devido ao suicídio de sua esposa. Casualmente ele conhece Jeanne (Schneider), uma jovem atriz que se encontra noiva de um diretor de cinema (Jean-Pierre Léaud, o alter-ego de François Truffaut e uma das figuras mais queridas da Nouvelle Vague) e procura um apartamento. Sem resistirem à atração mútua, eles passam a se encontrar regularmente em um apartamento sombrio onde, sem jamais dizerem os próprios nomes, mantêm relações sexuais como forma de preencher seu vazio e de expurgar suas culpas e medos.

Marlon Brando e Maria Schneider 

Como é possível perceber, Bertolucci empreende uma jornada de confronto entre Eros e Tânatos, entre a morte e a força pulsante da vida traduzida na forma do sexo. Mas esta é somente um das possíveis leituras dentre as várias possibilidades oferecidas por esta obra de múltiplas camadas, onde cada sequência se mostra como essencial à sua compreensão. Nada nele é gratuito. Até mesmo a frequente nudez de Maria Schneider não surge como uma maneira barata de atrair a atenção do espectador, pois que o seu contraste com um Brando quase sempre vestido parece sugerir que Jeanne está muito mais aberta, exposta e desejosa de novas vivências do que Paul, um homem que se encontra na permanente fuga de uma vida permeada por traumas, alguns explícitos (o suicídio da esposa) e outros apenas sugeridos (teria sido vítima de abuso sexual no passado?). Vale dizer aqui que, para a composição de personagens tão densos a presença de atores de peso seria fundamental e a escolha de Brando não poderia ser mais perfeita. Só mesmo ele, com sua famosa postura de ator-autor, para alcançar tanta entrega a um personagem responsável por algumas da cenas mais densas da história do cinema, tais como o famoso monólogo que realiza diante do corpo de sua falecida esposa. Uma sequência que chega a ser constrangedora para o público, tamanha a carga de sentimentos jogados ao ar, como se estivéssemos diante de uma confissão íntima a que, na verdade, não deveríamos estar assistindo. Schneider também está ótima com a sua aura juvenil, responsável pelo lado “eros” do casal, em contraposição ao “tânatos” de Paul. É uma pena que, de certa forma, sua carreira tenha sido excessivamente marcada por este papel, permanecendo ao longo das décadas posteriores quase apenas lembrada por ter realizado a tal “cena da manteiga”.


Alguns afirmam que Bertolucci teria usado até mesmo teorias de Georges Bataille e outros estudiosos para a elaboração dos diálogos e personagens. Verdade ou não, é impossível negar um fato: ele conseguiu criar um película que realmente atinge o status de “arte”, um longa perturbador, mas fundamental na mesma medida. Jean-Luc Godard já dizia que “cultura é a regra, a arte é a exceção”, sendo que “Último Tango em Paris” indubitavelmente figura entre tais “exceções”. Uma obra cinematográfica que nos atinge tal como uma pintura, afetando o nosso inconsciente, mesmo que no plano consciente possamos eventualmente rejeitar a sua forma. Em outras palavras: um filme digno de ser exposto no museu de arte moderna., ao lado de obras de outros grandes artistas.



CURIOSIDADE
Marlon Brando não usava maquiagem e praticamente improvisou todas as suas falas, fazendo com que o personagem se confundisse com o ator real. Lançado em 1972, o filme teve sua exibição proibida no Brasil até 1979 pelas cenas consideradas, na época, muito chocantes.



CARTAZES DO FILME
CRÉDITO






OUTRA VERSÃO PARA O TEMA 
Last Tango In Paris (Marlena Shaw)


Último Tango em Paris (Ultimo Tango a Parigi) - 1972

SINOPSE
Enquanto procura um apartamento em Paris, uma bela jovem (Maria Schneider) conhece um americano (Marlon Brando), cuja esposa recentemente cometeu suicídio. Instantaneamente um deseja o outro ardentemente e iniciam naquele momento um tórrido affair. Eles combinam que não revelariam nada de suas vidas, nem mesmo seus nomes, sendo que o objetivo dos encontros seria basicamente sexo. Mas gradativamente os acontecimentos vão fugindo do controle de ambos.


ELENCO E FICHA TÉCNICA 
Elenco: Marlon Brando, Maria Schneider,
Jean-Pierre Léaud, Maria Michi
Direção: Bernardo Bertolucci
Roteiro: Bernardo Bertolucci e Franco Arcalli
Produção: Alberto Grimaldi
Fotografia: Vittorio Storaro
Trilha Sonora: Gato Barbieri
Gênero: Drama/Romance
Origem/Ano: França/Itália - 1972 



PRÊMIOS
OSCAR 1974
Indicado:
Melhor Ator - Marlon Brando
Melhor Diretor - Bernardo Bertolucci

GLOBO DE OURO 1974
Indicado:
Melhor Diretor - Bernardo Bertolucci
Melhor Filme - Drama

BAFTA Awards 1974
Indicado:
Melhor Ator - Marlon Brando

– Sindicato Italiano dos Jornalistas de Filmes: Diretor.
– Crítica de Nova York: Ator (Marlon Brando).
– David di Donatello Awards: Prêmio Especial (Maria Schneider).



Bertolucci revela bastidores da 'cena da manteiga' de 'O último tango em Paris'
Maria Schneider teria se sentido usada pelo diretor

O cineasta italiano Bernardo Bertolucci fez uma declaração chocante em Paris, na qual admite sua culpa em relação à mágoa da atriz Maria Schneider, protagonista de "O Ultimo Tango em Paris" (1972).
O cineasta se referiu a "cena da manteiga" entre Schneider e [o ator norte-americano] Marlon Brando, censurada na época por ser muito escandalosa, que foi o motivo da ruptura da atriz com Bertolucci.
"A idéia de como gravar esta cena aconteceu comigo e Marlon Brando enquanto estávamos tomando café da manhã sentados no carpete do apartamento parisiense e em determinado momento ele começou a passar manteiga em uma baguete, logo nos demos uma olhada de cúmplices. Decidimos não dizer nada para Maria para ter uma cena mais realística", confessou Bertolucci. Ao ser questionado se não seria "imoral nos dias de hoje" se comportar desta forma com seus atores, o diretor respondeu irônico "não ser um homem de hoje".
"Maria queria fazer cinema a qualquer custo, era muito nova, tinha apenas vinte anos na época do filme. Em toda a sua vida ficou muito rancorosa em relação a mim e a este filme. Rancorosa porque se sentiu usada. Infelizmente é o que normalmente acontece quando se está dentro de uma aventura que não se compreende. Ela tinha uma inteligência instintiva. Não tinha meios para filtrar aquilo que lhe aconteceu", disse ele.
"Talvez tenha sido culpado por Maria Schneider, mas não poderão me condenar por isso", concluiu o cineasta.
Apesar do sucesso mundial que a atriz conseguiu com o filme, Schneider declarou que o filme fora o único arrependimento de sua vida e várias vezes disse que a famosa cena de sexo anal não estava no roteiro e se pudesse não a teria gravado porque a considerou uma manipulação, uma violência e uma humilhação.
A atriz sofreu problemas psicológicos e anos de dependência química, e nunca mais gravou cenas de nudez em toda a sua carreira. Apenas após sua morte, em 2011, com 58 anos, depois de uma grave doença, Bertolucci admitiu, pela primeira vez, que gostaria de ter "lhe pedido desculpas".(Agência ANSA - 17/09/2013)




Perdidos na Noite, (1969)




TRILHA ORIGINAL
Midnight Cowboy (John Barry)
(Famous Harmonica:Toots Thielemans)


Perdidos na Noite (Midnight Cowboy) - 1969

Filme de 1969, do diretor inglês John Schlessinger, “Perdidos na Noite” mudou a história do cinema para sempre. Na época havia certa luta entre a Velha Hollywood – dos filmes de John Wayne, Bob Hope, Frank Sinatra, com seus roteiros de ‘heróis americanos’- e a Nova Hollywood – que queria mostrar a América como ela era, dura, fria, egoísta, com seus roteiros modernos e desafiadores. John Schlessinger, inglês culto, queria fazer o filme, baseado em romance que lera recentemente, mas não havia clima para se fazer um filme desses. Um estúdio, mais eclético e aberto, que poderia topar seria a United Artists, onde havia um diretor de produção jovem, mas considerado de grande visão. Pudera, ele havia adquirido os direitos dos filmes dos Beatles, da série A Pantera Cor de Rosa e da série James Bond... Chamava-se David Picker e era, ainda por cima, sobrinho de um dos donos do estúdio a quem dera fortunas da renda desses filmes citados. Picker admirava o diretor por um filme anterior - Darling, A Que Amou Demais, com Julie Christie, que ganhou o Oscar de melhor atriz (um grande filme!)- e acabaram conversando sobre a possibilidade de realizar o projeto difícil na visão de quase todo mundo em Hollywood.

Jon Voight e Dustin Hoffman

Detalhes: Hellman, o principal produtor, havia se separado da mulher e perdera o direito de visitar os filhos; Schlessinger fez um filme (Longe Desse Insensato Mundo, excelente!) que, na época, foi recebido como um fracasso; e Waldo Salt, o roteirista final, havia se afastado da família, vítima do Comitê de Investigação de Atividades Antiamericanas, proibido de trabalhar por mais de dez anos, se trancara num hotel onde se afogava na vodka todos os dias... E Midnight Cowboy foi o resultado do esforço desses três seres humanos em absoluta decadência momentânea. Pode-se dizer que uma “tempestade perfeita” gerou o filme.


Mesmo com o “toque de Midas” de David Picker, e a garantia que o filme seria de grande impacto, a produção conseguiu apenas um milhão de dólares, que era pouco dinheiro mesmo há 40 anos. Mas eles toparam, era melhor do que nada. Um dos produtores que se associaram falou de um jovem ator que fazia uma peça off-off-off-Broadway e chamava-se Dustin Hoffman. Apresentado ao projeto, o ator aceitou no ato. Mas o projeto se arrastava por falta de dinheiro. Não convencido a fazer o texto inteiro do livro, o diretor e o roteirista procuraram uma forma de fazer com que o passado do jovem texano fosse mostrado (ele explica muita coisa no filme, não poderia ser simplesmente ignorado e nem cortado fora). Então inventaram algo que chamaram de ‘flash present’, ou seja, o passado viria à memória do cowboy, assim permitindo que o filme fluísse.

Dustin Hoffman e Jon Voight

Com a demora, Dustin Hoffman recebeu o convite para fazer outro filme: A Primeira Noite de Um Homem, de Mike Nichols, que foi um tremendo sucesso. Então, aquele ator off-off-off Broadway não era mais um qualquer, mas sim uma estrela de grandeza ascendente e o seu salário não custaria o que haviam tratado antes... Mas Hoffman, que queria fazer teatro e só teatro, mas condescendia em fazer cinema para ganhar bom dinheiro e ficar conhecido, manteve a sua palavra e não alterou o seu cachê. Ele mesmo conta que ele, Gene Hackman, Robert Duvall, Marlon Brando e outros eram “totalmente contra o sucesso”, rs.

Mas o diretor, ao ver Hoffman como o engomadinho mauricinho de A Primeira Noite de Um Homem, não queria mais o ator para fazer o vagabundo sujo e doente. Então Hoffman o convidou para um café, no final da tarde, num bar que era frequentado pelas pessoas mais esquisitas de New York. Dustin Hoffman ficou dois dias sem fazer a barba e tomar banho, arrumou uma capa suja, calçou sapatos sujos e velhos, penteou os cabelos sebosos para trás e apareceu na frente de Schlessinger... O diretor disse “já entendi, o personagem é seu.” Hoffman prometeu perder peso e ficar sem tomar sol por muitas semanas.

Jon Voight
Um filme que conta a história de um garoto de programa, de sexualidade ambígua, que sai do Texas para New York a fim de viver à custa das mulheres nova-iorquinas mal amadas, carentes de atenção e de sexo, e que se junta a um vagabundo doente, morador de rua, que vive de pequenos golpes, com uma leve sugestão de amor entre os dois, mostrando orgias da alta roda, do mundo artístico. Não poderia ser aceito facilmente...

Para o papel do cowboy texano a diretora de elenco (profissão que engatinhava na época) sugeriu um jovem bonito, alto, louro e bom ator, que vira numa premiada montagem off-Broadway. Tratava-se do jovem Jon Voight (pai de Angelina Jolie). Quando se reuniram pela primeira vez, Dustin Hoffman morreu de inveja do garotão bonitão, e Jon Voight morreu de inveja da carreira já sólida do jovem Hoffman.  Mas a escolha do diretor para o papel do texano foi Michael Sarrazin, que resolveu endurecer e pediu o triplo do dinheiro oferecido... Desligaram o telefone na cara dele e se viraram para Jon Voight.


O diretor de fotografia precisava ser alguém livre dos vícios e manias dos profissionais de então. Certa noite Roman Polanski ligou para Schlessinger e sugeriu um amigo, diretor de fotografia dos seus primeiros filmes, que viera fugido da Polônia para os EUA. Adam Hollender, o amigo de Polanski, imprimiu ao filme um caráter quase experimental. É de se notar o seu trabalho filmando as multidões nas ruas de NY. Não parece um filme, mas sim um documentário. O diretor, o roteirista e o produtor estavam trabalhando há três anos no filme, e ainda não haviam filmado uma única tomada. Pediram aumento do orçamento de um milhão para três milhões, mas o estúdio só autorizou dois milhões e trezentos mil, o que foi uma festa para eles. Devido a demora, eles passaram a incorporar no filme algumas cenas estranhas e malucas que viam todos os dias nas ruas de NY.

 
Houve quem reclamasse da cena onde aparece um vagabundo bêbado deitado na frente da joalheria Thiffany’s, mas eles haviam filmado a cena real, depois incluída no filme, pois sabiam que iriam achar que era alguma crítica de costumes contra a joalheria. A cena da mulher drogada que passa um rato pelo rosto do filho foi presenciada pelo diretor, roteirista e produtor, em um café, em plena madrugada.



CURIOSIDADES
 - A namoradinha do texano, que aparece nas suas lembranças, é Jennifer Salt, a filha do roteirista que, no futuro, virou produtora de séries como Nip/Tuck e outras;

 - Schlessinger pedia que os atores caminhassem por passarelas e pontes e os filmava de longe. Os dois não entendiam nada do que estava acontecendo e nem a razão dessas caminhadas. Ambos, preocupados, começaram a criar partes dos seus personagens. Dustin colocou pedras no sapato para mancar sempre do mesmo jeito, para não haver diferença entre um mancar e outro;

  - Dustin precisava tossir muito por causa da doença do seu personagem, mas temendo fazer algo errado, começou a tossir sem parar e terminou por vomitar nas botas do cowboy, sem querer. A cena foi mantida no filme. Note a surpresa do personagem do cowboy quando diz “-Você precisava fazer isto!?” Essa fala é de Jon Voight, pê da vida com Dustin;
 
 - O terno branco que Dustin usa foi encontrado numa lata de lixo perto do metrô;
 
 - Robert Balaban, então um estudante de cinema (era sobrinho do ex-presidente da Paramount) faz a cena do banheiro do cinema.

 - A cena na qual Dustin Hoffman dá socos no capô de um táxi é real. Como a produção não tinha dinheiro para fechar uma rua de Manhattan, o diretor colocou a câmera dentro de um furgão, escondida, e pedia que os dois viessem caminhando dentro do tempo certo para chegarem à esquina quando o sinal para pedestres abre. Fizeram a cena dezena de vezes. Os atores já estavam irritados, cansados, quando, por milagre, conseguem chegar a tempo –ou quase a tempo- e lá vem o táxi que quase atropela os dois. A reação de Dustin Hoffman foi uma explosão de irritação;

 - A cena da festa-bacanal é real. Foi organizada por Andy Wharol que convidou diversos amigos e amigas para participarem. Lá estão ícones da contracultura da época como Viva, Ultra Violet, International Velvet, Taylor Mead e outros. O próprio Wharol não pôde ir pois havia sido baleado uma semana antes. As drogas são reais e o clima é muito louco;

  - Brenda Vaccaro, a grã fina que transa com o cowboy, não queria ficar nua na cena de sexo (vejam só como as coisas eram diferentes...). Uma amiga emprestou um casaco de pele de raposa e foi o que ela usou, sem nada por baixo;

  - O diretor, na fase final da montagem, entrou em crise e dizia que havia filmado um monte de merda e que ninguém, em seu juízo normal, pagaria para ver aquela porcaria;

 - A projeção feita para a diretoria do estúdio terminou com um silêncio total. Um dos donos do estúdio bateu no ombro do diretor e disse “é uma obra-prima!”;

 - Dustin Hoffman usou pedras no seu sapato durante toda filmagem para que seu personagem (que é manco) ficasse convincente em todas as cenas.

  - A participação de Sylvia Miles é a mais curta jamais indicada ao Oscar. Ela aparece em cena por apenas 6 minutos.

 - O filme tem dois temas que viraram sucesso imediato Midnight Cowboy e Everibody’s Talking, o solo de gaita é de Toots Thielemans;
  
 - A revista Variety escreveu que o filme era “constantemente sórdido”, um famoso crítico de cinema escreveu que o filme “era um desfilar de gente gritando, rastejando e vomitando...”;
 
 - Na estreia do filme foram dez minutos de aplausos da plateia ao final;

 - Um amigo de Jon Voight ligou para ele e disse que era uma loucura de gente querendo assistir ao filme. As filas davam voltas e voltas, se estendendo até 14 quarteirões de distância do cinema. O filme arrecadou o equivalente a 200 milhões de dólares no dinheiro de hoje (custou pouco mais que 2.300 milhões);
 
 - Na noite do Oscar, sem acreditar em qualquer resultado favorável, só o produtor compareceu. O filme ganhou os Oscars de melhor diretor, melhor roteiro adaptado e melhor filme. Jon Voight estava presente para apresentar o prêmio para o melhor roteiro em companhia de Fred Astaire. No escuro, no fundo do palco, enquanto esperavam ser chamados, Fred Astaire cumprimentou Jon Voight e disse “- Parabéns, foi um belo trabalho!” E Jon Voight entendeu que eram duas gerações de artistas que ali estavam, com admiração e um enorme respeito mútuo.
CRÉDITO DO TEXTO: Marco Antonio R. de Castro/viagemdecinema.blogspot




CARTAZES DO FILME 





Everybodys Talking/Nilsson (Fred Neil)
(No filme aparecem, como temas as músicas (maioria) de John Berry e também
 Nilsson com essa música, outro clássico da produção)



Perdidos na Noite (Midnight Cowboy) - 1969

SINOPSE
Joe Buck (Voight), um vaqueiro bonitão do Texas, está convenciso de que é a salvação das mulheres solitárias de Nova Iorque, e vai tentar a sorte na Big Apple. O problema é que sua abastada cliente acaba não aparecendo - e a única fortuna que encontra é a amizade de Ratso Rizzo (Hoffman), um homem cheio de grandes sonhos, desleixado e que vive à custa dos outros. Excluídos da sociedade, os dois acabam tendo uma ligação pouco promissora, que transcende seus sonhos inviáveis e seus planos de enriquecimento rápido, e transforma Perdidos Na Noite num filme único, que proporciona a mesma emoção ao público daquela causada no seu lançamento. (Premiere Magazine).


ELENCO E FICHA TÉCNICA
Dustin Hoffman, Jon Voight, Sylvia Miles, 
John McGiver, Brenda Vaccaro, Barnard Hughes, 
Ruth White, Jennifer Salt e  Gary Owes.
Diretor: John Schlesinger.
Roteiro: Waldo Salt, baseado em livro
 de James Leo Herlihy.
Produção: Jerome Hellman
País e Ano: EUA, 1969
Música: John Barry e Outros.

4 de novembro de 2014

Papillon, (1973)





TRILHA SONORA
 Tema para PAPILLON (Jerry Goldsmith)

Em relação à técnica, é lícito citar a trilha sonora que ganhou bastante destaque naquele tempo – e prêmios, inclusive. O tema do longa foi indicado ao Oscar e é obra de Jerry Goldsmith, responsável por boa parte da trilha sonora de Jornada nas Estrelas e de “Allan Quatermain e a Cidade de Ouro Perdido”. É uma trilha leve e dramática que caiu no gosto do público!




Papillon - 1973

Um dos filmes mais adoráveis que já tive o prazer de assistir. Papillon é um filme comovente, ao menos aos meus olhos, porque, em primeiro lugar, traz à tela um ator que estimo muito, Steve McQueen, que tinha o fino talento de personificar como ninguém sujeitos obcecados. Seja um piloto, como em “24 Horas de Le Mans”, seja um “tira” linha dura como em “Bullit”, ou como um criminoso deportado para uma ilha penal esquecida na América Central, cuja única e inamovível ideia é a fuga.

 Dustin Hoffman

Considerando que “Papillon” tem já quase 40 anos é improvável que você tenha tropeçado nele na Sessão da Tarde. Por outro lado, com bastante probabilidade, deve ter visto “Um Sonho de Liberdade”, com Tim Robbins e Morgam Freeman. É quase a mesma coisa: um sujeito preso, uma amizade que floresce na cadeia e a luta diária desse sujeito para não enlouquecer e fugir.

Mas as semelhanças param por aí. Papillon é um assassino condenado a prisão perpétua na inescapável “Ilha do Diabo”, uma colônia penal no litoral da Guiana Francesa. A história se passa nos anos 1930 e o registro consta do livro do verdadeiro Papillon, Henri Charrière.

Steve McQueen veste o personagem com grande simplicidade. Foram praticamente feitos um para o outro. A cada tentativa de fuga que acaba em malogro, Papillon tenta novamente, e novamente, e novamente. Se submete a uma solitária onde a luz não entra, em um cárcere desumano que dura dois anos. Mas sai de lá sempre com a ideia fixa, a fuga, a liberdade. O corpo vai debilitando, a idade acumulando e o tempo passando, mas Papillon é como uma força da natureza: a liberdade para ele é um imã e ele não consegue resistir. Papillon fora enviado à prisão com uma sentença de 20 anos que suas numerosas tentativas de fuga aumentaram muito.

Dustin Hoffman e Steve McQueen

É impressionante a atuação de Steve McQueen neste que é um dos grandes trabalhos de sua carreira. Sua postura ao personificar cada estágio do crescimento e vida da personagem não destoa em um só instante da noção de claustro que o filme exige do espectador. O filme, para alguns, é um pouco longo demais, mas mesmo a duração da fita que pode ser considerada excessiva, deve ser relevada em virtude do custo/benefício do filme, de sua história e de suas personagens.

“Papillon” não seria o filme que é sem a presença de um jovem Dustin Hoffman. O ator vive um falsário muito habilidoso, que frágil diante das inclemências da “Ilha do Diabo” e para o convívio com os demais presos, precisa de proteção física. Ele a compra na medida em que é capaz, através de suas capacidades, de falsificar tudo. O produto de seus crimes continua com sua esposa que, mediante sua autorização, administra o dinheiro e paga aos serviços de seus aliados.

E o mais importante deles é Papillon. A relação dos dois começa na toada comercial de contrato de serviços, mas logo extrapola, tornando-se em uma amizade para toda a vida. “Papillon” apresenta uma jornada maiúscula de vida, aventura, persistência e adaptabilidade a uma vida sob pressão e em situações extremas. Todos estes ingredientes bem dosados e ministrados no momento certo, fazem deste filme um clássico irresistível a qualquer audiência.

Steve McQueen

Em relação à técnica, é lícito citar a trilha sonora que ganhou bastante destaque naquele tempo – e prêmios, inclusive. O tema do longa foi indicado ao Oscar e é obra de Jerry Goldsmith, responsável por boa parte da trilha sonora de Jornada nas Estrelas e de “Allan Quatermain e a Cidade de Ouro Perdido”. É uma trilha leve e dramática que caiu no gosto do público e que você pode ouvir aqui.

Em termos de direção, a responsabilidade coube a Frankin J. Shaffner, que assina também filmes importantes como “Patton: Rebelde ou Herói?”, “Meninos do Brasil” e “Planeta dos Macacos”, o original, dos anos 1960 e com Charlton Heston no elenco. Shaffner conduziu um filme com roteiro promissor e elenco espetacular a um bom termo, deu os contornos tão intensos da trajetória de Papillon de uma forma equilibrada e que faz do filme um clássico indisputável do cinema.

Dustin Hoffman e Steve McQueen em Papillon, 1973

“Papillon” é um filme de jornada. Uma história única, de uma prisão monstruosamente desumana e que realmente existiu. Conta a obceção de um homem pela ideia de liberdade e mostra que, a cada debacle, a cada passo em falso, a cada queda, ele volta e faz tudo de novo. Papillon resgata aqueles tipos de valores e qualidades que todas as pessoas, se não imaginam ter, adorariam poder ostentar: determinação, capacidade, vontade, força e persistência.

E ao evocar essas qualidades, de maneira convincente e bastante eficiente, o filme ressalta o que há de humano em nós, nos contrapondo com nossas incapacidades, defeitos e fraquezas. A história toda de “Papillon” é um convite às qualidades mencionadas no parágrafo anterior, mas é também um lembrete de que  nem todos as temos em doses industriais como o francês fujão que, e isso todos em maior ou menos grau compartilham com a personagem, viveu uma vida de obceção pela ideia e pelo usofruto da liberdade.
CRÉDITO DO TEXTO: Grandes filmes que eu vi



CARTAZES DO FILME














Papillon - 1973

SINOPSE
Um dos maiores clássicos do cinema de todos os tempos. A impressionante determinação de um homem em se libertar das grilhetas que o mantém preso por um crime que sempre declarou ser inocente. Steve McQueen é Henri Charriére, conhecido como Papillon. Acusado e condenado por homicídio tentou por várias vezes a sua sorte em arriscadas fugas, até finalmente conseguir. Dustin Hoffman é Dega, o seu parceiro de prisão. Um hino à coragem, determinação e disciplina e principalmente ao que um espírito verdadeiramente livre e indestrutível pode conseguir face a desafios terríveis.


ELENCO E FICHA TÉCNICA
Elenco: Steve McQueen, Dustin Hoffman, Victor Jory,  
Don Gordon e Anthony Zerbe
Genero: Drama, Biografia
Diretor: Franklin J. Schaffner
Roteiro: Dalton Trumbo e Lorenzo Semple Jr 
em adaptação ao livro de Henri Charrière
Música: Jerry Goldsmith
País e Ano: Estados Unidos - 1973




PRÊMIOS
 Uma indicação ao Oscar: melhor música original, e uma indicação ao Globo de Ouro para Steve McQueen, como melhor ator.

CURIOSIDADES
 Papillon existiu de verdade. Há relatos que dão conta de que teria de fato escapado e se estabelecido como próspero fazendeiro em algum lugar do norte do Brasil.